Daniel Ilirian: Um Bolero para Ravel
Mesmo aqueles pouco afeitos à música clássica com certeza já ouviram trechos do famoso Bolero de Ravel. E antes que pensem que este que vos escreve ficou louco, não me esqueço que o compositor Maurice Ravel era francês, cuja terra natal protagonizou um dos maiores vexames da história das Copas e nada tem a ver com o inesquecível encerramento do evento no continente negro.
Por Daniel Ilirian
Publicado 14/07/2010 16:08
Mas como a gente já conhece o velho ensinamento de que as aparências enganam, é de saber que a música, das mais belas composições clássicas que humanidade já conheceu, nasceu do pedido de uma bailarina russa, que ao se reportar ao compositor mencionou a necessidade de que a peça tivesse características espanholas em sua elaboração e natureza. O Bolero de Ravel se originou assim para embelezar ainda mais o repertório clássico universal.
Pois se a França de Ravel nada ofereceu aos amantes do futebol nesta Copa do Mundo, a Fúria sobrou no torneio da FIFA mesmo após um início claudicante em que sua classificação esteve seriamente ameaçada. Os jogos mais marcantes foram sem dúvida os duelos contra alemães e holandeses.
O estilo de jogo espanhol já pôde ser visto durante a vitoriosa campanha na Eurocopa de 2008. Um futebol absolutamente envolvente, com troca de passes rápida, com toda a plasticidade que se espera de um espetáculo. Pois nesta Copa que se finda não foi diferente. É bem verdade que a Espanha sofreu para mostrar toda sua habilidade e talento, ainda mais que saiu perdendo logo na estréia para os suíços e depois precisou recuperar os pontos para garantir vaga na fase eliminatória.
Porém após duas partidas realmente dramáticas, contra os portugueses e paraguaios em que a Fúria não esteve bem, veio o duelo mais esperado contra a decantada Alemanha. Foi então que surgiu para todos os olhos o futebol-arte da Espanha. A Fúria simplesmente encurralou os alemães com seu refinado toque de bola e graças a um gol de cabeça do valente Puyol seguiu para a inédita final.
O encerramento da Copa foi premiado com a vitória do melhor futebol do mundo atualmente, que tem a capacidade de aliar a coletividade e técnica apuradíssima dos seus atletas. Xabi Alonso, Xavi, Iniesta e companhia, demonstraram a todos que existe sim futebol que sabe aliar beleza, competitividade e competência.
A Laranja, outrora mecânica, foi violenta e incapaz de resistir ao futebol que transcendeu finalmente a inegável competência clubística protagonizada por Barcelona e Real Madrid e subiu ao topo. A seleção espanhola mostrou ser tão qualificada quanto os rivais históricos, em que os elencos sempre recheados de estrangeiros deixavam para o mundo a imagem de que os nativos produzissem um futebol limitado.
A Espanha enfim superou todos os tabus e os seus torcedores irão comemorar como nunca, degustando paellas regadas a muito vinho. Um espetáculo que inspiraria Ravel mais uma vez.