Repressão: BM agride e prende trabalhadores em Caxias
A paralisação dos funcionários da Randon, que protestavam contra a má divisão dos lucros da empresa foi alvo de violência da Brigada Militar na manhã desta sexta-feira (12), o que resultou em mais de 10 feridos, além de três prisões, entre elas do presidente do sindicato e vereador Assis Melo (PCdoB).
Publicado 13/02/2010 11:30 | Editado 04/03/2020 17:11
A assembléia desta sexta foi a continuidade de uma série de protestos que vinham ocorrendo nos últimos dias. O objetivo era a revisão dos cálculos do programa de distribuição de lucros (PPR) aos funcionários da empresa, já que no dia 5 de fevereiro os trabalhadores ficaram surpresos com o baixo valor apresentado pela empresa: R$ 40 em média por funcionário.
A Randon optou por endurecer e não abir qualquer possibilidade de revisão, diante disso iniciaram as assembléias na porta da fábrica. No dia 10, cerca de 90% dos trabalhadores do turno da noite paralisaram as atividades. Na quinta-feira, a Randon conseguiu uma decisão judicial proibindo assembleias a menos de cem metros da empresa.
Repressão
Os sindicalistas optaram por seguir a orientação judicial e se instalaram com o carro de som a mais de 500 metros da avenida, na Rua Atílio Andreazza, que dá acesso à empresa, no bairro Sagrada Família. Por volta das 6h30 os manifestantes resolveram trancar a rua para a realização de mais uma assembléia. A Brigada Militar (BM) foi acionada para acompanhar a manifestação. Nem bem chegou e já partiu para a ação de desmobilização do protesto. O primeiro ato foi a prisão do presidente do sindicato, vereador Assis Melo (PCdoB), o que intensificou o conflito, deflagrando confronto entre policiais, sindicalistas e trabalhadores.
"Estávamos obedecendo a uma decisão judicial e fazendo uma manifestação pacífica até os policiais chegarem", relatou o vice-presidente do sindicato, Leandro Velho.
Ao sair da delegacia, Assis Melo considerou a ação da BM arbitrária. "Houve despreparo da polícia. Não havia razão para agirem com essa violência. Eu me sinto agredido moral e fisicamente", afirmou Melo.
Comando da BM instaura inquérito para apurar conflito
O comando da BM instaurou inquérito policial militar (IPM) para apurar as causas do conflito. A decisão foi do coronel Telmo Machado de Souza, titular do Comando Regional de Policiamento Ostensivo da Serra (CRPO-Serra). O IPM tem 40 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado por mais 20 dias.
Entre os argumentos usados pelo comando da BM está o de que os sindicalistas estariam desrespeitando a orientação judicial, o que estes consideram absurdo tendo em vista que estariam a uma distância muito maior do que aquela determinada pela justiça.
Randon: histórico de intransigência
A posição da Randon frente ao protesto não surpreendeu os dirigentes sindicais. A intransigência tem sido o padrão da empresa frente às discussões que envolvem direitos trabalhistas e sociais. "Nunca priorizam o diálogo com o sindicato", enfatiza Leandro Velho.
Na opinião do dirigente, caso a empresa tivesse demonstrado preocupação em resolver o problema e proporcionar mais justiça na distribuição dos lucros, nada desses fatos teriam ocorrido. "A Randon sempre tenta dificultar, ataca os direitos sociais dos funcionários, tenta demitir dirigente sindical, e acham que isso vai ser aceito passivamente pelos trabalhadores", assinalou.
O sindicato vai continuar a luta para que haja a revisão no cálculo da PPR na empresa. "Prova da intransigência da Randon é que a juíza do trabalho sugeiu que fosse pago R$ 900 para cada trabalhador e a empresa negou, afirmando que não vai alterar o cálculo", completou Velho.
Veja a nota conjunta do Sindicato e da CTB
O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) repudiam a atitude da empresa Randon, que, de maneira antidemocrática, entrou na Justiça para impedir a manifestação legítima dos trabalhadores que lutavam por mais direitos. Repudia também a atitude da Brigada Militar, que agiu com violência para impedir a manifestação dos trabalhadores.
Estranhamente, esse tipo de violência tem se repetido no Rio Grande do Sul, principalmente em manifestações de trabalhadores, que, por lei, deveriam ter assegurado o direito da livre manifestação. Por isso questionamos: qual o papel da Brigada Militar, que não consegue garantir a segurança dos cidadãos comuns, mas age com violência contra trabalhadores?
Da redação local