Gol de Lula contra a pressão ocidental pró sanções ao Irã
"Se eu estivesse em Washington, correria pela Avenida Pennsylvania, desde a Casa Branca até o Capitólio, com uma grande bandeira brasileira, como fazem os jovens que invadem a Avenida Paulista em São Paulo durante uma partida de futebol, gritando 'Gooooool!'". Quem escreve é o economista americano Robert Naiman.* Veja a íntegra.
Publicado 18/05/2010 20:14
O presidente do Brasil fez um gol, com a notícia de que o Irã aceitou enriquecer seu combustível nuclear na Turquia, num acordo com o Brasil e a Turquia que pode esvaziar a pressão liderada pelos Estados Unidos, em favor de novas sanções contra o Irã. Um gol nos neoconservadores do Ocidente, que querem direcionar a confrontação com o Irã no rumo de um futuro conflito mundial.
A agência AP noticiou:
O acordo foi alcançado em conversações com o Brasil e a Turquia, elevando um novo grupo de mediadores, pela primeira vez, na disputa sobre as atividades nucleares iranianas. O acertado é quase idêntico a um esboço da ONU, que nos últimos seis meses Washington e seus aliados vinham pressionando Teerã a aceitar, visando privar o Irã – ao menos temporariamente – de estoques de urânio enriquecido suficientes para produzir um artefato atômico."
Se o acordo é "quase idêntico" ao projeto pelo qual os EUA pressionavam, então deveríamos estar comemorando, certo?
Aparentemente não. Não no caso do governo direitista da Alemanha.
"A questão-chave é se o acordo satisfaz as demandas que a ONU e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) fizeram a Teerã", disse o porta-voz do governo alemão, Christoph Steegmans.
Steegmans observou que permanece a questão de se o Irã suspende o enriquecimento de material nuclear em seu território, um possível ponto de destaque já que o acordo reafirma o direito de Teerã a enriquecer urânio com fins pacíficos.
Porém a exigência de que o Irã suspendesse o enriquecimento de material nuclear nunca fez parte do acordo de troca de combustível atômico.
Na verdade, o centro de todo o acordo foi desescalar as tensões em torno do crescente estoque iraniano de urânio enriquecido, sem menção da demanda, politicamente inatingível, de que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio. Qualquer um que acompanhe a diplomacia sabe que, para os iranianos, a "suspensão do enriquecimento" significa violar uma linha vermelha. Portanto, dizer que o acordo não é bom porque não requer que o Irã suspenda o enriquecimento é a mesma coisa que dizer que o acordo não é bom porque não requer que os líderes iranianos comam carne de porco, ou que a TV iraniana transmita durante o Ramadã.
A principal diferença entre o acordo que o Irã acaba de assinar e a versão esboçada pela ONU – aponta a AP – é que, caso o Irã não recebe os suprimentos de combustível para seu reator de pesquisa médica, dentro de um ano, a Turquia será solicitada a devolver o urânio, "rápida e incondicionalmente". Teerã temia que, na proposta inicial da ONU, caso a troca se frustrasse, o estoque de urânio pudesse ser embargado permanentemente.
Se o Ocidente está agindo de boa fé, então essa diferença entre as duas propostas não tem relevância. Mais ainda:
"Não foi deixado espaço para mais pressão em favor de sanções", disse o ministro de Relações Exteriores da Turquia.
Isto deveria ser verdade, quando se vê o mérito da questão. Mas é uma aposta certa que o lobby contra a paz e pró-Israel em Washington não vai ver as coisas assim.
E como o governo Obama vai ver?
"Na sexta-feira (14), a secretária de Estado, Hillary Clinton, previu que o esforço de mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ia fracassar.
Agora, a administração Obama tem que escolher. Ela quer mesmo um acordo? Aceita um "sim" como resposta?
* Robert Naiman é coordenador nacional de Just Foreign Policy, uma organização da sociedade civil dos EUA dedicada à mudança da política externa; edita o diário Just Foreign Policy; texto traduzido do Truthout: http://www.truthout.org