Sem categoria

Estagnação e arrocho: a receita do FMI e BIRD para a Europa

O diretor de tendências macroeconômicas do Banco Mundial (BIRD), Andrew Burns, afirmou nesta quarta-feira (9) que a situação econômica da Espanha é "muito grave" e ressaltou o alto nível de desemprego no país, que chegou a 20% da população economicamente ativa em março deste ano, o que significa em números absolutos 4,6 milhões de desocupados.

Pot Umberto Martins

Feita ainda no calor da greve geral do funcionalismo público, que mobilizou cerca de 2,5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras terça-feira (8), a declaração do funcionário do BIRD teve o indisfarçável propósito de justificar o pacote de arrocho fiscal anunciado pelo governo social-democrata da Espanha.

Contra os trabalhadores

Burns fez questão de assegurar que as medidas adotadas pelo governo espanhol vão na direção correta e afirmou que é "provável" que ocorra uma melhor consolidação fiscal, o que amenizaria a situação. Obviamente, esta não é opinião da classe trabalhadora e seus representantes.

O pacote estabelece o corte de salários do setor público, congelamento das pensões e aposentadorias e mudança na legislação trabalhista que reduz a indenização devida pelo empregador no caso de demissões. Ironicamente, a medida foi adotada sob o pretexto de “fomentar o emprego”.

O pacote não é muito diferente daquele que foi imposto à Grécia por um velho conhecido, o FMI, e está sendo cogitado em outros países, incluindo França e Alemanha, para contornar a crise da dívida. A essência é a mesma. Consiste em jogar sobre os ombros da classe trabalhadora o ônus da crise gerada pelo excesso de ganância da oligarquia financeira.

A conta é dos banqueiros

O crescimento dos déficits e do endividamento na região ao ponto de colocar em questão a sobrevivência do euro resultou das intervenções do Estado capitalista para livrar o sistema financeiro da bancarrota. Os governos consumiram centenas de bilhões de euro no socorro aos bancos, provocando um sério desequilíbrio nas contas públicas.

Agora querem reduzir os gastos públicos cortando na carne do funcionalismo e, de quebra, reduzindo direitos também dos assalariados das empresas privadas, com redução do valor das aposentadorias e pensões, elevação da idade mínima para fazer jus ao benefício, diminuição da indenização para demissões e outras maldades do gênero.

Deste modo, está em curso uma ofensiva inédita do capital contra o trabalho no velho continente. A pretensão dos governos a serviço da oligarquia financeira é desmantelar o chamado Estado de Bem Estar Social, erigido no pós-guerra, que consagrou várias conquistas da classe trabalhadora. A conta é dos banqueiros, mas quem paga é o povo.

Décadas de estagnação

Países que podem ser considerados elos mais frágeis do imperialismo europeu (caso da Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Hungria, entre outros) são os que estão em pior situação e dos quais entidades como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial (viúvas de Bretton Woods e guardiões de uma ordem econômica que já caducou) cobram as medidas mais duras e supostamente exemplares.

O Brasil já conhece o remédio receitado pelos dois vampiros. É um veneno que, aplicado nos anos 1980 e nos governos FHC, nos custaram décadas de desenvolvimento. Não será diferente com suas novas vítimas na Europa. O “ajuste fiscal” que está sendo proposto e imposto será acompanhado da estagnação da renda e vai retardar, provavelmente em muitos anos, a recuperação das economias da região.

Por isto, a revolta dos trabalhadores está coberta de razão e é o que pode abrir caminho a uma solução progressista para o impasse. Na Grécia foram realizadas cinco greves gerais neste ano, Lisboa foi palco de uma manifestação gigante no dia 29-5, com 300 mil e na França mais de um milhão foram às ruas contra a “reforma” previdenciária que Sarcosy (descumprindo promessa de campanha) quer empurrar goela abaixo dos trabalhadores.

Luta de classes

Na Espanha, a greve geral do funcionalismo na terça-feira, convocada pelas Comissões Operárias e União Geral dos Trabalhadores (as duas principais centrais do país) contou com a adesão de pelo menos 80% da categoria. Os sindicalistas classificaram as medidas do governo Zapatero como “injustas, desequilibradas e antieconômicas”. Também afirmaram que a paralisação dos servidores foi apenas o início de uma jornada de luta e a preparação de uma greve geral que deve envolver o conjunto da classe trabalhadora.

Ao extravasar o espaço dos mercados de capitais e descer as ruas, a crise teve o mérito de despertar a consciência do proletariado europeu e mobilizar as massas para a luta. Isto é um golpe no espírito social-democrata de colaboração de classes. A razão da crise no velho continente é o esgotamento do capitalismo neoliberal e o fracasso de um processo de unificação orientado pelos interesses retrógados da oligarquia financeira.

A luta em curso é claramente a expressão da famosa luta de classes entre capital e trabalho, renegada por muitos e desprezada pelos renegados. O desafio do movimento sindical e da classe trabalhadora é apontar uma alternativa progressista que, conforme sugerem os fatos, terá de ser radical e orientado na direção do desenvolvimento econômico (em contraposição ao pacote recessivo do FMI) e um novo sistema social – o socialismo.