Publicado 05/07/2010 11:30 | Editado 04/03/2020 16:33
A galeria e a tela são invenções da burguesia que tiveram como intuito criar mecanismos de facilitar a comercialização da arte. Por outro lado abriu a possibilidade de tornar o acesso à produção artística mais amplo tendo em vista que sob o período medieval o suporte para a pintura ficava restrito às paredes dos castelos e das igrejas. Na contemporaneidade, uma nova invenção da burguesia com fins comerciais serve para ampliar o raio de penetração e democratização dos discursos e das obras de arte: a rede mundial de computadores, a internet.
Apesar de poucos ainda possuírem um computador conectado à internet é crescente a quantidade de pessoas que utilizam essa máquina de forma direta e indireta. Basta observar os sistemas de gerenciamento das empresas e os jogos das crianças, tudo computadorizado.
As novas tecnologias vão exercendo um elo de ligação com os seres humanos que dão uma nova dinâmica às relações comportamentais. Mais do que uma ferramenta ou extensão dos braços, o computador vem se tornando algo integrante do próprio corpo, como se fosse um órgão inseparável, se é que podemos fazer essa analogia.
Através da internet, a circulação da informação se torna instantânea. É possível saber o que está acontecendo no Pólo Norte ou ver o trânsito em São Paulo a partir de uma tecla. Na verdade podemos fazer centenas de coisas pela internet: marcar encontros, rever amigos, pagar contas, estudar, escutar música, ver filmes, traduzir textos, fazer cálculos, ter acessos a milhares de livros gratuitamente, modificar imagens, criar personagens, descobrir endereços e até providenciar casamentos pela internet.
O intento não é aprofundar esse assunto, mas levantar algumas questões a partir das relações entre a arte e as novas tecnologias.
Cada vez mais os artistas vêm se envolvendo com as novas tecnologias como instrumento de expansão da sua práxis artística que vai desde a criação de blogs a disponibilização de músicas, vídeos e material teórico, bem como se apropriando dos sistemas operacionais dos softwares livres.
É com esse instrumento de facilidades e de velocidade da informação, a internet, que se configura um dos mais importantes suportes de democratização do pensar e fazer artístico, seja ele ligado a arte contemporânea ou não. Através da internet, é possível socializar olhares, interações, conceitos e ações artístico-estéticas, além de ser uma formidável ferramenta de sabotagem midiática. A sabotagem midiática consiste na apropriação de imagens e discursos da grande mídia que, após passar por processo de manipulação e criação artística, é recolocada na internet com conteúdo diferenciado do original.
Outro fator significativo é o registro do trabalho ou da ação como forma de possibilitar a memória coletiva e favorecer a discussão artística/estética. Em especial tratando-se de arte contemporânea, pois muitas das obras e ações são efêmeras e o registro escrito, fotográfico e audiovisual desempenham o papel primário no trabalho, e isso, disponibilizado na internet toma outra dimensão. Além das artes visuais, as outras linguagens artísticas são beneficiadas pelo uso da rede virtual, para estudo, pesquisa, divulgação e interação e disponibilização de trabalho.
O uso das novas tecnologias é uma das exigências do mundo contemporâneo. Hoje, o santeiro (escultor de santos) do Centro de Cultura Mestre Noza em Juazeiro do Norte por exemplo, além de manusear a lixa, o formão e o estilete para produzir suas esculturas em madeira, ele também esculpe o seu contato com o computador e a internet. Atualmente o Centro de Cultura Mestre Noza é um dos quase três mil Pontos de Cultura do Brasil e uma das exigências da política de descentralização de recursos públicos e empoderamento dos movimentos sociais que vem sendo desenvolvida pelo Ministério da Cultura é apropriação e a confluência das novas tecnologias com as tecnologias tradicionais e uso inclusive dos softwares livres.
Através desse contexto, vão se alargando as possibilidades de fazeres e pensares artísticos e estéticos na contemporaneidade, desencadeando processos reflexivos de caráter individual e coletivo, além de perfazer um caminho globalizante da arte e do artista. O artista e o trabalho de arte deixam de circular de forma localizada e passam para uma circulação mundial.
Alexandre Lucas é Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo, artista/educador e membro do Conselho Municipal da Cultura
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