PMA quer transformar Aracaju na capital da bike
Um aspecto, em especial, logo salta aos olhos de quem chega à capital sergipana. Aracaju está caminhando para ser, definitivamente, a cidade da bicicleta. E não são apenas as ciclovias as responsáveis por esse destaque.
Publicado 17/05/2010 21:46 | Editado 04/03/2020 17:20
O número de novos ciclistas tem crescido muito rapidamente, inclusive com a formação cada vez maior de grupos de passeios, associações e organizações, motivados por três aspectos fundamentais: esse é um transporte bom para a saúde, para o meio ambiente e para a redução dos engarrafamentos. Ou seja, para a qualidade de vida.
O movimento de ampliação do uso da bicicleta como meio de transporte se deve, principalmente, às políticas públicas empreendidas pela Prefeitura de Aracaju (PMA). Nos últimos oito anos foram construídos na cidade mais de 56 km de ciclovias e dois bicicletários no Centro com 40 vagas de estacionamento, equipados com paraciclos duplos e seguindo padrões adotados mundialmente. Desde 2001, já foram investidos mais de R$ 11 milhões na ampliação e estruturação de vias exclusivas para ciclistas.
O coordenador de ciclomobilidade da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), Fabrício Lacerda, conta que o trabalho da PMA é feito com base em quatro pontos básicos: projeção de novas ciclovias, acompanhamento da execução dos projetos, fiscalização das já existentes, e ações de educação, tanto no apoio aos grupos de ciclistas quanto na realização de passeios.
Aracaju já possui uma geografia muito propícia ao ciclismo: a cidade é, quase que em sua totalidade, plana. É notório o crescimento, em um curto espaço de tempo, do número de ciclovias na capital, assim como dos bicicletários públicos. Isso se deve aos maciços investimentos feitos pela PMA no setor, tendo em vista dois principais objetivos: reduzir o fluxo de carros em horários de pico e contribuir com o meio ambiente, diminuindo a emissão de gases poluentes pelos veículos automotores.
Para Fabrício, que antes de trabalhar pensando políticas públicas na área de ciclomobilidade sempre gostou de pedalar, é verdade que ainda existe muita coisa a ser feita, não só em termos de infraestrutura, mas também na educação de motoristas, ciclistas e pedestres no processo de adaptação a esse novo momento por que passa a capital sergipana. "Nesse aspecto, a cidade não é perfeita e nunca vai estar. A ideia é que tenhamos sempre trabalho pela frente, pois a cada dia surgem mais utilizadores desse meio", declara o coordenador.
Ranking
Aracaju vem ganhando destaque, inclusive nacionalmente, quando o assunto é bicicleta. Hoje a cidade é a terceira capital brasileira no ranking da extensão de ciclovias, perdendo apenas para o Rio de Janeiro (150 km) e Teresina, no Piauí (60 km). De acordo com Fabrício Lacerda, isso acontece "em função das políticas públicas empreendidas pela PMA, que também vem propondo diversas ações a respeito desse veículo de forma extremamente séria", afirma ele.
O coordenador também chama atenção para uma importante especificidade da capital sergipana. "Diferente do que acontece em outras cidades, a Prefeitura tentou trabalhar com mais afinco direcionando esforços para as pessoas de baixa renda que utilizam a bicicleta no deslocamento casa-trabalho e trabalho-casa", enfatiza o coordenador.
Essa preocupação ganhou corpo a partir de uma pesquisa realizada há cerca de dois anos e meio pela SMTT, por meio da qual foi constatado que há uma utilização bastante intensa da bicicleta nos primeiros horários da manhã e nos últimos da tarde, justamente quando as pessoas vão e voltam para o trabalho.
Pesquisa
Os resultados da pesquisa apontaram também que 90% das pessoas que utilizam bicicletas em Aracaju são trabalhadores da construção civil. "Tudo isso estimulou a Prefeitura para que as primeiras ciclovias projetadas e construídas na cidade levassem aos bairros mais simples, principalmente os da Zona Norte", conta.
Para o coordenador de ciclomobilidade da SMTT, ainda há muita coisa para ser feita na cidade para estimular o uso da bicicleta, assim como para garantir a infraestrutura adequada aos aracajuanos que já pedalam. "Mas também existe bastante coisa boa. Muitas ciclovias estão sendo utilizadas tanto por pessoas que usam a bicicleta no trajeto para o trabalho quanto por aquelas que pedalam por opção, como forma de lazer", diz.
Mobilidade
Fabrício Lacerda afirma que as políticas públicas na área têm sido bem pensadas, mas estão apenas começando. "A nossa gestão trouxe essa nova perspectiva de mobilidade urbana, mas isso não é mérito apenas meu ou da Prefeitura. O mérito, na verdade, é da cidade, que está crescendo em função das bicicletas. A gente tem desenvolvido ações, mas sem o público nada disso aconteceria", explica.
É importante ressaltar que todas as ações propostas pela SMTT são resultado de um constante diálogo estabelecido com os ciclistas, principais interessados no assunto. "Contamos sempre com a ajuda dos próprios ciclistas e seus grupos, que estão cada vez mais envolvidos. Toda última quarta-feira do mês temos reuniões na SMTT para discutir o que eles estão pensando e como estão se posicionando a respeito disso. A melhor forma de prosseguir com essas políticas públicas é através do diálogo", declara.
Eventos
Uma das provas do incentivo dado pela Prefeitura de Aracaju com a finalidade de estimular o uso da bicicleta pelos aracajuanos são os passeios ciclísticos. Este ano, já foram realizados dois grandes eventos que levaram inúmeros ciclistas para pedalar pelas ruas da cidade. Fora isso, também ocorrem os passeios das terças-feiras, que saem da 13 de Julho em direção a vários pontos da cidade com o suporte dos agentes da trânsito da SMTT.
Como parte das comemorações do aniversário de 155 anos da capital, aconteceu no dia 14 de março o 3° Passeio Ciclístico da Cidade, um dos maiores realizados até hoje no Brasil, reunindo mais de cinco mil ciclistas. O evento foi iniciado na Colina do Santo Antônio e seguiu até a Passarela do Caranguejo, na praia de Atalaia, incluindo os principais pontos históricos e turísticos de Aracaju.
O último grande passeio promovido pela PMA foi a 2ª Pedalada do Trabalhador, realizada no dia 1º de maio. Desta vez, o percurso começou na praça do 28° BC, no bairro 18 do Forte, e se estendeu até a praça Osvaldo Mendonça, na avenida Poço do Mero, localizada no Bugio.
Segundo Fabrício Lacerda, os passeios têm sido muito bem organizados e tanto a população quanto o terceiro setor e a iniciativa privada vêm aderindo cada vez mais a essa mobilização. "O mais legal de tudo é que participam tanto pessoas com bicicletas compradas por menos de R$ 100 como aquelas com equipamentos que valem R$ 5 mil, todas juntas em uma mesma pedalada", comemora.
Já está previsto um grande passeio para o Dia Nacional do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho, com a participação do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE) e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Outra importante mobilização deve acontecer em 22 de setembro, no Dia Mundial Sem Carro.
Existem dois aspectos imprescindíveis para que as pessoas utilizem mais a bicicleta. O primeiro deles é a necessidade de se ter um local seguro para guardar o equipamento. "Claro que não é o ideal utilizar as bicicletas mais baratas. É óbvio que um equipamento que se adequa à sua altura e ao seu peso vai dar mais conforto ao ciclista, mas custa mais caro. Para usar cotidianamente bicicletas caras, é preciso ter onde guardá-las", explica Fabrício.
O segundo ponto é que as pessoas, naturalmente, transpiram muito ao pedalar, assim como em qualquer outra atividade física. Segundo o coordenador de ciclomobilidade da SMTT, a instalação de banheiros nos locais de trabalho torna-se cada vez mais necessária, pois caso contrário as pessoas terão cada vez menos interesse em utilizar esse tipo de veículo.
Futuro
Além de estimular a iniciativa privada a pensar soluções para estas questões, a Prefeitura também tem projetado estratégias para resolvê-las. "Daqui a algum tempo, teremos bicicletários públicos onde, além de guardar suas bicicletas e outros pertences com segurança, as pessoas possam também tomar banho, mesmo que seja cobrada uma taxa por isso", conta ele.
Um dos grandes desafios para o futuro, de acordo com Fabrício Lacerda, é interligar as ciclovias, para que as pessoas possam realmente cruzar toda a cidade de bicicleta. Segundo ele, já se pensa também em implantar na cidade um sistema de bicicletas públicas.
Outro projeto que já está em andamento, em parceria com a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), é o plantio de mudas de árvores próximo às ciclovias, para que elas possam reduzir consideravelmente a sensação térmica para os ciclistas. "Já queremos, até o final do ano, ter ciclovias mais arborizadas em toda a Aracaju", assinala o coordenador.
E as ambições da PMA não param por aí. "Queremos transformar Aracaju na cidade da bicicleta. Nós ainda não temos esse título, que é do Rio de Janeiro, cidade que possui mais ciclovias que a capital sergipana. Mas talvez Aracaju seja a cidade do trabalhador de bicicleta, pois esse tipo de ciclista aqui é maioria absoluta, muito mais do que pessoas que compram bicicletas de R$ 5 mil para passear na orla", garante.
Integração modal
O coordenador de ciclomobilidade da SMTT argumenta que "a solução para a mobilidade urbana é a integração modal e Aracaju é uma cidade propícia a isso". Através da integração modal, as pessoas podem se deslocar dentro da cidade com diferentes tipos de veículos", argumenta.
Trocando em miúdos, em cidades onde há integração modal, as pessoas podem ir de bicicleta até um determinado ponto, deixá-la em um local específico, com segurança, e seguir sua viagem em um ônibus ou metrô, por exemplo. Fabrício Lacerda adianta que na Prefeitura de Aracaju já existem projetos sendo pensados nesse sentido e que a integração modal pode ser uma realidade na cidade em um futuro próximo.