O inimigo de Senna sempre foi o sistema da F1, diz irmã do piloto

Após 16 anos da morte do piloto Ayrton Senna, rever sua história ainda implica em emoção. E é esse sentimento que o documentário Senna, piloto brasileiro – e ídolo mundial, está provocando no público. Mas um dos focos do filme está na luta de Ayrton contra o sistema político e as “panelinhas” que dominam o esporte. “O inimigo dele sempre foi o sistema da F1”, afirma Viviane Senna, irmã mais velha do piloto.

 

Um dos principais trunfos do filme Senna é o uso de imagens ainda inéditas. “Não queria usar imagens que todo mundo tinha visto na TV”, afirma o diretor Asif Kapadia. Kapadia é britânico, assim como o produtor James Gay-Rees e a empresa por trás do filme, Working Title. Mas por que ter um cineasta gringo no comando da história de um brasileiro?

Senna foi possível por conta do roteiro de Manish Pandey, fã de F1 e admirador do nosso piloto. Além da internacionalidade da fama de Ayrton, Viviane afirma que esta foi a equipe com a qual encontrou melhor afinidade para contar a vida de seu irmão: “Desde o primeiro encontro, discutindo o projeto, eles tinham o espírito certo e sabiam o que era o Ayrton. Eles souberam como traduzir.”

Ayrton Senna foi cotado, inclusive, a ter um filme fictício protagonizado por Antonio Banderas, mas a ideia foi abandonada porque a Warner Bros, que já tinha fechado contrato para o filme, não acreditava que um ídolo da Fórmula 1 levaria os americanos aos cinemas. Afinal, o esporte não está entre os mais populares nos EUA, assim como futebol americano, beisebol e basquetebol.

O documentário foi montado com imagens arquivadas em outros países e com gravações caseiras cedidas pela família Senna. Com isso em mãos, Kapadia começou o trabalho de direção e edição, que influenciaram – e mudaram – o roteiro inicial de Pandey. Ele contou que todo o processo (roteiro, direção e montagem) aconteceu simultaneamente e as gravações tiveram influencia direta na condução da narrativa.

Senna dispensa o uso de entrevistas e depoimentos, em vez disso, deixa que as imagens de entrevistas do piloto contem a história, mostrando-o sério, competitivo, irritado, preocupado, descontraído, emocionado e alegre. Nesta linguagem escolhida por Kapadia está o ganho de Senna, que intensifica outro destaque do documentário, a relação entre Senna e Prost.

Ayrton Senna X Alain Prost

Ayrton Senna teve um grande rival, o piloto francês Alain Prost. O documentário mostra quando eles se tornaram companheiros na McLaren, em 1988, e a conturbada relação entre eles por conta da disputa pelo título de melhor piloto.

O ritmo de Senna chega ao ponto máximo com o uso da narrativa de ficção e colocando o formato protagonista (Senna) e antagonista (Prost) em cena. Outro ganho é com as entrevistas feitas no calor dos acontecimentos, que dá frescor e sinceridade nas declarações. “Senna acha que, por acreditar em Deus, ele seja imortal”, essa frase, dita por Prost, provavelmente se perderia se ele falasse sobre Senna nos dias atuais.

Coordenado com base nas imagens, o documentário peca na explicação de parte da história: como foi a virada na relação entre Prost e Senna que, depois da aposentadoria do primeiro, amenizou a agressividade criada pela competição? “Esse foi um dos problemas encontrados, pois não tínhamos cenas que mostrassem isso”, admite Kapadia.

Em um momento, Prost exige, em contrato, que a Williams não contratasse Senna como segundo piloto enquanto ele estivesse lá. Em seguida, os dois estão lado a lado, sorrindo, e Prost chora no velório de Senna.  O buraco causa confusão no espectador.

Muitas imagens inéditas ainda ficaram de fora de Senna. O diretor comentou que tem planos de lançar um material em versão estendida e brincou: “Como a gente sabe que o pessoal vai ao cinema, quem sabe não tenhamos dinheiro para fazer uma sequência?”. Com 120 cópias, Senna chegou aos cinemas em 12 de novembro de 2010. O filme já estreou no Japão e deve ser exibido em outros países.

Fonte: cineclick.

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