Luis Nassif: O que pensa Dilma Rousseff
Afinal, o que pensa a provável candidata à presidência, Dilma Roussef? Nesta quinta-feira será lançado um livro com o texto completo de uma entrevista com ela, feita por Emir Sader, Marco Aurélio Garcia e Jorge Mattoso.
Por Luis Nasiuf, no Último Segundo
Publicado 18/02/2010 14:39
O nome do livro é “Brasil, entre o passado e o futuro”. Parte pequena da entrevista foi antecipada pela “Folha”esta semana.
A entrevista completa permite uma visão consolidada dos novos princípios de política econômica, papel do Estado, papel da Cultura, meio ambiente e outras teses que amadureceram ao longo dos últimos anos.
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Na primeira parte da entrevista, é solicitado à Dilma que defina as diferenças entre o governo Lula e seus antecessores.
Dilma resume em quatro movimentos estruturais: crescimento da economia com estabilidade, expansão do mercado interno, reinserção internacional do país e redefinição das prioridades do gasto público.
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No primeiro movimento, foi fundamental a política monetária, com metas de inflação, a redução gradativa dos juros e a acumulação de reservas cambiais pelo Banco Central, diz ela.
No segundo movimento, a expansão do mercado interno foi garantida pela distribuição de renda, tanto pessoal como regional, e pela expansão do crédito. Houve também a contribuição da universalização dos serviços públicos (com programas tipo Luz Para Todos), salário mínimo acima da inflação, aposentadoria rural e Bolsa Família, permitindo acelerar a mobilidade social.
O terceiro movimento, o da reinserção internacional, permitiu ao país se projetar como liderança efetiva, regional e mundial, como país exportador e destino de investimentos externos. Há que se discutir melhor essa reinserção que, em cima de um real caro, prejudicou enormemente a geração interna de riqueza e de emprego.
Mas, no campo diplomático, permitiu ao país relações privilegiadas com a América Latina, a África, o Oriente Médio e a Ásia, diz ela.
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O quarto movimento – no qual o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) teve papel central – consistiu na redefinição das prioridades do gasto público, uma maior ênfase no investimento e nas políticas sociais e uma parceria estratégica com o setor privado e os estados e municípios.
Foi por aí que se desenhou o novo modelo de articulação federativa no país, um dos grandes obstáculos à gestão pública eficiente.
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Como todos esses movimentos se refletiram sobre os diversos Brasil? Beneficiaram especialmente os mais pobres, diz Dilma, com 22 milhões de pessoas sendo resgatadas do nível da miséria. Também surgiu uma nova classe média, que passou a contar com 31 milhões de novos consumidores.
No campo, fortaleceu-se a agricultura familiar, segmento importante na geração de alimentos e distribuição de renda. Ao mesmo tempo, com a política de crédito abriu-se espaço para os segmentos exportadores do agronegócio.
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Nos próximos dias, vamos conferir as ideias daqui para frente, qual a posição frente ao setor privado, ao novo papel do Estado, à ecologia.
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No depoimento, Dilma identifica como pontos centrais do governo Lula a visão de integração com a Alca que, segundo ela, teria um vies desindustrializante. E afirma que Lula implantou uma “política agressiva de expansão da indústria brasileira e do setor de serviços”.
O ponto central foi a mudança na política de compras da Petrobras – de fato, um divisor de águas. Segundo o depoimento, significou investir no país US$ 2 bilhões que seriam colocados em aquisições externas.
Outro ponto importante foram as leis definindo percentagens de conteúdo local nas compras, rompendo com dogmas anteriores, de se basear apenas no menor custo (com câmbio não competitivo).
Mencionou ainda a política de desenvolvimento produtivo, apoiando setores inovadores, com incentivos coordenados para a pesquisa e a inovação, como na indústria de fármacos, para dar um exemplo.
Nesse item específico, ficou-se apenas nas intenções. A PDP não obteve sucesso até agora e as políticas de inovação ainda estão longe de atingir o setor privado. O PAC da Inovação não funcionou assim como o PAC da Saúde.
Mas acerta quando diz que o setor industrial se deu conta de que o Estado não é concorrente, mas indutor e parceiro. Essa história dos tentáculos do Estado só serve de alimento para a mídia. Para o setor produtivo, ficou no nível das lendas urbanas.
“Isso fica evidente quando analisamos o impacto positivo do PAC, dos investimentos em saneamento e do programa Minha Casa Minha Vida no setor da construção civil, para dar mais um exemplo”, diz ela.
Outro ponto positivo apontado por ela foi a democratização do crédito e o acesso a todos os setores produtivos.
No caso das pessoas físicas, vale. Mas no caso das pequenas e médias empresas, ainda se está muito longe do ideal. O governo não teve coragem de atacar decididamente a questão do custo do dinheiro.
Na sua entrevista, passa ao largo de dois pontos centrais: o apoio às pequenas e micro empresas e a política cambial.