Novo embaixador debate conjuntura de Bolívia e Brasil com PCdoB
Na última quinta-feira (8), em Brasília, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, e o secretário de Relações Internacionais, Ricardo Alemão Abreu, visitaram a embaixada da República da Bolívia, onde foram recebidos pelo embaixador José Alberto Gonzáles Samaniego. Uma viva troca de ideias e informações sobre seus respectivos países foi a tônica do encontro, onde cada parte procurou relatar a situação e as perspectivas políticas, econômicas e culturais de ambos os povos.
Publicado 09/07/2010 19:02
O presidente do PCdoB fez uma breve análise da situação política e social brasileira e contou como está transcorrendo o atual processo eleitoral no Brasil. Falou do confronto de programas entre os dois principais candidatos em luta nesta batalha eleitoral. Fez também uma avaliação das pesquisas eleitorais que fotografam o momento e projetam o desenvolvimento das curvas de intenção de voto. As últimas pesquisas revelam empate técnico entre os dois principais postulantes.
O candidato da oposição, José Serra (PSDB), disse Renato, é ainda o mais conhecido pela população, por já ter sido candidato à presidência e ter exercido funções públicas importantes como ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso e como prefeito e governador da cidade e do estado de São Paulo.
A candidata que se propõe continuadora de obra e do ciclo político inaugurado por Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff (PT), por sua vez, também foi ministra de governo, na área de Minas e Energia e depois como chefe da Casa Civil. Dos que dizem votar em Serra, entretanto, “65% faz uma boa avaliação do atual governo Lula, o que pode significar um bom espaço de crescimento potencial da candidata situacionista”, argumentou Renato.
Trajetória boliviana
O embaixador Gonzáles Samaniego – que já foi jornalista profissional em seu país e que chegou a trabalhar no principal conglomerado de comunicação, a Inatel – fez um breve relato da história recente da Bolívia.
Os índios Quíchuas e Aimarás foram dominados no século XV pelo império Inca, mas com a conquista espanhola, nas primeiras décadas do século XVI são escravizados para trabalhar nas minas de prata. Foi então que eclodiram as revoltas indígenas, no século XVIII. Em 1809, a região que hoje é a Bolívia – chamada de Alto Peru – é uma das primeiras colônias espanholas a se rebelar, conquistando a independência em 1825, sob a liderança de Simon Bolívar e Antonio José de Sucre. Bolívar, assim, foi o primeiro presidente da Bolívia, nome dado ao país em sua homenagem.
Depois transcorreu um período de guerras com grandes perdas humanas para a Bolívia, a exemplo da guerra do Pacífico (1879-1884) e da guerra do Chaco (1932-1935). Até que explodiu a Revolução de 1952 que coloca no poder o presidente eleito no período anterior, Victor Paz Estenssoro, cuja posse havia sido impedida pelos militares. Naquele momento, foi implantada a reforma agrária e a nacionalização das minas, o que provocou um boicote internacional ao estanho boliviano. Foi então instituído o sufrágio universal, porque os índios eram proibidos por lei de ter acesso a livros. Os que ousavam eram torturados e tornados cegos. Pela primeira vez na história os índios puderam votar como os outros cidadãos bolivianos. Golpes e contragolpes protagonizaram a cena política, até que em 2005 Evo Morales foi eleito presidente pelo Movimento ao Socialismo (MAS).
Nas últimas eleições gerais de dezembro passado, o presidente foi reeleito em primeiro turno com mais de 63% dos votos. O MAS passa a ter maioria no Legislativo, inclusive no Senado da República. Assim foi aberto o caminho para a consolidação das reformas lideradas por Evo.
O grande problema, segundo o embaixador boliviano, é que o antigo regime ainda não foi completamente extinto e o novo ainda não reuniu condições plenas de prosperar. Ou seja, a Bolívia vive uma fase de transição política, social e econômica, sem que o aparato produtivo possa fazer crescer o país de forma mais rápida e contínua. Mas, contudo, o embaixador está convencido que as velhas forças reacionárias não têm mais condições de retornar ao controle do governo boliviano. E, afinal de contas, disse ele, um país composto de 70% de população indígena não suporta mais um presidente sem identidade com essa enorme maioria.
Ao final da exposição do embaixador, o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, reiterou a importância destes contatos políticos com a Embaixada da Bolívia, propondo uma agenda de encontros e discussões temáticas até o final do ano.
De Brasília,
Pedro de Oliveira