Altamiro Borges: TV Globo manda no futebol e no Kassab
Como já era esperado, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) vetou ao projeto de lei 564/06, que restringia o horário do término dos jogos de futebol nos estádios da capital paulista até as 23h15. Numa nota lacônica, o demo alegou que “a limitação não parece razoável”. O projeto, de autoria dos vereadores Antonio Goulart (PMDB) e Agnaldo Timóteo (PR), foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo em 10 de março. Mas, novamente, o prefeito cedeu à TV Globo.
Por Altamiro Borges, em seu blog
Publicado 09/04/2010 11:01
Com mais esta decisão antipopular, o demo revela todo o seu servilismo diante da Rede Globo e prejudica os amantes do futebol, impondo horários inviáveis aos paulistanos que gostam de ir aos estádios. Já a poderosa emissora, que se coloca acima dos anseios da sociedade na defesa de seus lucrativos negócios, demonstra todo o seu desrespeito aos torcedores e ao futebol brasileiro – que é encarado como mais uma mercadoria e não como um entretenimento popular.
“Televisão não pode regulamentar a vida”
Durante os intensos e tensos debates na Câmara de Vereadores, a prepotente a TV Globo sequer enviou seus representantes para discutir o tema. Apostou suas fichas no medo dos parlamentares e, como último recurso, no veto do prefeito. Mas, pressionados por vários setores da sociedade, os vereadores surpreenderam a emissora ao aprovar o projeto. Além da crítica dos torcedores, os vereadores sentiram a pressão de outros setores descontentes com o horário de transmissão das partidas. A Rádio Jovem Pan, por exemplo, fez campanha explícita pela aprovação do projeto.
Em editorial veiculado diariamente, ela atacou a TV Globo pela “forma primária e leviana como se pretendeu manipular a opinião pública e a consciência dos nossos vereadores e deputados”. Ainda segundo o editorial, “a grade de uma televisão não pode regulamentar a vida, a ponto de prejudicar a paz, o sono e a segurança dos cidadãos, o descanso de todos, de quem vai ao estádio e de quem assiste TV em casa. Essa não é uma briga do bem contra o mal. É um movimento que coloca o apelo popular, as pessoas pedindo o fim dos jogos às 10 da noite, o bom senso, enfim”.
Rebelião das outras emissoras
A pressão, porém, não foi suficiente. A Rede Globo contou com a fidelidade do prefeito Kassab, que deve favores à emissora por sua projeção política. Na prática, ela continuará mandando no futebol brasileiro, impondo horários absurdos para os jogos. Ela detém o direito de transmissão do campeonato nacional e de vários torneios estaduais, o que já provoca distorções, obrigando os torcedores de determinados estados a assistirem partidas de outras localidades. Este monopólio também prejudica outras emissoras de televisão, que se submetem à grade da TV Globo.
Antonio Carlos Teixeira, em artigo no Observatório da Imprensa, chega a fazer um apelo para que as outras redes de televisão se rebelem. “Essa postura, que revela a crueldade do monopólio da transmissão esportiva, tem passado dos limites. Por isso, a necessidade das demais emissoras se unirem para tentar quebrar o monopólio do TV Globo. O torcedor não tem mais opção aos domingos e às quartas-feiras. Engole-se aquilo que lhe enfia goela abaixo. No seco. Sem choro”.