Daniel Iliescu: A Jornada de Lutas e o Plano Nacional de Educação
Nos últimos dias diversas cidades brasileiras vivenciaram uma rica situação: estudantes ocupando universidades, escolas e ruas, organizando debates, atos e passeatas e chamando a atenção de toda a sociedade para o debate do Plano Nacional de Educação 2011-2020.
Publicado 31/03/2011 19:24
por Daniel Iliescu *
A Campanha “Educação tem que ser 10” é da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e dos milhões de brasileiros que apostam na nossa gente e no nosso futuro.
Jovens de todo o Brasil, estudantes de universidades e escolas, compartilhando a incrível experiência de estarem ligado uns aos outros, nesta imensidão de interiores e litorais que é o Brasil, por uma ação comum expressando a indignação com as injustiças e irradiando a esperança e alegria dos que percebem que a história é construída a várias mãos.
O Brasil ganha nova oportunidade histórica com a discussão sobre metas e diretrizes de sua política educacional para uma década que se abre marcada por expectativas de crescimento econômico e transformações sociais. No horizonte de toda uma geração à frente do país, a possibilidade de firmar passo em um caminho de desenvolvimento nacional com distribuição de renda e avanços democráticos que leve o Brasil a desempenhar seu papel de liderança em defesa da paz e da justiça social no mundo.
O Brasil acaba de ultrapassar a Itália tornando-se a sétima economia do mundo e, segundo projeções de diversos organismos econômicos, nesta década ultrapassará França e Inglaterra, chegando em 2020 à condição de nação com o quinto maior PIB do planeta. No entanto, o Brasil ocupa atualmente a 88º posição no ranking de Educação da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco) – com base em índice elaborado na Conferência Mundial de Educação de 2000 em Dakar.
A qualidade da educação que o Brasil oferece aos brasileiros, apesar dos muitos avanços recentes, é absolutamente desproporcional em relação às nossas possibilidades. O Brasil ainda não conseguiu ultrapassar a marca dos 5% do PIB investidos em Educação. A presidente Dilma comprometeu-se em atingir 7% até 2014 e o Congresso deve aprovar chegar ao mínimo de 10% em 2020, estipulando estratégias sérias e consistentes para tal fim como a vinculação de 50% do Fundo Social do Pré-Sal para o desenvolvimento da educação brasileira.
Dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios sobre a Educação no Brasil revela uma população com ainda 14,1 milhões de analfabetos contrastando com os 6,5 milhões de brasileiros cursando o ensino superior. Os professores da Educação Infantil e do Ensino Básico ocupam a base da escala de remuneração entre as categorias profissionais do país, segundo estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A sociedade brasileira deve refletir sobre estas contradições grosseiras que podem e devem ser superadas, tendo na aprovação do novo PNE 2011-2020 um importante instrumento se o Congresso Nacional ousar enfrentar as desigualdades que limitam as realizações de um povo disposto e capaz como o brasileiro. E se ousar enfrentar os interesses daqueles que ganham e se enriquecem com o desperdício da inteligência de milhões.
O Brasil não tem o direito de pensar pequeno em termos de Educação. E os estudantes estão atentos e se movimentam para construir hoje o Brasil do amanhã. Ao longo deste ano o Poder público e a sociedade brasileira serão desafiados a tratar a educação do país à altura do que nosso povo merece e precisa. A ação dos estudantes quer chamar atenção para isso.
Nas águas de março que fecharam o verão de 2011 a Jornada de Lutas do movimento estudantil é promessa de vida no coração Brasil, como uma enxurrada de sonhos ou como a fonte da juventude lembrando que a UNE é, e sempre foi e será, energia viva e criativa do país, provocando e contagiando a sociedade a avançar e construir o novo.
*Daniel Iliescu é diretor de Relações Internacionais da UNE