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PCdoB propõe nitidez programática para transição de governo

A preparação do processo de transição do governo de Lula para o de Dilma Rousseff e o estabelecimento de um programa de governo com prioridades imediatas foram alguns dos pontos debatidos pela Comissão Política Nacional do PCdoB em reunião nesta sexta-feira (5) em São Paulo. Na avaliação do presidente do partido, Renato Rabelo, é preciso haver clareza nessas propostas, principalmente tendo em vista o enfrentamento da guerra cambial desencadeada pelos Estados Unidos.

 
Renato Rabelo e a presidente do PCdoB-SP, Nádia Campeão, durante reunião da CPN  

O dirigente nacional do PCdoB analisou o contexto que levou à aplicação desse receituário pelos EUA, provocando reações mundo afora, principalmente por parte da China e economias emergentes. Diante dos catastróficos reflexos da crise mundial em terras estadunidenses – gerando baixo e lento crescimento, desemprego recorde de 10%, déficit público etc. – a população reagiu pela via conservadora, elegendo maioria republicana para o parlamento, em claro sinal de repúdio à política de Barack Obama.

Do lado oposto, economias emergentes conseguiram ter melhores resultados diante da crise. Brasil, Índia e Rússia devem ter crescimento de 7% neste ano, enquanto a China se consolida como segunda potência da economia mundial. “Foi neste contexto que os EUA resolveram, unilateralmente, travar uma guerra cambial para superar seus déficits, jogando a fatura para os emergentes. A China manteve o yuan desvalorizado em 40% em relação ao dólar, enquanto o real manteve-se valorizado em 20%, o que é um absurdo porque resulta em perda de competitividade do país ”, assinalou Rabelo.

Para o presidente, é preciso uma tomada de decisão em curto prazo, aproveitando as boas condições econômicas e sociais que o Brasil vive. “A resolução desse problema em nível mundial depende também da disputa de hegemonia; as grandes potências vão impor seu diktat e o Brasil precisa travar uma luta no front interno para enfrentar essa situação, o que está sendo discutido na transição”, constatou.

O desafio de Dilma, segundo ele, será enfrentar a questão cambial e a diminuição dos juros, “que precisam estar no nível dos demais países em desenvolvimento porque se for mantida esta situação, corremos o risco de o país de desindustrializar”.

Outras questões que Renato Rabelo vê como fundamentais para serem tratadas com celeridade são a postura diante do debate sobre corte de gastos, defendida pela oposição, a proposta para a exploração do pré-sal; a garantia de aumento real do salário mínimo já em 2011 e a volta da CPMF para financiar a saúde, “um atalho para a reforma tributária progressiva, de maneira que aqueles que têm mais paguem também mais impostos”.

Nitidez programática

 
Dilma não pode ser mera continuidade de Lula, diz Rabelo  

Do ponto de vista do novo governo, Renato Rabelo diz que “a ideia de que todos os setores ganham com o governo tem limites no tempo histórico e nas condições objetivas da sociedade brasileira. É inevitável que ocorram embates políticos e sociais de grande envergadura”. Por isso, a administração de Dilma Rousseff “não pode ser a mera continuidade de Lula; precisa dar passos adiante e aprofundar as mudanças”. É necessário, portanto, dar nitidez ao projeto que serviu de base para sua eleição. “Nesse processo, a balança deve pender a favor da maioria da população, para aqueles que trabalham e produzem e isso não acontecerá sem que ocorram embates sociais”, ressaltou Rabelo.

Com relação à formação do novo governo, Renato Rabelo enfatizou a necessidade de o PCdoB “assumir maiores responsabilidades”, dada sua participação tanto nas eleições quanto nas duas administrações de Lula. “Alguns de nossos principais quadros participaram do governo ou contribuíram diretamente com ela ocupando posições importantes no Congresso”, disse. Rabelo referia-se em especial à primeira liderança do governo na Câmara, ao primeiro ministro de Relações Institucionais e mais tarde, à presidência da Casa, cargos exercidos por Aldo Rebelo; a montagem e construção do Ministério do Esporte, primeiro com Agnelo Queiroz e depois com Orlando Silva, e contribuições nas áreas de petróleo, ciência e tecnologia, cultura, mulheres, juventude, igualdade racial e direitos humanos.

Segundo turno

Na primeira reunião realizada após o segundo turno, a Comissão Política Nacional também avaliou o segundo turno das eleições presidenciais. De acordo com Renato Rabelo, “a vitória de Dilma foi a maior que o povo obteve na eleição de 2010”. Trata-se de “uma conquista de caráter estratégico que marca a terceira vitória consecutiva de um mesmo projeto de nação. O Brasil adentra esta fase em melhores condições políticas, econômicas e sociais, sendo cada vez mais respeitado internacionalmente”.

Tal vitória foi resultado de um processo eleitoral marcado por uma das campanhas mais “odientas e ferozes de nossa história, encampada pela santa aliança entre forças obscurantistas e atrasadas casadas com a mídia hegemônica”, enfatizou. “Lula foi o grande artífice da candidatura de Dilma, mas a mesma obteve êxito também por ter sido lastreada pela população, que queria a continuidade, e por ter conseguido apoio de ampla aliança de partidos, movimentos e lideranças da sociedade”.

Ainda no primeiro turno, a oposição, diante da clareza de que a disputa deste ano teria caráter plebiscitário, procurou diminuir o peso da transferência de voto do presidente e inviabilizar a comparação entre os governos Lula e FHC, despolitizando o debate. “Serra tentou esconder FHC e se colocar como o candidato de currículo mais qualificado, mas a maioria do povo não se deixou seduzir por essa artimanha porque preferiu dar continuidade ao governo que está dando certo. A candidatura Serra se perdeu”, apontou Rabelo.

 
  O Brasil que sai desta disputa “é outro”, diz Rabelo diante da CPN

De acordo com o dirigente, as eleições deste ano “consumaram um sistema de oposição que procurou projetar Marina Silva, reforçar José Serra e satanizar Dilma Rousseff através de uma campanha subterrânea”.

Renato Rabelo também ressaltou que a ida da disputa ao segundo turno deveu-se também a uma “postura olímpica” da coordenação da campanha de Dilma, que subestimou a oposição. Nesse contexto, a direita chegou ao segundo turno e alçou Serra à posição de “vencedor” e Dilma à de “perdedora”.

No segundo turno, Serra investiu em três frentes: política, colocando-se como o candidato capaz de unir o Brasil acima das injunções políticas; social, oferecendo bônus para o salário mínimo, aumento de 10% aos aposentados e 13º para o Bolsa Família, e moral, investindo contra Dilma com base em mentiras e preconceitos.

Para o presidente do PCdoB, “a batalha não se resumiu à disputa entre dois projetos; ela foi além e delimitou dois campos político-ideológicos: de um lado, o setor progressista, popular e de esquerda; de outro, o setor atrasado, obscurantista, de extrema-direita, baseado principalmente no estado de São Paulo. Serra foi o escoadouro deste conjunto de forças”. O Brasil que sai desta disputa, conforme colocou, “é outro” e “a oposição terá dificuldade de se recompor, diante, inclusive, de brigas internas entre Minas e São Paulo”.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte