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Sanções contra o Irã e a próxima guerra

Na sua História sobre as guerras do Peloponeso, Tucídides relata como Péricles, no século 5 antes da nossa era, impôs sanções econômicas contra a cidade de Megara, que havia se alinhado com Esparta. Atenas proibiu o comércio com esta cidade Estado e enviou uma mensagem: se Megara não desistisse da sua aliança com Esparta, seria castigada. Megara inflamou-se e exigiu a Esparta que desatasse a guerra. As hostilidades duraram 30 anos.

Por Alejandro Nadal, no La Jornada

A história das sanções econômicas e políticas para obrigar um país a mudar a sua conduta é longa, mas ensina que frequentemente conduzem ao fracasso. Não só não mudam a conduta dos estados sancionados, como invariavelmente levam à guerra.

O Conselho de Segurança votou em meados de maio um novo pacote de sanções contra Teerã. Trata-se de mais um passo para a confrontação no âmbito da política externa míope dos Estados Unidos em relação a Teerã.

Para Washington, as sanções fazem parte da necessidade de conter Teerã. Nessa lógica, são um elo numa sequência que vai da pressão diplomática até à guerra. Quer dizer, Obama mantém as mesmas prioridades paralisadas que vigoram em Washington desde o triunfo da revolução islâmica há 30 anos. O objetivo continua a ser a mudança de regime e a ameaça é a guerra preventiva.

Para Teerã, essa ameaça é real. Os seus dois vizinhos o oriente e ocidente estão submetidos a uma invasão por tropas estadunidenses. Também se encontra rodeado de potências com armas nucleares. Isto inclui Israel, país que nunca assinou o Tratado de Não Proliferação de armas nucleares (TNP) e hoje conta com 200 ogivas nucleares prontas a ser usadas.

Washington afirma que são sanções fortes, mas a realidade é que se trata de medidas sumamente débeis. Para começar, não se limitam a produção e as exportações de hidrocarbonetos, como queria Hillary. Mas a China não teria votado a favor das sanções e por isso não foram incluídas.

Também não há sanções generalizadas sobre serviços financeiros e de seguros. As únicas sanções reais proíbem os investimentos do Irã noutros países na mineração de urânio ou na produção de materiais nucleares e tecnologia.

Impõem-se algumas restrições de viagem e congelam-se os ativos financeiros de algumas empresas e indivíduos assinalados nos anexos da resolução. O resto é padrão: não se pode prover o Irã de equipamento militar ofensivo (mas a Rússia poderia continuar a proporcionar mísseis terra-ar, por exemplo), etc.

São legais essas sanções? A resposta é negativa porque o Conselho de Segurança está obrigado a determinar a existência da ameaça à paz que este caso representa, e esse requisito permanece incumprido. As declarações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não suprem esse requisito e, por outro lado, estão cheias de mensagens ambíguas sobre o programa nuclear de Teerã.

O Irã não violou o TNP. Insistiu no direito que lhe confere esse tratado de enriquecer urânio e desenvolver a sua indústria nuclear sem interferências. Os países que hoje apoiam as sanções não puderam demonstrar o contrário. Os próprios serviços de inteligência dos Estados Unidos não puderam demonstrar que Teerã tem um programa para produzir armas nucleares.

Serão efetivas as sanções? Se o que se procura é travar o projeto de conseguir dominar todo o ciclo de combustível nuclear que o Irã deseja, as sanções vão fracassar. O único caminho para a desajeitada política de Hillary-Obama será um ataque preventivo (que poderia ser desencadeado por intermédio de Israel). As consequências serão desastrosas.

Em 1941, os Estados Unidos impuseram um embargo petrolífero sobre o Japão para travar o seu expansionismo na China. Essa medida instalou um cerco que Tóquio considerou intolerável e levou-o à guerra contra os Estados Unidos. Diz-se que, de qualquer modo, o expansionismo japonês não podia ser contido.

Pode ser, mas também é verdade que Washington sabia muito bem o que estava a fazer e as sanções eram um prelúdio para uma guerra desejada pelos Estados Unidos. Essa é precisamente a lógica que acompanha este último desencadeamento das sanções contra o Irã. O que se procura é preparar a confrontação e a guerra.

O último pacote de sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança (com o voto do México, que uma vez mais fez um papel triste) proporciona a Obama uma vitória passageira e sem importância neste tortuoso caminho para a confrontação com o Irã.

A crise econômica e financeira global é mais profunda e será mais longa do que muitos querem aceitar. E vai acabar por redefinir a estrutura da economia mundial. A história ensina-nos que este tipo de crise e processos de reorganização econômica internacional acabam por se transformar em conflitos armados.

Os impérios econômicos na sua fase crepuscular (como são os Estados Unidos hoje) não estão dispostos a abandonar o centro do poder sem opor resistência.

Fonte: La Jornada