Cristina Kirchner defende integração de países latino-americanos
A presidente argentina Cristina Kirchner recebeu na noite desta quinta-feira (19) uma delegação do Foro de São Paulo, que realiza na capital portenha o seu 16º Encontro, no marco das celebrações do 20º aniversário de fundação do Foro. A audiência transcorreu na Casa Rosada, palácio presidencial, no Salão das Mulheres Argentinas. O espaço é uma homenagem, feita pela atual presidente, às mulheres que dedicaram suas vidas ao país, nos mais diversos campos de atuação.
Publicado 20/08/2010 10:25
Ao final da audiência as delegações dos partidos de esquerda visitaram outro espaço da Casa Rosada inaugurado por Cristina Kirchner, a Galeria dos Patriotas Latinoamericanos, com retratos dos grandes próceres das lutas pela independência da América Latina. Ali, entre outras insignes personalidades latino-americanas, figuram os retratos dos brasileiros Tiradentes e Getúlio Vargas.
O secretário executivo do Foro, Valter Pomar, informou sobre os debates realizados e as posições do Foro de São Paulo em defesa da integração latino-americana. O dirigente petista brasileiro homenageou Ana Maria Stuart, a saudosa Nani, argentina radicada no Brasil, que faleceu em 2008. Nani foi durante cerca de duas décadas a coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais do PT brasileiro e junto a Marco Aurélio Garcia coordenava as atividades do Foro.
O PCdoB, que participa do 16º Encontro, também esteve presente na audiência com a presidente, representado por Ricardo Abreu, secretário de Relações Internacionais, José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de Comunicação, e Ronaldo Carmona, da Comissão Internacional. Cristina Kirchner declarou que foi uma grande honra receber o Foro de São Paulo na Argentina, no ano do bicentenário da independência de seu país. A presidente manifestou sua vontade de compartilhar as reflexões sobre os 20 anos do Foro de São Paulo.
Nacionalismo popular
Reivindicando-se como integrante da corrente do nacionalismo popular, a presidente Cristina Kirchner disse que “a crise do neoliberalismo nos obriga a abrir a cabeça para interpretar, orientar e dirigir as mudanças que estão ocorrendo no mundo em função dos nossos objetivos históricos de melhorar a vida das pessoas”.
Cristina Kirchner informou os partidos presentes sobre uma das grandes conquistas de seu governo, que foi o enfrentamento da questão dos direitos humanos e do resgate da memória, da verdade e da justiça. Ela disse que quando assumiu o governo o tema não aparecia em nenhuma pesquisa e “parecia uma questão encerrada”. Hoje, graças à ação do governo em comum com os movimentos pelos direitos humanos, os responsáveis pelas torturas, desaparecimentos e assassinatos políticos estão sendo julgados, condenados e presos.
Na presença de Manuel Zelaya, presidente legítimo de Honduras, que também participou da solenidade, Cristina Krichner condenou mais uma vez o golpe no país centro-americano e criticou a mídia, dizendo que esta faz parte dos mecanismos de controle sobre a sociedade, citando a expressão do jornalista francês Ignácio Ramonet – “ferros mediáticos”.
Integração
A presidente da argentina referiu-se à conjuntura latino-americana como uma “situação única, inédita”, enfatizando a criação de mecanismos de integração e consulta entre os governos e que têm sido eficazes na solução de crises. Aludindo à recente crise entre a Colômbia e a Venezuela que Lula e Nestor Kirchner, este na condição de secretário-geral da Unasul, ajudaram a resolver, a presidente afirmou que antes, na ausência de tais mecanismos situações como estas teriam sido usadas como pretexto para intervenções militares.
Cristina Kirchner também comemorou a fase de crescimento econômico e ressaltou “a grande luta para melhorar a qualidade de vida das pessoas e distribuir renda”.
Para ela, seu governo e os governos democráticos e populares do continente estão realizando uma “grande batalha política, social e cultural e solidificando projetos de nação”. Afirmou ainda que os processos em curso no continente são diferentes entre si, mas têm em comum uma característica essencial – todos representam os interesses da maioria da sociedade.
Os partidos de esquerda ouviram da presidente argentina uma clara defesa da soberania nacional: “O fio condutor desse processo é a representação da maioria da sociedade e a defesa da nação. Antes os funcionários do FMI que monitoravam nossas economias vinham aqui como se fossem vices-reis. Hoje isso acabou”.
Cristina Kirchner fez digressões sobre a situação mundial, afirmando que “o mundo vive período de vertiginosas mudanças, um mundo multipolar, multicultural, multirreligioso, com novos atores, novos modelos multilaterais de organização econômica”. Defendeu a reforma das Nações Unidas, a democracia como único âmbito para realizar transformações e concluiu com uma enfática sentença: “É imprescindível que a América do Sul seja um território de paz”.
José Reinaldo, de Buenos Aires