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Só falta o 'sim' do Paraguai e Venezuela estará no Mercosul

A Venezuela está "a um passo de entrar no Mercosul", conforme noticiou nesta quinta-feira (29) o site do The Wall Street Journal. Vencida a barreira oposicionista no Senado do Brasil, falta apenas o Legislativo do Paraguai se pronunciar. Mas em Assunção poucos duvidam que o pedido de Caracas será aceito. O tema está na pauta do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, nesta sexta-feira, no norte da Venezuela.

A Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro aprovou hoje, por 12 votos contra cinco, o pedido de ingresso no Mercosul feito três anos e meio atrás pela Venezuela. A matéria será votada em plenário na semana que vem, e todos os observadores esperam uma nova vitória da proposta integracionista.

Os governos dos quatro membros plenos do bloco (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) já tinham concordado com a solicitação venezuelana, assim como os Parlamentos argentino e uruguaio e a Câmara dos Deputados brasileira. Com a perspectiva de liquidação do processo de consultas no Brasil, resta apenas o aval do Legislativo do Paraguai.

Vantagem do antichavismo é só aparente

À primeira vista, a inclinação da maioria dos 45 senadores é conservadora e abertamente antichavista. A maior bancada (15 senadores) é a do Partido Colorado, que esteve no poder durante a longa ditadura Alfredo Stroessner e só saiu no ano passado, com a eleição do presidente progressista Fernando Lugo.

Luis Alberto Castiglioni Soria, que preside o Partido Colorado desde sua derrota para Lugo, é um desses senadores, e declara-se contra o ingresso venezuelano. "Há um risco absoluto de contaminação ideológica que sem dúvida destruirá o Mercosul", diagnosticou ele. "Estou convencido de que o presidente venezuelano quer nos usar em seus afãs hegemônicos", agregou.

Neste momento, o que tramita no Senado paraguaio é uma moção de "enérgico repúdio" à "política externa expansionista da República Bolivariana da Venezuela". Lugo, um ex-bispo católico da teoligia da libertação, viu-se forçado a retirar de pauta o pedido de admissão da Venezuela, pois este corria o risco de ser derrotado.

Porém o Legislativo paraguaio dificilmente se isolará na condição de único contestador do pedido de Caracas. Não depois da derrota da oposição antichavista no Senado em Brasília.

Os legisladores paraguaios levarão em conta a opinião unânime de seus vizinhos, inclusive o Brasil de Lula, de quem Lugo obteve importantes concessões em junho, relativas ao uso da energia da hidrelétrica binacional de Itaipu. Não hão de querer ficar com a pecha de sabotadores do bloco do Sul, impedindo a entrada de um país com US$ 320 bilhões em 2008, o maior do continente depois do brasileiro e do argentino, 30% maior que o colombiano.

Pesa também neste cenário o profundo descrédito em que se encontra o conservadorismo guarani, depois da derrota que sofreu com a eleição de Lugo, em 20 de abril do ano passado. O próprio Castiglioni reconhece, são palavras dele, que o seu partido "fomentou e consolidou nas últimas décadas um sistema político da prebenda e do clientelismo", que era um "sistema desumano" e que "implodiu". Diz também que quer "ser um interlocutor válido no plano internacional". Portanto, estará na obrigação de dizer 'sim' ao pedido venezuelano.

Tema está na pauta do encontro Lula-Chávez

O tema vai fugurar na pauta do encontro Lula-Chávez desta sexta-feira (30), no vale do Rio Orinoco, no sul da Venezuela. Os dois presidentes, que se reunem regularmente a cada trimestre, participarão ali da primeira colheita de soja venezuelana plantada com tecnologia brasileira da Embrapa. Concluirão o acordo de construção de uma refinaria petrolífera binacional em Pernambuco. Porém o tema Mercosul talvez seja o mais candente.

A direita oligárquica do bloco, sobretudo a senatorial brasileira, deu um chá de cadeira de três anos e meio no pedido venezuelano, protelando o tema enquanto pôde. Em 2007, quando o pedido completou um ano, Chávez irritou-se e chegou a dar um prazo de três meses para a aprovação, ou seu país se retiraria do Mercosul.

Logo em seguida se evidenciou que seria preciso muito mais paciência para vencer a entranhada resistência conservadora, que ainda dispõe de enorme força, embora tenha sido alijada pelo voto de todos os quatro governos do bloco (assim como da Bolívia, que também está ingressando). O líder bolivariano recompôs suas reservas de tenacidade e não retirou o pedido. Agora, está, como disse o Wall Street Journal, a um passo da vitória.

Da redação, com agências