Messias Pontes – A verdadeira força do atraso (II)
Continua repercutindo muito negativamente em todo o subcontinente sulamericano, e em especial no Brasil, a posição do senador tucano Tasso Jereissati contrária à adesão da Venezuela ao Mercosul. Relator na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deu parecer contrário visando atender interesses alienígenas, notadamente do imperialismo norteamericano que ele sempre tem defendido dentro e fora do Senado.
Publicado 14/10/2009 09:05 | Editado 04/03/2020 16:34
É oportuno lembrar que no ano passado o Brasil exportou para o Mercosul nada menos que US$ 21,74 bilhões, sendo que para Venezuela foi US$ 5,15 bilhões, ou seja, um quarto do total, sendo ultrapassado apenas pela Argentina. Nos últimos dez anos, as exportações para o país vizinho aumentaram 858%. Portanto, nós só temos a ganhar com o ingresso da Venezuela no Mercosul. Porém isso não interessa ao tucanato que tem trabalhado, sempre, contra os interesses nacionais.
Segundo o professor Fabiano Santos, coordenador do Núcleo de Estudos Sobre o Congresso, o parecer do senador cearense não é apenas diplomaticamente equivocado, já que o Brasil tem aprofundado laços não apenas econômicos, mas também culturais e científicos. É também irresponsável, enfatiza o professor.
Até mesmo os adversários internos do presidente Hugo Chávez demonstraram preocupação com o parecer do tucano. O prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, arquiinimigo de Chávez, veio ao Brasil para defender a admissão do seu país ao mercado comum sulamericano por entender que todos saem ganhando com isso.
Até o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que faz oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficou perplexo. Depois de acalorado debate com Tasso, e em meias palavras, o senador gaúcho salientou que o relatório do tucano cearense “favorece interesses contrários à integração continental, principalmente os norte americanos”.
Tasso Jereissati está ética e moralmente impedido de chamar Hugo Chávez de ditador, por várias razões. Primeiro porque tudo na Venezuela, atualmente, é decidido pelo voto popular. Das 15 eleições, Chávez ganhou 14. A reeleição do presidente venezuelano foi decidida através de plebiscito, enquanto a de FHC – coisa muito ruim – foi decidida por uma maioria submissa no Congresso Nacional, a custo de muito dinheiro público, num dos maiores escândalos do desgoverno tucano-pefelista. Tasso foi favorecido e comemorou efusivamente.
Ele praticamente desmontou o Estado cearense contra a vontade da maioria dos cearenses: sem consultar quem quer que seja, acabou com o planejamento agrícola ao extinguir a Cepa – Comissão Estadual de Planejamento Agrícola; a Codagro – Companhia de Desenvolvimento Agropecuária, igualmente foi extinta sem dar satisfação a ninguém; a pesquisa também foi mandada pras cucuias com a extinção da Epace – Empresa de Pesquisa Agrícola do Ceará; a assistência técnica e a extensão rural também foram vítimas do descaso do então governador. Tasso Jereissati, já que a Ematerce foi totalmente sucateada, não sendo extinta porque houve muita pressão.
Mas a fúria neoliberal do tucano-mór tupiniquim contra o Estado cearense teve outros efeitos desastrosos: o Bandece – Banco de Desenvolvimento do Ceará – foi extinto logo no início do seu primeiro governo; a imprensa oficial, que tinha um dos mais modernos parques gráficos públicos do País foi outra vítima fatal, dado que a Ioce – Imprensa Oficial do Ceará –foi extinta para que todo o serviço gráfico dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário ficasse com a iniciativa privada.
Sob protestos dos movimentos sociais cearenses que sofreram forte repressão policial, a Coelce – Companhia de Eletricidade do Ceará – foi privatizada por um bilhão de reais quando valia muito mais, já que era uma empresa superavitária e que prestava bons serviços. Tasso prometeu aplicar R$ 600 milhões num fundo previdenciário do Estado, mas esse dinheiro tomou outro rumo.
Com a privatização da Coelce, aproximadamente 1.450 funcionários foram demitidos, muitos enfartaram e houve até suicídio por conta das pressões dos novos donos. Isso sem falar da piora substancial na qualidade dos serviços prestados e do abusivo aumento da tarifa. O número de mortes por acidente de trabalho pulou de um para oito por ano, sendo a maioria de funcionários terceirizados, sem a qualificação exigida para atuar no setor. Os desmandos dos novos donos da Coelce foram tamanho que mesmo a Aneel foi obrigada a aplicar uma multa de R$ 6,9 milhões à empresa.
Outro grande prejuízo causado por Tasso Jereissati aos cearenses foi a quebra do BEC – Banco do Estado do Ceará. Quando iniciou o seu terceiro mandato, Tasso recebeu o BEC não só completamente saneado, mas principalmente superavitário. Em quatro anos o BEC teve de ser federalizado pela importância de R$ 900 milhões para os cearenses pagarem em 30 anos.
Porém a marca registrada do governo Tasso, nos seus três mandatos, foi a maneira imperial de governar. No seu período, decisões judiciais eram simplesmente ignoradas, fato inédito na história do Ceará. A truculência contra grevistas e a todos os movimentos sociais organizados que reivindicavam direitos foram uma constante em seu governo. A repressão aos trabalhadores rurais sem terra foi violentíssima. O então deputado Mário Mamede, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, foi agredido por policiais por prestar solidariedade aos trabalhadores rurais na Avenida Bezerra de Menezes, e os agressores ainda continuam impunes.
Tasso e todo o tucanato não se conformam com a maneira de Hugo Chávez governar, principalmente usando a riqueza do petróleo para reduzir a miséria na Venezuela e erradicar o analfabetismo, o que realmente aconteceu. Por que Tasso e toda a canalha neo-udenista defendem um terceiro mandato para o truculento e narcotraficante Álvaro Uribe, na Colômbia? Por que defendem o golpe de Estado em Honduras e condenam a posição soberana do presidente Lula de conceder abrigo ao presidente deposto Manuel Selaya?
Quem age como Tasso não tem moral de chamar ninguém de ditador. Ele é a verdadeira força do atraso!
Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE