Comissão visita preso político em São Gonçalo do Amarante
Representantes de diversas entidades visitaram no último domingo (03/04) Antonio Manoel Lopes na delegacia da cidade de São Gonçalo do Amarante, município-sede do porto do Pecém. “Lula”, nome que passou a ser chamado pelos trabalhadores, recebeu os visitantes e contou detalhes sobre sua prisão.
Publicado 05/04/2011 12:30 | Editado 04/03/2020 16:31
O ponto de encontro dos representantes das entidades foi o Liceu do Ceará (Jacarecanga), símbolo de tantas lutas dos estudantes cearense. Participaram da visita membros da Associação 64/68 Anistia; Instituto Frei Tito de Alencar; Associação do Movimento dos Povos do Mar do Pirambu (AMOR); Associação dos Moradores da Ocupação Terra Prometida; Associação dos Moradores do Conjunto Dom Helder Câmara; Movimento Crítica Radical; MST/CE; Rede Nacional de Advogados e Advogadas Popular além dos mandatos dos vereadores João Alfredo (Psol) e Acrísio Sena (PT); e representantes do Deputado Estadual Lula Morais (PCdoB) e do Deputado Federal Eudes Xavier (PT). A TV Pirambu registrou a visita.
A ação inicial da comitiva ficou limitada à realização da visita para prestar solidariedade ao trabalhador preso, caracterizá-lo como preso político e obter mais informações sobre os acontecimentos e a situação de Lula.
A visita aconteceu de forma tranqüila, no hall da delegacia e com a participação de todos. Cada membro da comitiva apresentou-se e manifestou a solidariedade da entidade/grupo que representava. Durante a visita ocorreu a coincidência de um telefonema de Dom Edmilson Cruz justificando sua ausência e ele falou por telefone com Antonio Manoel Lopes.
Lula agradeceu o apoio e expôs sobre os fatos que levaram à sua prisão. O trabalhador afirmou que não sofreu violência física na delegacia e destacou a angústia de estar preso, longe da família, além da expectativa de que o julgamento seja realizado o mais rápido possível. “Na ocasião fomos informados que há mais cinco mandatos de prisão contra outros cinco trabalhadores”, informa Mário Albuquerque, presidente da Associação 64/68 Anistia e membro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Antonio Manoel Lopes informou ainda os visitantes sobre as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores contratados nas obras do PAC no Pecém, a maioria sob contrato precário de trabalho (terceirizados) e oriundo de outros estados da região.
As obras empregam cerca seis mil trabalhadores de diversos estados como Maranhão, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí, vivendo em alojamentos precários – sem ar condicionado ou ventiladores e com poucos banheiros. A alimentação é outro ponto de queixa do trabalhador. “Ele nos informou que os trabalhadores demoram cerca de quarenta minutos para receber a alimentação. Num intervalo de duas horas, sobra pouco tempo para o descanso”, considera José Augusto Meneses, representante do mandado do Deputado Estadual Lula Morais, que também participou do encontro. Além dos problemas ditos, Antonio Manoel Lopes também enumerou outras questões de ordem trabalhista e salarial, como pouco tempo de folga para os trabalhadores visitarem as famílias.
Encaminhamentos
Ao final da visita, foi marcado um novo encontro para debater a situação de Lula. A reunião de avaliação sobre o preso político será nesta terça-feira (05/04) a partir das 15h, na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará. A partir deste encontro serão definidos os próximos passos sobre a crítica situação de Antonio Manoel Lopes.
Entenda o caso
Antonio Lopes foi indiciado por ser apontado como um dos líderes do incêndio no alojamento da Enesa, responsável pelo canteiro de obras da Termelétrica Energia Pecém (UTE-Pecém). O incêndio ocorreu no dia 15 do mês passado.
O delegado Cleófilo Rodrigues Aragão – que pediu a prisão de Lula -, informou que o inquérito já foi entregue à Justiça. Além de ter sido indiciado por suposta participação no incêndio, ele poderá responder por formação de quadrilha e por suspensão ou abandono coletivo de trabalho.
A prisão preventiva de Antonio Lopes, segundo o delegado, se deu para se manter “a ordem pública”. Além disso, de acordo com Cleófilo Aragão, “as testemunhas se sentiram ameaçadas. A ordem no município foi afetada”, disse.
Lula é natural de São Luiz (MA) e está há cerca de dois meses no Ceará. Morava no alojamento que foi incendiado. “Foi apenas uma denúncia. Não tem uma testemunha de que foi ele que ateou fogo. Consta no inquérito que foi preso em flagrante, mas foi preso sete dias depois do incêndio”, defendeu Raimundo Nonato Gomes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem em Geral no Estado do Ceará (Sintepav-CE).
Antonio Lopes morava no alojamento incendiado. Diz não saber do seu futuro. Afirma querer continuar trabalhando. Deverá ser demitido. Não é sindicalizado, mas demonstrou liderança com os trabalhadores.
De Fortaleza,
Carolina Campos (com informações da Associação 64/68 Anistia e do jornal O Povo)
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