Porto Alegre, até onde vai a intolerância?

Leia abaixo artigo escrito pela deputada federal Manuela Manuela d`Ávila e publicado na edição de 2/3 do Jornal do Comércio: 

Vimos, na semana passada, dois casos preocupantes, em um dos bairros mais tradicionais de Porto Alegre. Os principais alvos dos dois incidentes foram cidadãos de bem que, sem justificativa, sofreram com a intolerância injustificável de poucos.

O primeiro caso é de um bar na Cidade Baixa, bairro marcado por uma grande bandeira: a da diversidade. Enquanto a Justiça de muitos países do mundo garante leis que incluem essa nova realidade, Porto Alegre parece retroceder. A liberdade de expressão não pode, jamais, ser diminuída por atos de preconceito como a homofobia. Na Cidade Baixa, ainda, vimos uma cena horrível, de violência gratuita. Um motorista atropelou dezenas de ciclistas que, pacífica e comumente, andavam pela José do Patrocínio.

Não cabe a nós julgarmos tais fatos. Mas podemos questionar as medidas que foram tomadas. Jogar um carro sobre dezenas de ciclistas e isso ser tratado como lesão corporal sem intenção parece absurdo. É, sim, um crime grave. Ainda mais se levarmos em consideração nosso Código de Trânsito, que prioriza os ciclistas nas ruas. Da mesma forma vejo os casos de preconceito com a comunidade LGBT.

Há tempos defendemos a implantação das ciclovias em nossa Capital. Não vemos, porém, ações que apontem nessa direção. Talvez agora, com esse episódio, os responsáveis repensem sua posição. Não precisamos de novas leis. Precisamos aplicar bem as que temos. Precisamos, mais que tudo, respeitar o direito de cada cidadão.

Porto Alegre não pode ser vista como uma cidade preconceituosa e atrasada. Nossa história não é essa. Temos que retomar o caminho certo. Por isso, defendo as ciclovias e a criminalização da homofobia (mais uma forma pura de preconceito). Isso significa, em outras palavras, reafirmar que defendo um direito fundamental de todos: a liberdade.

Temos um grande evento esportivo pela frente. Os olhos do mundo estarão voltados para cá. Pergunto, então, às pessoas que protagonizaram os dois casos: é essa Porto Alegre que vocês querem para si e que desejam dividir com o mundo? Porto Alegre é mais, muito mais do que isso tudo. Precisamos de ações urgentes.

Artigo publicado no Jornal do Comércio (02/03/2011)