Sem categoria

País tem déficit comercial de US$ 265 milhões na 3ª semana do mês

A terceira semana de outubro foi marcada por um déficit de US$ 265 milhões na balança comercial. O resultado contrasta com aquele apurado nas duas outras semanas do mês. Foram apurados superávit de US$ 335 milhões na semana inicial de outubro e de US$ 1,342 bilhão no período compreendido pelos dias 4 a 10. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O déficit comercial registrado entre os dias 11 e 17, com quatro dias úteis, foi resultado de exportações de US$ 3,018 bilhões, média diária de US$ 754,5 milhões, e importações de US$ 3,283 bilhões, média de US$ 820,8 milhões por dia útil. Nas três primeiras semanas de outubro, houve superávit comercial de US$ 1,412 bilhão, decorrente de vendas externas de US$ 9,191 bilhões e compras de US$ 7,779 bilhões.

Guerra cambial

O comportamento da balança comercial reflete um crescimento das importações em ritmo superior ao das exportações. O grande vilão do déficit é a persistente queda do dólar frente ao real e a outras moedas do mundo, num movimento que traduz o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de guerra cambial.

O enfraquecimento do dólar é provocado pela resposta do Estado norte-americano à crise iniciada em dezembro de 2008, que ainda não foi superada na maior economia capitalista do mundo. Para estimular a economia, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) e o governo Barack Obama derramaram trilhões de dólares na economia.

Manipulação

Boa parte do dinheiro emitido vazou para o exterior com os bancos e grandes investidores levantando dinheiro a custo zero nos EUA e especulando no exterior com taxas de juros, ações e títulos. Isto está inundando o mundo de dólares e derrubando o valor das verdinhas em vários países, o que levou o Prêmio Nobel de Economia Josefh Stiglitz a acusar o Estado norte-americano de promover a manipulação cambial que Washington gosta de atribuir à China.

O Brasil, que se dá ao luxo do câmbio flutuante e é excessivamente liberal com o capital estrangeiro, tornou-se uma das principais vítimas desta manipulação. O capital estrangeiro flui em grande volume para a economia nacional e os efeitos deste fluxo são contraditórios e predominantemente negativos.

Efeitos contraditórios

Os recursos provenientes do exterior financiam o crescente déficit em conta corrente, permitem ampliar as reservas e contribuem em certa medida (através basicamente dos investimentos diretos) para a elevação da taxa de crescimento, amenizando os impactos das remessas de lucros, dividendos e juros promovidas pelas transnacionais a favor das respectivas matrizes.

Ao mesmo tempo, os investimentos realizados por capitalistas estrangeiros aumentam o passivo externo do Brasil e as remessas para o exterior de valores produzidos por aqui, em detrimento das taxas de investimento e consumo domésticos. Também pressionam o mercado de moedas, depreciando o dólar e valorizando o real, no seu efeito mais criticado, uma vez que encarece e desestimula as exportações enquanto barateia e incentiva as importações. Daí o déficit comercial.

Para perceber com maior objetividade os impactos contraditórios das flutuações do câmbio, é necessário acrescentar que a queda do dólar também beneficia de imediato a classe trabalhadora, pois aumenta o poder aquisitivo dos salários e reduz o preço de mercadorias importadas, freando a inflação, o que se verifica hoje especialmente no ramo de eletroeletrônicos. Além disto, também reduz o valor real (e em reais) da dívida externa.

Doença holandesa

O déficit não é um problema apenas para as contas externas, que tendem a se deteriorar com o aumento do rombo nas contas correntes, que em passado recente acabou em sérias crises e acordos draconianos com o FMI, certamente terá repercussões negativas em médio e longo prazo.

Tão ou quem sabe ainda mais nociva para a indústria nacional é a repercussão desta valorização sobre as empresas que produzem para exportar. Com o câmbio apreciado, elas deixam de ter estímulo para crescer, o que pode levar a um processo de desindustrialização (relativa ou absoluta) conhecida como “doença holandesa”.

Alta tecnologia

O real alto causa expressiva deterioração na qualidade da balança comercial da indústria brasileira nos últimos anos. O balanço entre exportação e importação de manufaturados deve fechar com déficit de 59 bilhões de dólares, segundo estimativas da Fiesp, com um aumento significativo em relação ao resultado verificado no ano passado (-US$ 36,5 bilhões).

A questão torna-se mais crítica quando se verifica o comportamento do comércio de produtos de alta e médio-alta tecnologia. Neste caso, o rombo deve subir a 75 bilhões de dólares, segundo estimativas da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).

Divisão do trabalho

Tudo isto é muito negativo em matéria de divisão internacional do trabalho, pois significa que produção, emprego, renda e desenvolvimento na fronteira tecnológica estão sendo estimulados e concentrados no exterior, enquanto por aqui nos contentamos com a produção de commodities.

O governo não está alheio ao problema. Mostrou isto, uma vez mais, ao elevar para 4% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre o lucro dos investimentos externos de curto prazo, em títulos de renda fixa e outras modalidades. Mas a realidade sugere que a medida é tímida e não vai surtir os efeitos desejados.

O exemplo da China

A taxa de juros nas alturas, a liberalidade com o fluxo de capitais estrangeiros e o câmbio flutuante, em associação com as políticas monetária e fiscal dos EUA, constituem na atualidade as principais causas da queda do dólar e valorização do real.

A China não padece da mesma doença (que não é só holandesa) simplesmente porque mantém o câmbio e o capital estrangeiro sob controle, em confronto com os EUA e o FMI, e pratica uma taxa de juros mais civilizada. Por que o Brasil não pode seguir o mesmo caminho?

Da redação, Umberto Martins, com agências