Otimista e fortalecido, PCdoB começa hoje seu 12º Congresso
Começa na noite desta quinta-feira (5) o 12º Congresso do PCdoB. Cerca de 1.500 pessoas devem passar pelo Anhembi, em São Paulo, até domingo, quando termina a plenária final. O Partido chega a esta etapa otimista, em fase de ascensão e confiante na possibilidade de contribuir para implantar no país um novo projeto nacional de desenvolvimento que sirva como caminho brasileiro para o socialismo. “Estamos numa fase favorável e podemos dar passos ainda maiores”, afirma o presidente Renato Rabelo.
Publicado 05/11/2009 12:00
Durante os quatro dias de plenária final do 12º Congresso, os internautas poderão acompanhar suas atividades através do portal Vermelho e da página especial do 12º Congresso. Serão reportagens escritas, transmissão ao vivo da plenária, vídeos-reportagens, programação de áudio e galeria de imagens que levarão aos militantes e simpatizantes do PCdoB informação atualizada sobre os principais acontecimentos do Congresso. Os participantes do evento também poderão contribuir enviando seus próprios vídeos.
Um dos principais momentos será o ato político, nesta sexta-feira, que contará com a presença do presidente Lula, além de ministros, parlamentares e figuras destacadas da política nacional. Além de sua programação tradicional, o Congresso terá show de Jorge Mautner, lançamento de livros – como o do presidente Renato Rabelo, Ideias e rumos –, lojas e atividades culturais.
Da resistência à era Lula
Num momento em que o mundo lembra os 20 anos da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, o PCdoB comemora o fato de, desde então, ter não apenas resistido ao fim da experiência soviética e do leste europeu como, também, ter crescido em número e em influência política. Em 2001, quando o partido realizava seu 10º Congresso, contava com 33.948 membros. Quatro anos depois, no 11º Congresso, saltou para 69.638. Hoje, alcança 102.332 (veja o mapa por região). Mas não é só isso: aumentou sua bancada federal, tendo hoje 14 deputados e um senador, um ministro (Esporte), centenas de prefeitos e vereadores e prestígio crescente nas frentes política, social e intelectual.
“Com o fim da ditadura militar, o PCdoB compreendeu que a formação de um partido que atuasse no âmbito dos trabalhadores, o PT, não poderia ser antagônico ao PCdoB. E compreendemos que mesmo não tendo a mesma ideologia, o PCdoB podia ser um aliado importante porque o PT expressava os anseios dos trabalhadores naquele momento”, lembra Rabelo.
Nascia assim a parceria histórica que culminou com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. “Percebemos que mesmo sendo força minoritária, deveríamos participar de seu governo”, diz. “E com isso, quebramos uma série de tabus. Mesmo em períodos de crise, não entramos no ‘bloco dos desesperados’, mas ao mesmo tempo compreendemos quais eram os limites do governo”. Assim, o partido não só ajudou nesse novo ciclo aberto por Lula como também se beneficiou dele. “O aumento de nossa influência política está ligado ao fato de termos tido maior acesso ao nosso povo, o que de outra forma o PCdoB não teria conseguido”, reconhece Rabelo.
O dirigente lembra que o PCdoB percebeu nas vitórias do governo Lula e nas transformações de sentido popular, anti-imperialista e de esquerda ocorridas na América Latina o nascimento de um novo contexto. “Todo esse contexto levou o partido a compreender que precisava ter maior audácia política e aumentar sua atuação e influência no plano político e social. O PCdoB passou a ter uma ação mais efetiva nos processos eleitorais. Os comunistas se restringiam apenas às eleições proporcionais – o que dificultava o reconhecimento do partido pela maioria do eleitorado – e com essa decisão, passou a disputar eleições majoritárias e a ser mais conhecido”.
No campo das lutas sociais, o PCdoB resolveu investir numa nova central sindical de caráter classista e plural que buscasse a hegemonia dos trabalhadores na sociedade. Nascia assim, em 2007, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “Num primeiro momento, isso parecia quase impossível, mas junto com outras forças políticas e tendências sindicais conseguimos construir a central, o que hoje mostra que a posição adotada foi justa. A CTB se amplia e nunca tivemos uma influência tão grande no âmbito sindical e operário como temos hoje”, enfatiza.
Adaptação à realidade concreta
Ao analisar a trajetória do PCdoB desde sua criação, em 1922, até os dias atuais, Renato Rabelo constata que apesar de todas as mudanças pelas quais passou, conseguiu manter sua identidade comunista e revolucionária. “Quando foi reorganizado em 1962, o partido buscava justamente reafirmar sua feição revolucionária contra qualquer tentativa reformista ou revisionista”.
Assim, quando nos anos 1990 parte do movimento comunista entrou num processo de negação de sua ideologia, o PCdoB seguiu mantendo suas posições. Ao mesmo tempo, porém, o partido procurava renovar sua política e organização a fim de tornar-se contemporâneo. “Um partido de ação política deve estar no centro dos grandes acontecimentos políticos. A renovação e a contemporaneidade se deram, portanto, neste sentido. Manter a rigidez de posições sem levar em conta as mudanças do tempo poderia nos transformar numa seita. Por outro lado, o Partido não podia se transformar num corpo amorfo, jogado a uma vala comum em que muitos partidos entraram de defesa de posições social-democratas”.
Lição principal tirada desde o fim da experiência soviética é que não há modelo único de construção do socialismo. “Muitos imaginam e insistem na ideia de que se não seguirmos uma determinada fórmula de conquista do poder, estaremos caindo no revisionismo e esta é uma visão superada. Mesmo dentro do partido havia visões dogmáticas que limitavam a emancipação do pensamento e isso é antidialético. Por isso, seguimos um caminho que levava em conta a nova realidade política brasileira”, diz Rabelo. Mas, enfatiza: “não abrimos mão de algumas questões que são essenciais e uma delas é que o capitalismo é finito e pode ser superado. E o nosso grande objetivo é a superação profunda e revolucionária deste sistema, abrindo caminho para uma sociedade mais avançada”.
Debruçado sobre essa nova fase aberta por Lula, o PCdoB procurou formas de alcançar a sociedade socialista com um olhar adaptado ao contexto atual somando a isso as lições deixadas pela queda da URSS. “Era preciso combinar reformas estruturais e rupturas levando em conta acumular forças para se atingir nosso objetivo maior”, colocou.
Assim, ao longo dessa caminhada, os comunistas chegaram à formulação que hoje é o ponto fundamental defendido em seu 12º Congresso: a busca por um novo projeto nacional de desenvolvimento capaz de superar as dificuldades estruturais do país que ainda o impedem de alçar vôos mais altos. “Estamos em um momento em que podemos criar condições para o socialismo desde que possamos desenvolver um novo projeto nacional que enfrente as deformações acumuladas na trajetória do Brasil. Podemos contribuir para elevar a consciência social e política da maioria da população e dos trabalhadores, o que nos aproxima da sociedade socialista”.
É neste espírito que milhares de comunistas de Norte a Sul do país se reuniram durante os três meses de processo congressual para discutir a linha de atuação do Partido nos próximos quatro anos em consonância com as necessidades brasileiras. “Este congresso se realiza num momento muito favorável e sem dúvida a linha adotada pelo governo Lula contribuiu diretamente para isso. Ou seja, temos de aproveitar para impulsionar as transformações que o Brasil necessita levando em conta uma nova realidade de maior soberania, democratização, conquistas sociais e aprofundamento das relações com os vizinhos em torno de uma integração solidária. Podemos e vamos dar passos ainda maiores. O PCdoB está muito otimista”.
Da redação,
Priscila Lobregatte
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