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Justiça manda reabrir o Canecão e casa anuncia shows

O Tribunal Regional da 2ª Região concedeu, no fim da tarde de sexta-feira, uma liminar que garante o direito de reabertura da casa de espetáculos Canecão, em Botafogo, interditada desde segunda-feira passada, quando a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguiu a devolução do imóvel. A liminar, no entanto, ainda não foi expedida oficialmente pela Justiça, o que deve acontecer somente na segunda-feira.

A direção do Canecão está confiante na reintegração, tanto é que a diretoria anunciou sexta-feira à noite que os shows que estavam programados para a semana que vem serão realizados. Na quinta-feira, a reabertura deverá ocorrer com o cantor de blues americano Johnny Winter. Neste período de fechamento, dois eventos foram cancelados. Na sexta-feira, subiria ao palco o cantor Georde Israel e sábado e domingo seria a vez de Edu Lobo.

Procurada pelo JB, a reitoria da UFRJ informou que recorrerá da decisão já na segunda-feira. A assessoria da universidade não quis revelar qual estratégia jurídica será usada para a reversão da situação.

Motivos da liminar

Advogado do Canecão, Pedro Awad explicou a decisão de sexta-feira. Segundo ele, a liminar foi pedida com base no fato de o Canecão ser inquilino e não poder perder a posse por conta de uma ação contra a Associação de Servidores do Brasil, proprietária do imóvel. Outro fator determinante para a concessão da liminar foi a ordem imediata de remoção.

– Teriam de dar um prazo de, no mínimo, 30 dias para a retirada. Ordens imediatas de integração só se dão em casos de invasão de propriedade – explicou Awad. – A decisão da reintegração tem que ser cumprida a partir da expedição. A menos que a UFRJ resolva devolvê-la espontaneamente neste fim de semana – completou.

Cancelamento em protesto

Apesar da liminar, a produção do grupo teatral de comédia Os Melhores do Mundo confirmou sexta-feira à noite que não fará as apresentações marcadas para a casa entre quinta e domingo da semana que vem, apesar de a diretoria do Canecão contar com a realização do evento. O cancelamento é um protesto contra o imbróglio judicial desta semana.

– Se fosse com a grande indústria não fariam um ato desses. Como se tratava da classe artística, fizeram o que bem entenderam e não nos trataram com respeito em momento nenhum – disse o produtor executivo do grupo, Carlos Henrique Rocha. – Soma-se essa nossa insatisfação à insegurança do público, que pode ter o show cancelado novamente a qualquer instante. A Justiça agiu muito mal. Não deveriam fazer a remoção no mesmo dia. Foi um desrespeito a nós, artistas.

O grupo Os Melhores do Mundo estrearia nova peça no Canecão. Carlos Henrique não soube precisar o prejuízo financeiro com o cancelamento dos shows.

Produtora do cantor Edu Lobo, Dulce Lobo, achou a reabertura do Canecão positiva.

– Apesar de não contar com grande estrutura, o Canecão é a única casa viável para se fazer shows no Rio. O Vivo Rio é muito grande e o Citibank Hall, distante – disse.

Caneca de mão em mão

Inaugurado em 1967, o Canecão, localizado em uma das área mais nobres da Zona Sul da cidade, foi devolvido à UFRJ na última segunda-feira, por uma decisão do juiz Fábio César Oliveira, da 3ª Vara Federal do Rio. Imediatamente, policiais federais realizaram uma operação pacífica, e a casa, palco de shows históricos da MPB, foi lacrada. No dia seguinte, a assessoria da Justiça Federal informou que não cabiam recursos dos antigos ocupantes, pois era uma decisão em última instância. No dia seguinte, funcionários que chegavam para trabalhar foram surpreendidos com a casa fechada. O reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, ainda concedeu uma entrevista, na terça-feira, na qual detalhou que o terreno seria administrado pela própria instituição, e que tentaria parcerias com empresas estatais para conseguir recursos. Ele também confirmou o cancelamento de todas as atrações programadas, pois o contrato era com a empresa Canecão Espetáculos e Empreendimentos Teatrais, que geria o local.

Fonte: Jornal do Brasil