O metrô em Higienópolis e a cidade distante que não quero ver

A polêmica sobre a construção da estação de metrô em Higienópolis colocada na mídia na última semana e que felizmente terminou com o recuo do Governo do Estado quanto à decisão do local da estação evidenciou um aspecto da visão que uma pequena parcela da elite paulistana tem sobre os destinos da cidade.

Esta parcela que viaja para a Europa e para os EUA e volta reclamando do quanto o Brasil é subdesenvolvido não enxerga que na vida urbana uns dependem de outros e que a cidade para se desenvolver há que ser tratada com igualdade de direitos e de oportunidades.

O metrô em São Paulo tem que crescer. Seria uma grande conquista se fosse colocada uma meta para que as suas linhas dobrassem em quilometragem até a Copa do Mundo em 2014. Mesmo que não seja possível concluir mais 70 Km de linhas até lá, seria um desafio e tanto se o Governo do Estado se comprometesse com tal empreitada e deixasse como legado para a cidade a aproximação de bairros tão distantes como Higienópolis e Itaquera, física, socialmente e economicamente

Assim talvez a infelicidade de declarações preconceituosas como a referência a “pessoas diferenciadas” no entorno das estações passe a ser um constrangimento para quem as pronuncia.

O conceito de desenvolvimento a que me refiro significa construir uma nação que se orgulhe de seus trabalhadores e não que parcelas elitistas considerem que no “seu” espaço urbano, naquilo que se chama de “cidade”, os pobres, ou os trabalhadores não devem freqüentar.
Desenvolvimento significa democratizar a cidade e seus benefícios de trabalho, de lazer, de cultura, através do acesso, por meio do transporte público de qualidade. O metrô é sim uma obra de grande impacto e sua trama pela cidade deve oferecer muitas alternativas a seus usuários para que estes possam chegar diferentes destinos sem o cansaço dos grandes congestionamentos.

Parte da população de Higienópolis se ofendeu até de ser identificada com tão grande preconceito de uma parcela tão pequena, mas, é preciso ficar atento às manifestações de intolerância com a convivência entre pessoas de classes sociais diferentes. Este episódio acendeu uma luz sobre um pensamento retrógrado que ainda persiste em nossa sociedade e que já gerou debates e violências que não cabem mais no Brasil atual, onde as classes trabalhadoras ganham um novo protagonismo nas políticas públicas.


Arquiteta Rosana Helena Miranda
Profa. Dra. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.