Capistrano: Neoliberalismo, nunca mais

O artigo abaixo, de minha autoria, foi publicado quando completou um ano do fechamento do BANDERN. Agora, em 2010, no mês de setembro, dia 20, completa 20 anos desse triste fato.

Bandern
A liquidação do banco foi um processo longo e doloroso para todos os que faziam parte da instituição, como também para aqueles que tinham um compromisso com o nosso desenvolvimento.

O BANDERN é a primeira vitima aqui no estado, dos efeitos do neoliberalismo que começava a sua sanha devastadora no país.

O governador José Agripino era o representante mais legitimo do neoliberalismo tupiniquim, sendo o mesmo, o grande exterminador dos órgãos estatais. Privatizar e extinguir a máquina administrativa estadual, era a sua tarefa. Esse artigo foi publicado no dia 5 de maio de 1991, no jornal Dois Pontos. Com o intuito de preservar a memória histórica do nosso estado, hoje, republico o mesmo. Vamos ao artigo:

BANDERN: Um ano sem solução

A classe empresarial e o povo do Rio Grande do Norte estão infelizmente de luto, completou no mês de setembro, próximo passado, um ano do fechamento do nosso bandern e o pior, sem nem uma perspectiva de abertura.

O fechamento do bandern, no segundo turno, foi objeto preferencial do discurso do então candidato a governador José Agripino Maia, ele gostava de dizer, com toda ênfase, que só ele tinha as chaves para reabrir aquela instituição financeira. Algumas vozes diziam, “quem tem o poder de fechar tem o poder de abrir”.

Mas, parece-me, e todas as evidências sinalizam nesse sentido, que o governador José Agripino Maia, de duas uma: ou perdeu as chaves nessas suas andanças por Brasília ou o Banco Central trocou, inesperadamente, as fechaduras do bandern, impossibilitando, desta forma, a utilização por sua excelência.

Ironias à parte, de duas uma ou governador José Agripino Maia parece ter acreditado naquele seu discurso, daí porque toda a estratégia, até agora utilizada, tem sido pautada na hipótese de que ele sozinho teria condições de reabrir o bandern, excluindo deste processo os segmentos mais comprometidos com a causa do bandern, principalmente o sindicato dos bancários, o maior interessado, ou era só conversa de campanha de candidato sem compromisso com o povo e o estado.

É essencial, neste momento, que não só a classe política e os grupos diretamente atingidos pela medida truculenta da área econômica do governo federal participem da luta, é fundamental o engajamento de toda a sociedade norte-rio-grandense no apoio à luta heróica, diga-se, até agora mantida pelos seus funcionários e, pelo seu sindicato, com o objetivo de manter acessa a chama da esperança de um dia ver o nosso bandern novamente em pleno funcionamento.

O governo do senhor José Agripino tem se mostrado insensível ao grave problema criado para a economia do estado e para centenas de famílias com o fechamento do bandern.

O que o bandern precisa é apenas tirar das suas entranhas os grupos oligárquicos que usufruía dos seus financiamentos, abrir o seu cofre ao financiamento das pequenas e médias empresas; financiando o homem do campo, fortalecendo setores vitais da economia, promovendo o desenvolvimento regional que por suas especificidades, normalmente não encontram apoio nos órgãos de crédito privados, enfim, transformando o bandern num instrumento de democratização do crédito e sendo administrado de forma transparente onde seus empregados possam influir nos destinos da instituição, com isso o bandern prestará um grande serviço ao nosso estado.

A ex-ministra da economia Zélia Cardoso de Melo, responsável pelo fechamento do Bandern, em sua recente visita ao Rio Grande do Norte, um Estado pobre, portanto, carente de recursos financeiros (tendo sido recebida por sua excelência, o governador José Agripino, com toda pompa), declarou, de forma no mínimo acintosa e ofensiva ao povo potiguar, que a liquidação do Bandern foi um ato correto. Ora, e a ajuda que o governo do senhor Collor, com o endosso da ministra, concedeu aos Estados ricos da região sudeste (quase um bilhão de dólares) para salvar os seus bancos estaduais que estavam em situação igual ou pior do que o Bandern foi correto? .

O povo norte-rio-grandense tem a obrigação de continuar a lutar pela a reabertura desse precioso instrumento de desenvolvimento do nosso Estado, fechado pela truculência de um governo umbilicalmente atrelado aos interesses do capital financeiro internacional, do neoliberalismo destruidor do processo de desenvolvimento dos países emergentes, como o Brasil. Esse governo e seus representantes devem ser tratados como persona não grata ao povo do Rio Grande do Norte. A reabertura do Bandern é uma questão basilar para o nosso desenvolvimento.

Esta história precisa ser contada ao nosso povo nos seus pormenores, tem fatos relevantes que não chegaram ao conhecimento da população. Perguntas que estão no ar tais como: por que o Bandern foi fechado? A quem interessa a liquidação do Bandern? Por que outros bancos em situação mais difícil do que o bandern continuam abertos?

Tenho participado da luta dos funcionários do Bandern, ao lado do seu sindicato, tenho acompanhado por dentro a luta pela abertura dos três bancos estaduais do nordeste fechados pelo governo Collor: o bandern, o banco do estado da Paraíba e o do estado do Piauí. Não existia motivo para o fechamento do nosso banco, hoje mais do que nunca chego à conclusão que o motivo foi puramente político. Vamos continuar a lutar, essa é uma luta justa e pertence ao povo potiguar.

Deputado Antonio Capistrano é líder da bancada do PMDB.
Depois dessa data, como deputado e líder do PMDB na assembleia legislativa, acompanhei de perto toda a luta dos bancários, inclusive, participando de todas as comissões que foram criadas com o objetivo de viabilizar a reabertura do BANDERN. O Banco do Estado do Rio Grande do Norte era viável, faltou apenas vontade política de reabri-lo, eles não tinham nenhum interesse na reabertura banco. Nem o governo Agripino, nem o governo Garibaldi, sucessor de Agripino.

Nestes dois governos ocorreu o apogeu do liberalismo aqui no Rio Grande do Norte, foi o desmonte da máquina administrativa dentro da visão neoliberal que comandou a política econômica do nosso país até o final do governo FHC. A DataNorte que os diga. Esse fato merece uma reflexão. O sindicato dos bancários e as forças progressistas do Rio Grande do Norte devem relembrá-lo com o objetivo de evitar a volta daqueles que desejam um estado mínimo funcionando apenas dentro dos seus interesses e dos interesses do capital financeiro internacional.
 

Antonio Capistrano – foi deputado estadual (1991/94), é filiado ao PCdoB