África do Sul: as primeiras impressões
Cheguei na quarta-feira (26) a Johannesburg, onde vou acompanhar a Copa para a TV Record. A primeira impressão da cidade não foi das melhores. Levei uma hora e meia dentro do carro, para ir do aeroporto até o condomínio de casas onde nos hospedamos. Um congestionamento medonho, quase paulistano eu diria!
Por Rodrigo Vianna
Publicado 27/05/2010 17:24
A cidade estava coberta por uma névoa estranha (não consegui saber se era poluição, ou efeito normal do clima). Congestionamento e névoa. Alguns dirão: mas não é essa a impressão de quem chega a São Paulo?
É verdade. Mas algo mais me incomodou nessas primeiras horas aqui. Talvez uma certa frieza. São Paulo vibra no meio do caos. Não é possível ficar indiferente. Ou você gosta ou você odeia São Paulo. Johannesburg passou-me uma certa frieza nessas primeiras horas…
Talvez sejam os condomínios… Os bairros de classe média e alta são cercados por muros e grades… A gente só circula de carro. Depois de me instalar no tal condomínio, fui com a equipe da TV comer em Sandton — o distrito financeiro e moderno — da cidade.
O motorista dizia-me orgulhoso: vocês vão conhecer a Nelson Mandela Square. E lá fomos nós. No centro de Sandton, há a tal praça. Na verdade, parece a praça de alimentação de um shopping. Ela é cercada por prédios de escritórios modernos, que tem — no térreo — restaurantes para empresários e turistas estrangeiros. No centro, uma estátua imensa de Mandela.
A estátua é bonita. Mas fria, como a praça. E não estou falando da temperatura (aliás, faz frio aqui nessa época; à noite, é preciso usar casacos pesados).
Da praça Mandela, fui fazer compras (de carro). E de carro voltei ao condomínio. Tranquei-me em meu quarto, liguei a calefação. E dormi.
São Paulo, Rio e outras grandes cidades brasileiras também são infestadas por esses condomínios. Mas há espaços de mediação, de convívio. Aqui, parece não haver… Posso estar enganado.
Agora, batuco esse texto, enquanto uma senhora limpa a casa onde me instalei. Todos os empregados do condomínio, sem exceção, são negros. Entre eles, conversam sempre em dialeto. Só falam em inglês com os estrangeiros, ou com os brancos sul-africanos.
Aliás, os únicos brancos sul-africanos com quem conversei foram a gerente da imobiliária que cuida do condomínio e o rapaz da empresa de TV a cabo que veio botar o aparelho pra funcionar aqui na casa onde estou. Ele é o dono da empresa; os dois funcionários que vieram com ele são negros. Um desses técnicos, muito simpático, olhou pra mim e disse: "quando acabar a Copa, me leva pro Brasil; preciso criar minha família em outro lugar, aqui não dá, muita violência, muita violência".
Concluiu a conversa com um sorriso simpático e desesperançado. Que eu tentei retribuir, sem saber o que dizer a ele ("o Brasil tem muitos problemas também", foi a frase que ensaiei, mas não disse).
Já sabia que faria algum frio aqui. Mas, nas primeiras 24 horas, a frieza que me espantou não foi aquela que podemos medir com termômetros. Foi a frieza dos condomínios mortos, onde parecem viver "homens empalhados" (como isso aqui me faz lembrar o poema de Elliot.
Acho que essa primeira impressão vai passar, quando eu conhecer outras partes da cidade.
Daqui a pouco, sigo para o estádio onde a seleção sul-africana faz um amistoso contra a Colômbia. É o "esquenta" pra turma das vuvuzelas — aquela cornetas infernais que são a marca da torcida local.
Acho que as vuvuzelas vão ajudar a aplacar a sensação de frieza que brota dessas casas recém-construídas no condomínio "Woods", num subúrbio tristonho de Johannesburg.
Tomara que sim!