A verdade por trás da "verdade": o que Veja esconde dos leitores
Este blog criticou duramente a revista Veja em seu último texto, "Não Veja", pela matéria publicada pela revista a respeito das universidades federais e em especial pela Universidade Federal do ABC. Este blog se baseou nas informações fornecidas pela própria reitoria da UFABC para esclarecer e desmentir cada crítica e inverdade publicada na matéria da Veja.
Por Thiago Boroski, em seu blog
Publicado 10/04/2010 14:02
A prova que este blog estava correto nas suas afirmações e críticas com relação a esta revista veio da mesma pessoa que a Veja usou para comprovar suas constatações. A estudante Camila Primerano Evangelista, apresentada na matéria como uma dentre os muitos estudantes descontentes com a UFABC e relatando uma alta evasão de alunos, veio até este e espontaneamente deixou o seguinte comentário:
"Olá, eu sou uma das alunas da UFABC que, infelizmente, apareceu na foto da reportagem. Infelizmente por que realmente eles conseguiram destorcer absolutamente TUDO o que declaramos. Além de nos fazer a mesma pergunta inúmeras vezes, talvez para ver se mudávamos de opinião sobre a universidade, também nos proibiram de sorrir ao tirar as fotografias. Outro absurdo que só entendemos quando lemos a reportagem publicada. Na hora das fotos, o fotógrafo dizia-nos: ‘Sorria apenas com os olhos!’, e se abríssemos um sorriso eles nos mandava ficar sérias. Portanto, para mim está mais do que comprovado que esta mídia não é nada confiável, além de totalmente tendenciosa. E o pior mostra a nação como se trabalha sem nenhuma Ética. Um total absurdo…"
Este comentário foi deixado no texto "Não Veja", mas faço questão de dar o devido destaque a ele, pois comprova de maneira clara e incontestável o tipo de jornalismo que esta revista pratica: um jornalismo tendencioso, manipulador e voltado a interesses muito acima da moralidade e da ética.
A revista Veja publicou na edição desta semana uma reportagem com o seguinte título: "Pecados pouco originais", na qual trata de maneira extremamente tendenciosa e inconsequente as novas universidades federais inauguradas durante o governo Lula, dando destaque para a Universidade Federal do ABC.
Com um texto repleto de afirmações inverdadeiras e acusações vazias, a reportagem passa a ideia de que a universidade, apesar de recém-criada, está condenada ao fracasso. Cita interesses sindicais como justificativa para sua criação, e fala em incompetência administrativa como o fator determinante para sua falta de expressão no cenário universitário.
E mais; questiona número de professores, alunos e vagas remanescentes na instituição. Por outro lado, distorce dados e omite informações oficiais a respeito das atuais condições da universidade.
A Universidade Federal do ABC foi criada por um projeto de lei em 2004 e inaugurada em 2006, funcionando em dois prédios alugados. De lá para cá, tiveram início as obras do seu campus oficial, que em 2008 teve um de seus prédios inaugurados.
O que a matéria cita como “obras de expansão” na verdade trata-se das mesmas obras que vêm sendo executadas desde 2006, sem alterações do projeto original, cuja maquete encontra-se no hall de entrada da universidade, podendo ser vista por qualquer visitante, e até mesmo por repórteres como os da revista Veja.
No seu quinto ano de existência, a UFABC conta hoje com 4.300 alunos, entre veteranos e ingressantes, e um corpo docente de 280 professores em exercício, havendo a previsão de posse para mais 120 até o final de 2010. Deve-se destacar que todo o corpo docente da universidade é obrigatoriamente composto por doutores em regime de dedicação exclusiva.
Diante desses números, constata-se que há na universidade um professor para cada 15 alunos, e não para cada seis alunos, como divulga a reportagem. Esses números podem ser encontrados facilmente no site da universidade e foram passados à reportagem da Veja, segundo informação do Gabinete da Reitoria da UFABC.
No ano de 2009, a universidade disponibilizou por meio do seu vestibular 1.500 vagas, das quais 1.387 foram preenchidas, o que corresponde a 92,5%. Desses alunos, 1.158 concluíram o ano letivo, totalizando uma evasão de 16,5%, muito distante dos 40% divulgados pela Veja.
Em 2010, das 1.700 vagas oferecidas através do Sistema de Seleção Unificado do MEC (Sisu), apenas 76 não foram preenchidas, equivalente a 5%. Entretanto, a lista de espera do MEC para a UFABC conta com mais de 4 mil alunos. Segundo o balanço do MEC, a UFABC foi a universidade federal mais procurada para ingresso pelo Sisu, muito à frente das demais.
Todos esses dados também estão disponíveis no site da universidade, também foram passados à reportagem e, curiosamente, também foram distorcidos; os 46% de evasão citados pela Veja referem-se ao ano de inauguração da universidade, 2006, e estão muito distantes da atual realidade.
A UFABC foi instalada numa região de conhecida importância industrial carente de instituições de ensino de ponta, e de também conhecida atuação sindical. Agora, quem vive o cotidiano da universidade sabe da inexistência de qualquer atuação de sindicatos nas suas ações, muito menos em linhas de pesquisa.
As trocas de reitores, as quais a reportagem tenta atribuir ao atendimento de vontades sindicais, foram explicadas pelo Gabinete da Reitoria, como consta no site da UFABC, porém não foram publicadas pela Veja; em seu lugar, encontra-se essa suposição sem qualquer fundamento.
Mesmo com tão pouco tempo de existência, a Universidade Federal do ABC já ganhou posição de destaque internacional como centro de excelência em pesquisas na área de nanotecnologia, sendo sede de um congresso que recebeu pesquisadores do mundo inteiro em 2009. Mesmo diante de fatos como esse, a Veja consegue enxergar uma "ociosa e ineficiente" instituição de ensino.
De maneira incoerente, propõe a utilização dos recursos gastos na UFABC na ampliação do ProUNI, para ocupação das vagas em universidades particulares, conhecidamente voltadas ao mercado de trabalho, ao mesmo tempo que critica a falta de incentivo às pesquisas no Brasil. Curiosamente, talvez até por um deslize do seu redator, a própria reportagem ressalta a proposta de ensino da UFABC, visando à formação de pesquisadores e professores.
É extremamente preocupante que alunos e professores sejam jogados no limbo do ensino superior por pura e simples vontade de uma revista extremamente política e tendenciosa, que vai contra tudo no Brasil que tenha a marca de nove dedos de um nordestino, e não a marca de dez dedos de qualquer elitista diplomado.