Rabelo reafirma soberania nacional: complexo de vira-lata acabou
Um dos pontos-chave da terceira reunião do Comitê Central do PCdoB, realizada neste sábado e domingo, 22 e 23, em São Paulo, foi a defesa da política externa brasileira e o crescente papel que o país tem no cenário mundial. “Estamos em outro momento. O Brasil não vive mais sob a ótica da submissão às grandes potências. Acabou o tempo do complexo de vira-latas”, disse Renato Rabelo, presidente do partido, na abertura da reunião.
Publicado 22/05/2010 17:01
Diante da postura altiva e independente do Brasil em sua política externa – recentemente demonstrada no fechamento do acordo nuclear entre o país, Irã e Turquia – e da reação indiferente ou crítica dos setores conservadores e sua frente midiática, Rabelo lembrou: “a elite diz que não temos credencial para tratar desses assuntos, que vamos perder a credibilidade internacional. Mas, o que temos visto é o contrário: o prestígio do país está cada vez maior e não dá para esconder essa realidade”.
O dirigente disse ainda que “este é o tempo do metalúrgico presidente e a elite brasileira abomina isso”. Portanto, ressaltou, “devemos apoiar as iniciativas do Brasil nessa área porque este é o caminho da paz e da justiça entre as nações”.
Continuidade da crise
Mantendo-se no campo internacional, Renato Rabelo explicou que os acontecimentos relacionados à crise capitalista reafirmam a linha política e analítica que o PCdoB tem adotado sobre a questão. “Enquanto muitos diziam que ela estava superada, seguíamos defendendo que ela ainda teria desdobramentos e os fatos têm demonstrado isso”, salientou, apontando a gravidade da situação econômica na Grécia em particular e na Europa em geral.
O ambiente, segundo Rabelo, “ainda é de instabilidade e incertezas, portanto, é uma grave ilusão afirmar que tudo está resolvido. Os Estados Unidos, por exemplo, estão num processo lento e fraco de recuperação e não apresentam saídas para a recessão. A parte mais rica da Europa está estagnada e a mais pobre está subordinada a ela”.
No caso da Grécia, epicentro dos tremores mais recentes causados pela crise, o líder comunista colocou que as soluções apresentadas pela União Europeia e FMI “resultarão em maior endividamento e cortes de gastos que comprometerão o desenvolvimento do país. Esta é forma típica de como o capitalismo empurra a solução de seus problemas para as costas dos trabalhadores e das camadas mais pobres”. Ele saudou a reação da população grega: “é uma resistência importante, capitaneada pelo PC da Grécia (KKE), contra as medidas apresentadas”.
Reação dos emergentes
Por outro lado, os países emergentes – especialmente Brasil, Rússia, Índia e China, o Bric – conseguiram sair da crise com maior rapidez e em melhores condições do que as nações ricas e centrais do sistema capitalista. “As reservas internacionais desses países somam 3,35 trilhões de dólares, um valor bastante considerável que serve como um ‘colchão’ para amortecer os efeitos da crise”, constatou.
Embora a Rússia tenha sofrido algum abalo, o Brasil manteve seu PIB, enquanto China e Índia cresceram. “A posição desses países no cenário internacional gera um quadro novo tanto no enfrentamento da crise – fazendo frente às forças especulativas – quando do ponto de vista geopolítico, que se abre à multipolaridade, enfraquecendo o papel do imperialismo”, explicou Rabelo.
De acordo com o dirigente, “tem sido cada vez mais discutida e visível a questão do declínio do poder unipolar do imperialismo estadunidense que tem se mostrado incapaz de reagir à nova realidade. Ou seja, não é um problema do presidente (Barack) Obama em si, mas da mudança do cenário mundial”.
Com relação às movimentações dos Estados Unidos no Oriente Médio, o presidente do PCdoB lembrou que “Washington fez letra-morta do acordo Brasil-Irã-Turquia porque tem interesses estratégicos na região para seus planos expansionistas e o Irã, vale lembrar, é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com uma reserva que pode ser quatro vezes maior do que a do pré-sal brasileiro”.
Os Estados Unidos “buscam sempre ter um polo de supremacia militar nos continentes de seu interesse – no caso do Oriente Médio, este papel é de Israel; por isso, é contra toda e qualquer tentativa de equilibrar a disputa militar com o país judeu. Ao mesmo tempo, busca coibir ou mesmo aniquilar a soberania dos países árabes, como aconteceu com o Iraque”, enfatizou Rabelo.
É nesse contexto que se encaixa o Irã. “O problema nesse país não se resume à questão nuclear; o ponto fulcral é desestabilizar o governo de (Mahmoud) Ahmadinejad e por isso nenhuma possibilidade de negociação vai adiante. A linha dos Estados Unidos é a da tensão permanente. Além disso, buscam impedir a emergência de outros atores internacionais que dialoguem com o Oriente Médio, como acontece com o Brasil”.
Debates
Na pauta da reunião do CC serão discutidas ainda as questões relativas à batalha eleitoral e a situações nos estados e resoluções acerca dos 25 anos de legalidade do PCdoB; do conjunto de propostas que o partido pretende apresentar à campanha da pré-candidata Dilma Rousseff como contribuição ao seu programa de governo; e a defesa do deputado federal Aldo Rebelo contra as calúnias que vem sofrendo de entidades estrangeiras por conta de sua atuação como relator da Comissão Especial de Reforma do Código Florestal da Câmara.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte