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Colômbia: Institutos de pesquisa são os maiores derrotados

 Mockus sofre as consequências das estratégias de campanha dos candidatos menores na reta final, que pediram ao eleitor o voto no candidato favorito no primeiro turno, e só depois fazer “voto útil” no segundo turno. Mas as pesquisas não conseguiram avaliar as forças das máquinas políticas contra o voto ideológico.

A grande surpresa das eleições presidenciais deste domingo (30/5) na Colômbia foi a diferença muito maior que o esperado entre o candidato governista Juan Manuel Santos, do Partido de Unidade Nacional (o mesmo do presidente Álvaro Uribe), e o oposicionista Antanas Mockus, do Partido Verde. Com 98,52% das urnas apuradas, Santos tem 46,57% dos votos – a pouco mais de 3 pontos de vencer em primeiro turno – e Mockus ficou com apenas 21,47%, muito abaixo de todas as previsões das pesquisas de opinião das últimas semanas, que apontavam um empate técnico com o candidato verde à frente.

Como era previsto, os dois candidatos vão disputar o segundo turno no próximo dia 20. O presidente que for eleito tomará posse em agosto.

Atrás deles, vêm o direitista Germán Vargas Lleras, do Cambio Radical (10,16%), e o esquerdista Gustavo Petro, do Pólo Democrático Alternativo (9,17%).

Mockus sofre as consequências das estratégias de campanha dos candidatos menores na reta final, que pediram ao eleitor o voto no candidato favorito no primeiro turno, e só depois fazer “voto útil” no segundo turno.

Mas as pesquisas não conseguiram avaliar as forças das máquinas políticas contra o voto ideológico.

Vencedores e perdedores

Santos aparece como vencedor, mas terá de enfrentar no segundo turno a ameaça do voto útil dos eleitores já cansados de oito anos de "uribismo", o que pode convergir para Mockus. Pertencente à oligarquía de bogotá, de família dona de um conglomerado de comunicação, foi ministro de todos os últimos governos, mas conquistou fama e críticas quando foi ministro da Defesa de Uribe e comandou a "Operação Achaque", de repressão militar contra as Farc, com a qual foi libertada a refém Ingrid Betancourt. Mas durante sua gestão na pasta veio à tona também o escândalo dos chamados "falsos positivos": milhares de jovens civis de baixa renda assassinadas pelo exército e contabilizados como guerrilheiros mortos em combate, para receber gratificação em dinheiro.

De acordo com os candidatos menores (Vargas, Petro e Naomí), a derrota moral do resultado foi dos institutos de pesquisas de intenção de voto, que dominaram o debate político, e Mockus, que apesar de ter conseguido imprimir ritmo à campanha, não conseguiu resistir à realidade do país.

“Os grandes perdedores são as empresas de pesquisa – comenta-se na campanha de Vargas Lleras. "Até a semana pasada, davam- nos como últimos e agora somos a terceira maior votação”, disse a senadora Gilma Jiménez, do Cambio Radical.
Defensiva

Os verdes tiveram menos de 22% dos votos, o que, apesar da expectativa gerada pelas pesquisas, foi considerado um "sucesso" pelos militantes, por ser um partido recém-criado. A campanha verde foi um fenômeno, universal em suas posturas filosóficas e na forma de agir, tanto quanto Barack Obama nos Estados Unidos.

“Mas suas declarações da última semana", comenta ao Opera Mundi um eleitor do Partido Verde, "em que não conseguiu nada além de assegurar que é católico, que manterá o programa de renda mínima 'Famílias em Ação', os fiscais do paramilitarismo, que a esquerda tem expressões próximas à violencia e que as Farc devem ter medo dele, porque vem com punho de ferro, o candidato verde passou para a defensiva, respondendo à pauta imposta pela campanha de Santos".

Segundo o eleitor, que não quis se identificar, o que a opinião pública esperava de Mockus eram propostas que oferecessem algo distinto do "uribismo", e não apenas reações a acusações.

"O que os cidadãos que veem nele uma esperança querem é alguém com uma visão e uma agenda próprias. E isso foi ouvido menos desde que ele refreou nas pesquisas”, disse.

Na sede da campanha de Mockus, a sensação era de desânimo. “Uribe falou nos últimos dias quatro ou cinco vezes por dia em cada emissora, passando mensagens contra o candidato verde, tanto que a missão de observação eleitoral tinha apontado que os únicos problemas eram as ingerências indevidas de autoridades, principalmente o próprio presidente”, disse um assessor que também pediu anonimato.

Fonte: Opera Mundi/Simone Bruno | Bogotá