Israel mais isolado: Egito abre acesso à Faixa de Gaza
Após o ataque de Israel à frota que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, ordenou, nesta terça (01), a abertura da passagem de Rafah, única entrada da Faixa de Gaza que não é controlada por Israel. O objetivo é permitir a entrada de ajuda humanitária e a saída de doentes do território palestino.
Publicado 02/06/2010 15:36
A passagem foi fechada em junho de 2007, quando o grupo islâmico Hamas tomou o controle do território palestino, após expulsar as forças leais ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Desde então, o Egito só a abre esporadicamente, para permitir a saída de palestinos feridos em ataques israelenses.
O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores egípcio, Hossam Zaki, disse que seu país manteria esforços destinados a aliviar o sofrimento dos cidadãos palestinos em Gaza pelo envio de remédios e de qualquer tipo de ajuda procedente de países árabes e ocidentais.
Terrorismo de Estado
Já nesta quarta, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, classificou de "terrorismo de Estado" o violento ataque israelense, durante uma conferência em Belém (Cisjordânia)."Nosso povo foi exposto ao terrorismo de Estado quando Israel atacou o comboio da liberdade. O mundo inteiro, com o povo palestino, enfrenta este terrorismo", declarou.
Abbas falou durante uma conferência internacional sobre investimentos na Palestina, na qual fez um minuto de silêncio em memória dos ativistas mortos. Ele também disse que pedirá ao presidente dos EUA, Barack Obama, que tome "decisões corajosas para mudar a face do Oriente Médio".
"Minha mensagem a Obama durante nossa entrevista em Washington, na próxima semana, será que precisamos de decisões corajosas para mudar a face da região", enfatizou.
EUA: declaração cercada de cautela
O ataque ao comboio humanitário obrigou os Estados Unidos, tradicionais aliados de Israel, a se posicionarem sobre a questão da Faixa de Gaza. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que a situação na Faixa de Gaza é "insustentável e inaceitável" e não pode durar mais tempo. O pronunciamento, contudo, foi cercado de cautela e passou longe de uma condenação ao ataque.
"As necessidades legítimas de segurança por parte de Israel precisam ser garantidas, assim como as necessidades legítimas dos palestinos por assistência humanitária e acesso regular a material de reconstrução", disse Clinton. Hillary também pediu a todos os envolvidos que sejam "cuidadosos" em suas reações ao ataque.
"Eu acho que a situação, de nossa perspectiva, é muito difícil e requer reações cuidadosas, pensadas de todos os envolvidos", disse a jornalistas. Na contramão do que defendem os outros países, a secretária de Estado afirmou ainda que Washington apóia uma investigação israelense sobre o ataque ao comboio. Resta saber que credibilidade teria uma apuração promovida justamente pelo autor da agressão.
ONU condena ataque, não Israel
O Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou nesta quarta uma resolução exigindo "investigação internacional" sobre a intervenção militar israelense. A resolução estipulando "o envio de uma missão internacional para investigar violações das leis internacionais" foi aprovada por 32 dos 47 membros do Conselho, enquanto três países pronunciaram-se contra, entre os quais, os EUA. A França e o Reino Unido se abstiveram.
Na terça, o Conselho de Segurança da ONU já havia condenado a ação militar e pediu uma investigação dos fatos, mas evitou criticar diretamente o governo de Israel. A ONU lamentou "a perda de vidas humanas", mas não lançou nenhuma condenação contra o autor do ataque.
Além disso, a nota de 24 linhas classifica a situação de Gaza como "insustentável" e sublinha que a solução possível para o conflito árabe-israelense é através de negociações bilaterais. Pouco depois do pronunciamento da ONU, o governo israelense disse que a condenação era "hipócrita" e que o Conselho de Segurança sequer teve tempo para analisar os fatos.
Brasil acusa violação ao direito internacional
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, reforçou as críticas ao ataque de Israel e defendeu uma investigação internacional. "Há uma violação não só do direito humanitário como do direito internacional como um todo, pelo menos na aparência. Aliás, uma aparência muito evidente. Mas creio que é sempre útil ter uma investigação completa sobre isto", assinalou Celso Amorim, durante audiência no Senado.
Para ele, a origem do problema é o bloqueio à Faixa de Gaza, que estimula o uso de passagens irregulares por onde podem entrar "até outras coisas" na região. O ministro citou o exemplo de uma escola que o Brasil, a Índia e a África do Sul se dispuseram a construir na Faixa de Gaza, mas ainda não puderam fazê-lo, porque não há material de construção disponível.
"Este bloqueio impede que a população de Gaza tenha acesso aos bens de que necessita, que não são só comida e roupas, mas também escolas e hospitais", referiu. Antes, o próprio presidente Lula defendeu que “o diálogo é a melhor forma de resolver. Não atirando, como Israel fez na segunda feira, num barco que estava em águas internacionais".
O governo brasileiro já havia condenado o ataque "em termos veementes" na segunda-feira, através de um comunicado emitido pelo Itamaraty.
Nicarágua congela relações com Israel
A Nicarágua, por sua vez, anunciou nesta quarta a suspensão de relações bilaterais com Israel. "O governo da Nicarágua suspende a partir desta data as relações diplomáticas com o governo de Israel", declarou à imprensa a porta-voz do governo e primeira-dama, Rosario Murillo, sem especificar por quanto tempo os vínculos diplomáticos estarão congelados.
Israel ainda não recebeu comunicação oficial sobre a suspensão de relações, em represália ao ataque que causou nove mortes e deixou dezenas de feridos. O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores israelense, Andy David assinalou que"se deduz que trata-se de uma suspensão de relações, não de uma ruptura de relações, mas não entendemos muito bem o que quer dizer a Nicarágua com isso".
Turquia protesta
Na Turquia, os protestos seguem intensos. Segundo a polícia turca, dois grupos de várias centenas de pessoas fazem guarda permanentemente em frente à residência do embaixador israelense em Ancara, Gaby Levi, e diante da embaixada. O ministro de Interior turco, Besir Atalay, garante que não houve incidentes de destaque, à exceção do protagonizado por um pequeno grupo que lançou garrafas de plástico contra a embaixada na noite de terça.
Atalay afirmou que a Polícia controlou o grupo, e as forças de segurança garantem a segurança dos diplomatas israelenses e de suas famílias. Em Istambul, a ONG IHH, uma das principais organizadoras da "Frota da Liberdade", disse que os manifestantes se reuniram na terça para protestar contra a ação israelense frente ao consulado insraelense.
Para esta quarta, foi convocado um protesto no turístico bairro de Sultanahmet, em Istambul. A ONG muçulmana Mazlumder, que tem um diretor dado como "desaparecido" no ataque israelense, convocou os cidadãos turcos a se reunirem perante o Palácio de Justiça de Sultanahmet para fazer um pedido coletivo para que Israel seja julgado por "crimes contra a humanidade".
Israel inicia deportações
Criticado por todos os lados, Israel expulsou nesta quarta centenas de ativistas estrangeiros pró-palestinos após a decisão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de deportar todos os presos durante o ataque contra a flotilha. "Apenas um dos prisioneiros está atualmente na prisão", declarou o porta-voz da administração penitenciária israelense, Yaron Zamir.
Por sua vez, a porta-voz do serviço de imigração indicou que "404 passageiros da flotilha esperam para deixar o aeroporto Ben Gourion (em Tel Aviv) e 102 estão a caminho do aeroporto para serem repatriados". Cerca de 125 outros militantes expulsos por Israel foram levados para a Jordânia pelo posto fronteiriço da ponte Allenby.
Netanyahu advertiu que Israel manterá seu bloqueio à Faixa de Gaza, estabelecido há quatro anos, enquanto um cargueiro irlandês, o MV Rachel Corrie, é aguardado em Gaza para o início da semana. "Abrir uma rota marítima para Gaza representaria um grande perigo para a segurança de nossos cidadãos. É preciso, então, continuar com o bloqueio marítimo", afirmou o chefe de governo israelense em um comunicado.
"É verdade, há uma pressão internacional e críticas sobre nossa política. Mas é preciso compreender que ela é vital para preservar a segurança de Israel e seu direito de se defender", justificou Netanyahu. O governo irlandês exortou nesta quarta-feira Israel a permitir a passagem do MV Rachel Corrie, fretado por uma organização irlandesa e que transporta quinze passageiros, entre eles o prêmio Nobel da Paz Mairead Maguire.
No início da tarde desta quarta-feira, mais da metade dos 682 militantes originários de 42 países que estavam a bordo de seis barcos da "flotilha da liberdade" já tinham sido expulsos.
Com agências