Luta de Dom Erwin na Amazônia é premiada

O bispo da prelazia do Xingu, Dom Erwin Kräutler, recebeu ontem à noite, em Estocolmo, na sede do parlamento sueco, o prêmio Right Livelihood Award 2010. O prêmio, também conhecido como “A maneira certa de viver”, é considerado um “Nobel” alternativo.

É entregue todos os anos pela fundação que tem o mesmo nome (Right Livelihood Prize) da premiação àqueles que lutam por uma sociedade melhor, justa e mais igualitária. A escolha é uma grande homenagem a Dom Erwim, que tem toda sua vida dedicada à Igreja e para o bem dos índios da Amazônia.

A dedicação de Dom Erwin na luta em favor dos direitos humanos e ambientais da população indígena e o empenho para salvar a floresta amazônica da destruição foram as motivações do Right Livelihood Award para a escolha. “Se a Amazônia está ameaçada, o mundo inteiro está”, destacou Dom Erwin Kräutler, durante visita aos bispos brasileitos este ano.

Nascido na Áustria, missionário do Preciosíssimo Sangue, Erwin Kräutler veio para a Amazônia enquanto ainda era seminarista. Hoje, aos 71 anos, é bispo do maior prelado brasileiro e um dos líderes do movimento contra a construção da hidrelértrica de Belo Monte, na chamada Volta Grande do Xingu, em Altamira (PA).

“Hoje, a situação é cada vez mais difícil. Muitas pessoas que antes defendiam a nossa causa, os direitos dos índios, agora não o fazem mais, e isso é muito triste”, destacou Dom Erwin. Segundo ele, o motivo são os interesses economicos. “Muitos políticos da região amazônica não têm prespectiva, olham apenas onde podem ganhar dinheiro, sem nenhuma preocupação quanto ao futuro. Vêem o desenvolvimento unicamente como lucro, como ganhar dinheiro”, enfatizou.

Dom Erwin Kräutler destaca ainda o esquecimento dos valores familiares e educacionais por parte das autoridades e a busca desenfreada por dinheiro, que deixa o ser humano em último plano.“Parece que este projeto de fazer dinheiro é o verdadeiro sujeito da história, e não o ser humano. Se um homem se opõe a esse projeto, deve ser eliminado. Assim acontece com os índios e indefesos. Sobre esse ponto, sou muito intransigente. Os índios têm direito ao seu ambiente, a sua vida, a seu habitat, e isso está escrito na Constituição brasileira”, ressaltou o bispo.

Perseguição – Assim como a missionária americana Dorothy Stang, morta há cinco anos, Dom Erwin é perseguido, revela o diretor da Pontifícia Obra Missionária no Brasil, Daniel Lagni. “A razão é que ele carrega uma bandeira que não é pessoal, mas representa uma causa social, a defesa dos mais pequenos, dos pobres da amazônia”, disse o diretor, lembrando que esta não é uma luta política, mas uma proposta evangélica “junto aos indefesos”.

Dom Erwin Kräutler presidiu por dois mandatos o Conselho Missionário Nacional (Comina) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Por sua luta, é muito respeitado e ouvido pelo episcopado brasileiro. Segundo a Presidência da CNBB, o prêmio faz justiça a este “grande pastorprofeta que honra a Igreja no Brasil e a CNBB. Admirado por sua profunda espiritualidade e vasta cultura, Dom Erwin fez da opção pelos pobres a marca de seu ministério episcopal e de sua vida, comprometido de forma especial com a defesa dos povos indígenas, dos que têm seus direitos negados ou desrespeitados e com a preservação da natureza, especialmente na Amazônia”, destacou a CNBB, em nota.

Fonte: O Liberal