“Crise do euro é maior desafio que a Europa enfrenta em décadas”
A dramática frase do título, temperada de catastrofismo, foi proferida nesta quarta-feira (19) pela chanceler alemã Angela Merkel, durante pronunciamento no parlamento do país. Ela declarou que a moeda comum é fundamental para a sobrevivência “da idéia europeia” e está em perigo no momento.
Publicado 19/05/2010 12:25
O colapso do euro, que vem amargando forte desvalorização neste ano e está no seu menor nível diante do dólar desde abril de 2006, pode ter desdobramentos “incalculáveis” para a União Europeia e foi classificado pela dirigente como um “teste existencial. A crise corrente enfrentada pelo euro é o maior teste que a Europa passa em décadas. O euro está em perigo. Se não combatermos esse risco, as consequências serão incalculáveis”, alertou.
Dívida externa
A depreciação do euro é o desdobramento lógico da crise da dívida externa que abala os países da região, com destaque para Grécia, Portugal, Espanha, Itália e as nações do leste europeu que faziam parte do finado bloco soviético. A perspectiva do calote nesses países assustou os investidores, disseminou o pânico nos mercados e estimulou a especulação contra o euro.
As medidas duras contra a classe trabalhadora anunciadas pelos governos da região para evitar a moratória, adicionadas aos pacotes de resgate do FMI e União Europeia, conduziram a crise para a arena política. A vigorosa oposição dos sindicatos e das forças progressistas aos planos de ajuste, destinados a garantir o pagamento dos débitos e preservar os interesses da oligarquia financeira, deixou o “mercado” ainda mais assustado.
Encruzilhada
A iniciativa que os governos estão tomando sob a batuta do FMI, segundo os críticos, tende a agravar a crise econômica, pois vão na contramão das políticas anticíclicas recomendadas para combater a recessão e implicam em corte de salários, benefícios e gastos públicos, além de aumento dos impostos. Ou seja, são medidas para conter a demanda, que tendem o comércio e a indústria.
O pacote de socorro estimado em 750 bilhões de euros despertou um suspiro de esperança, mas não durou mais que 24 horas. As bolsas foram às nuvens no dia seguinte ao anúncio da ajuda, mas voltaram a cair nos subsequentes. Os “mercados” continuam desconfiados e instáveis.
A julgar pelos fatos e pelo acesso de catastrofismo da chanceler alemã, a Europa está numa encruzilhada. O pano de fundo de tudo isto, ofuscado pela ideologia hegemônica, é a crise do modo capitalista de produção em sua etapa imperialista, dominada pela oligarquia financeira e carregada de excessos e especulação. A saída preconizada por Merkel e pelo FMI é inaceitável para a classe trabalhadora e os povos da região, que através da luta procuram uma alternativa progressista à receita neoliberal das classes dominantes. A Grécia já foi paralisada quatro vezes neste ano e no dia 2 de junho será a vez da Espanha experimentar uma greve geral e tudo indica que a luta não vai parar por aí.
Da redação, Umberto Martins, com agências