Rússia quer que a Renault conserte o Lada
A Rússia está tentando convencer ou forçar a Renault a ajudar a pagar pelo resgate de sua maior montadora, a fabricante dos sedãs em forma de caixa Lada, que já estava em dificuldades antes da crise varrer o globo e que agora está à beira da falência.
Publicado 16/11/2009 01:34
Mas a Renault, a fabricante de carros francesa que comprou uma participação de 25% na Avtovaz por US$ 1 bilhão antes da recessão, está enfrentando profundos problemas próprios de reestruturação em casa, e deslocou suas atenções para mercados mais promissores, como a Índia e carros elétricos.
Ela ofereceu reequipar a fábrica, retirando os projetos da Fiat comprados pela União Soviética há quatro décadas. para atender às plataformas fabricadas pela Renault -mas apenas se os russos entrassem com o dinheiro. No início deste ano, a Renault retirou a maioria de seus aproximadamente 15 funcionários estrangeiros da fábrica.
Agora, com a ameaça do aumento de greves raivosas -assim como o desaparecimento de outra marca com história- a pressão está aumentando sobre o governo russo, que também é dono de um quarto da Avtovaz.
No mês passado, o primeiro-ministro russo, Vladimir V. Putin, disse que a participação acionária da Renault na Avtovaz poderia ser diluída caso ela não coinvestisse ao lado do governo em um resgate. Mas longe de cumprir a ameaça, um vice-primeiro-ministro, Igor Shuvalov, disse neste mês que os franceses seriam bem-vindos a aumentar sua participação acionária.
Putin planeja viajar para a França para discutir a situação, disse seu porta-voz, Dmitri S. Peskov, na semana passada. Shuvalov disse que um comitê do governo se reuniria em 20 de novembro para estudar as opções.
Infelizmente para a Rússia, os problemas da fábrica coincidem com um senso de que a Renault está perdendo interesse no Leste Europeu.
Peter Wells, um diretor do Centro para Pesquisa da Indústria Automotiva da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, apontou para o Logan, o carro de baixo custo da Renault produzido pela sua unidade de Dacia, na Romênia. Ele vende bem nos mercados ocidentais, onde custa a partir de cerca de 5 mil euros, ou US$ 7.500, o que é relativamente barato. Mas as vendas foram decepcionantes nos ex-países soviéticos.
"O Logan supostamente deveria liderar um imenso aumento do volume de vendas na Europa Central e Oriental", disse Wells, "mas isso nunca aconteceu".
Ele disse que as economias do Leste Europeu -sofrendo seriamente da seca global de crédito e da moderação nos preços dos commodities- não mais oferecem as perspectivas de outros mercados, notadamente a China, Índia e América Latina.
Nesta semana, Carlos Ghosn, o presidente-executivo da Renault e de sua parceira japonesa, a Nissan, disse que suas empresas começariam a vender um carro pequeno na Índia em 2012, que custaria menos do que qualquer outro carro vendido no país -e, consequentemente, no mundo.
O carro, a ser fabricado pela empresa indiana de scooters e riquixás, Bajaj Auto, é a resposta da Renault e Nissan ao Nano. Este carro, fabricado pela Tata Motors, a maior montadora indiana, começou a ser vendido neste ano por apenas US$ 2.500.
Em comparação, o Lada mais barato, o desenho original atualmente vendido como Klassika, custa US$ 4.160.
Wells também disse que os carros elétricos -repentinamente valorizados no Ocidente- provavelmente venderiam menos nos países do Leste Europeu, que não podem bancar os grandes incentivos que os governos do Ocidente provavelmente fornecerão a fabricantes e compradores.
Ainda assim, a Renault insiste que está na Rússia com pensamento a longo prazo.
"Nós a vemos como um mercado estrategicamente importante para o futuro", disse Frédérique Le Grèves, uma porta-voz da Renault em Paris. "Por ora, nós não pretendemos aumentar e nem reduzir a participação acionária."
Ao longo do último ano, as vendas caíram juntamente com a recessão. A Renault cortou a produção e empregos, além de colocar muitos funcionários em jornadas de trabalho reduzidas.
Neste ano, o governo francês disse que emprestaria à Renault e sua principal rival doméstica. a PSA Peugeout Citröen, 3 bilhões de euros para cada ao longo de cinco anos, a uma taxa de juros de 6%. O presidente Nicolas Sarkozy disse que os fundos deveriam ser usados para investimento em tecnologias limpas, e que os recebedores se comprometiam a não fechar nenhuma fábrica pela duração do empréstimo, fazendo tudo o que pudessem para evitar demissões.
Logo, a empresa está limitada e não poderia injetar dinheiro no empreendimento mesmo se quisesse, disse uma pessoa com conhecimento da estratégia da Renault.
O chefe da Renault para a região russa, Christian Esteve, está conversando regularmente com Putin "e eles pensam de modo semelhante", disse Le Grèves. "A Renault está fornecendo gestão e apoio técnico, mas não fornecerá dinheiro."
Essa posição deixou as autoridades russas perplexas. A ampla, e atualmente semifechada, fábrica é a principal empregadora em Tolyatti, uma cidade atualmente fervilhando com a ameaça de distúrbios. Isso, e não as metas de longo prazo da Renault, é o que predomina na mente das autoridades russas atualmente.
Veteranos da indústria automotiva russa dizem que a Renault provavelmente está correta ao afirmar que qualquer investimento no momento provavelmente apenas compraria alguns poucos meses de estabilidade social, em vez de instalar novas plataformas de carros.
Yulia A. Rusanova, uma analista da indústria automotiva do Deutsche Bank em Moscou, disse que o problema é que os horizontes de planejamento da Avtovaz ruíram para uma questão de poucos meses. A nova plataforma levaria dois anos ou mais para ser instalada.
"Sem apoio do governo", ela disse, "a empresa não vai suportar".
Fonte: The New York Times
Tradução: George El Khouri Andolfato