Ipea sugere ‘ousadia e atrevimento’ para desenvolver o país
“O Brasil não mais aceita ser liderado. Pretende contribuir para o novo projeto de desenvolvimento mundial, multipolar e compatível com a repartição justa da riqueza e a sustentação do planeta para as novas gerações”, disse o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, na abertura da 1a Conferência de Desenvolvimento, nesta quarta-feira (24), em Brasília.
Publicado 24/11/2010 18:59
O presidente do Ipea e os demais oradores destacaram a necessidade do planejamento para garantir o desenvolvimento do país, com forte atuação do Estado e a participação popular na discussão dos objetivos.
Em um discurso permeado por palavras de estímulo, como ousadia e atrevimento, Pochmann afirmou que o planejamento do desenvolvimento exige sabedoria para enfrentar questões que nos conectam ao passado e que nos ligam ao futuro. Para ele, só o que impede o Brasil de mudar é o medo. “Esperamos que a Code nos afaste do medo e que, pela rebeldia, nós caminhemos mais rápido para o Brasil do futuro”.
O presidente do Ipea apontou razões para o fato de o Brasil não ser, ainda, um país desenvolvido. “Três vetores nos ajudam a entender o atraso no nosso desenvolvimento: o fato de o Brasil não ter cultura democrática, a demora na transição para uma sociedade urbana e industrial e a inversão na trajetória dos direitos sociais, que, no Brasil, vieram antes dos direitos políticos”.
E incentivou ao público, formado em grande parte por jovens, que “é hora do exercício da grande arte da política pública que garante acesso as oportunidades. A persistência é o caminho do sucesso. Não devemos ter medo do choque porque até os planetas se chocam”, fazendo em seguida críticas à política neoliberal que fez dos pobres as maiores vítimas do processo econômico regressivo.
Sociedade superior
O Presidente do Ipea citou os avanços econômicos, sociais e ambientais dos oito anos do Governo lula e, sobre o futuro governo da presidente eleita Dilma Roussef, disse que “não é mais do mesmo, mas possibilidade de radicalização das perspectivas de uma sociedade superior, um novo patamar de desenvolvimento humano integral.”, garantiu.
Para o futuro, ele avalia que o Brasil tem oportunidade inédita de independência, “com novo código de trabalho com educação para toda vida, postergação da entrada no mercado de trabalho para após o nível superior e mais tempo no mercado de trabalho com perspectiva de vida de mais de 100 anos.”
E, agradecendo a todos os funcionários do Ipea e demais ministérios que colaboraram com a realização do evento, destacou que foram a “paixão e ousadia” que nortearam a realização da Code, em pleno coração do Brasil, na Esplanada dos Ministérios.
Para ele, a Code demonstra que definir rumos da nação não é atribuição só de especialistas. “O triunfo das decisões pertence ao atrevimento das gerações dos brasileiros que não se afastam do campo das possibilidades”, disse, destacando os sucessos das conferências nacionais como riqueza da democracia, que garante mais elaboração e monitoramento das políticas públicas.
“Por um Brasil, desenvolvido, viva a Code, viva o povo brasileiro”. Com as palavras de ordem, Pochmann encerrou seus discursos, inflamando a platéia.
O fundador do Ipea e membro do Conselho de Orientação do Instituto, João Paulo dos Reis Velloso, falou pouco, destacando o significado do evento: “Estamos aqui para pensar o Brasil. Ele é nosso. Essa terra tem dono”, resumiu.
Necessidade básica
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, presente ao evento, falou sobre a importância de incluir a cultura como questão estratégia do desenvolvimento. Ele lembrou que foi somente no primeiro Governo Lula que o Ipea junto com o IBGE fizeram a primeira pesquisa de levantamentos de dados sobre a cultura brasileira e os dados apurados são assustadores: apenas 5% da população brasileira entrou em um museu, somente 13% vão ao cinema com regularidade, 17% compram livros e o hábito de leitura é o mais baixo no continente, de 1,7 livro per capita/ano.
“Os números mostram exclusão cultural do Brasil e a cultura é o que nos diferencia de todos os demais animais”, explicou o ministro, afirmando que portanto é um direito de todo brasileiro e se é direito, o Estado deve garantir esse direito”, defendendo o acesso aos bens culturais como necessidade básica da população, junto com educação saúde, moradia.
Planejamento do Estado
Para o ministro Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, também presente ao evento, o Brasil é um país subdesenvolvido e tem como desafio garantir desenvolvimento para a população e diminuir a distância para as outras nações. E alertou que, para isso, “é preciso investir na produção, não só de bens físicos mas de bens imateriais, como educação, que depende de investimento em escolas, professores; segundo é distribuir a renda, com reformas de base, desde a reforma agrária, urbana até a do capital, que é o que vai modificar estrutura da distribuição de renda.”
Segundo ele ainda, “é preciso integrar o território com construção de estradas para melhor funcionamento, dentro de um contexto de preocupação com as gerações futuras, sem exploração predatória dos recursos naturais”. E elogiou a realização da conferência que contribui para a construção de um sociedade verdadeiramente democrática, que participa diretamente na só da escolha dos seus representantes políticos, mas da fiscalização do seu desempenho e apresenta sugestões para serem transformadas em programas de governo.
“A conferência se coloca no quadro geral das demais conferências que são forma de participação da sociedade que pode vencer o subdesenvolvimento com o planejamento”, afirmou, fazendo críticas aos países centrais que permitem que só o mercado planeje e decida a aplicação de recursos. E defendeu a necessidade de o estado também se planejar para garantir desenvolvimento para todos.
Aberta a toda sociedade
O evento, que acontece até a próxima sexta-feira (26), em Brasília, vai promover um amplo debate entre os diversos setores do governo e da sociedade civil em torno das estratégias de desenvolvimento adotadas pelo país. A programação inclui um total de nove painéis temáticos e 88 oficinas, além do lançamento de livros, exposições e apresentações artísticas e culturais, abertas ao público.
Aberta a toda a sociedade, a Conferência acontece no canteiro central da Esplanada dos Ministérios, em frente à Catedral de Brasília. Estarão presentes conselheiros de orientação do Ipea, diretores e técnicos de planejamento e pesquisa do Instituto, além de acadêmicos e autoridades de todas as regiões do país.
De Brasília
Márcia Xavier