Whitney: Fisk tem razão, mas nem tanto
Robert Fisk acendeu o estopim com sua narrativa bombada que aparece na edição de terça do jornal britânico Independent, que se tornou viral durante a noite e se espalhou por todos os cantos da internet empurrando o ouro para U$ 1,026 a onça.
Por Mike Whitney, para o Counterpunch
Publicado 07/10/2009 16:47
Agora todo site catastrófico da blogosfera publicou o texto "chocante" de Fisk e os blogs estão congestionados com comentários enlouquecidos dos que querem sobreviver escondidos em bunkers e dos fãs do ouro que acham que o mundo como a gente conhece acabou.
Do artigo de Fisk:
No movimento de mais profunda mudança financeira da história recente do Oriente Médio, os árabes do Golfo planejam – com China, Rússia, Japão e França – deixar de negociar com dólar nas transações do petróleo, trocando-o por uma cesta de moedas que incluirá o iene japonês e o iuan chinês, o euro, ouro e uma nova moeda unificada planejada para as nações no Conselho de Cooperação do Golfo, incluindo Arábia Saudita, Abu Dhabi, Kuwait e Catar.
Já houve reuniões secretas entre ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais na Rússia, China, Japão e Brasil para elaborar o esquema – o que implica dizer que o petróleo deixará de ser cotado em dólares.
Os planos, confirmados ao Independent por fontes bancárias do Golfo árabe e chinesas em Hong Kong, podem ajudar a explicar o repentino salto nos preços do ouro, mas também anuncia uma extraordinária transição dos mercados de dólar ao longo dos próximos nove anos.
Os norte-americanos, que sabem que as reuniões aconteceram – embora ainda não tenham descoberto os detalhes –, com certeza combaterão contra essa cabala internacional que incluirá Japão e os árabes do Golfo, seu aliados sempre leais. Considerado o pano de fundo das reuniões em curso, Sun Bigan, ex-enviado especial da China ao Oriente Médio, alertou para o risco de que se aprofundem as divisões entre China e EUA, na disputa por petróleo e por influência no Oriente Médio. “São inevitáveis as querelas e os confrontos bilaterais”, disse ele à Asia and Africa Review. “Não podemos baixar a guarda contra hostilidades no Oriente Médio em disputas por interesses energéticos e segurança.”
Reportagens sobre o fim do dólar são grandes exageros. O dólar pode cair , mas não vai desabar. E, a curto prazo, com certeza vai se fortalecer quando os mercados reentrarem o campo gravitacional da terra depois de uma longa jornada de 6 meses pelo espaço. A relação entre a queda do preço das ações e o dólar fortalecido está bem estabelecida e, quando os mercados se corrigirem, o dólar vai se recuperar. Pode apostar nisso. Então por que todo esse exagero a respeito de homens do Oriente Médio em "reuniões secretas" e cofiando suas barbas enquanto planejam contra o império?
Não é esse o ponto central do artigo de Fisk?
Sim, o dólar vai cair (eventualmente) mas não pela razão que a maioria das pessoas pensa. É verdade que o aumento dos gastos deficitários [dos Estados Unidos] deixa os que têem dólares no estrangeiro preocupados. Mas eles estão mais preocupados com o programa do Banco Central americano que acrescenta dinheiro ao meio circulante pela compra de papéis assegurados por hipotecas e papéis do Tesouro. Bernanke [o presidente do Banco Central americano] está imprimindo dinheiro e jogando no sistema financeiro para evitar que o rigor mortis se estabeleça. Naturalmente, o Banco Central foi obrigado a quantificar exatamente quanto dinheiro pretende criar "do ar" para aplacar seus credores. E fez isso. (O programa termina no início de 2010). Dito isso, a China e o Japão ainda estão comprando papéis do Tesouro, o que indica que eles ainda não saltaram do barco.
A razão verdadeira pela qual o dólar vai perder seu papel de moeda de reserva mundial é ligada ao fato de que os mercados americanos, que até recentemente contribuíam com 25% da demanda global, estão em queda. Nações dependentes de exportações — como o Japão, a China, a Alemanha e a Coréia do Sul — já entenderam o que vem por aí. O consumidor americano está enterrado numa montanha de dívidas, o que significa que não vai voltar a comprar em breve. Além disso, o desemprego está disparando, a riqueza pessoal está em queda, a poupança está aumentando e a tendência antisindical de Washington vai garantir que os salários continuarão estagnados no futuro próximo. Assim, a classe média americana não será mais a força por trás da demanda global como era antes da crise. Se os consumidores são menos capazes de comprar um Toyota Prius ou comprar a parafernália eletrônica chinesa à venda no WalMart, haverá menos incentivo para que governos estrangeiros e seus bancos centrais acumulem montanhas de dólar ou negociem exclusivamente em dólar.
Aqui está um clip do Globe and Mail citado no blog de Washington:
A presença do dólar nas transações internacionais deve diminuir nos próximos meses e anos, mas só um erro político persistente — ou dificuldades econômicas — fará com que o dólar perca o status de moeda de reserva completamente.
O relatório do UBS diz que a queda do dólar americano não se dá por causa dos bancos centrais, mas por causa do setor privado, quando companhias individualmente abandonam o dólar como sua moeda de escolha.
"O uso do dólar pelo setor privado é mais importante que o oficial, que as reservas de bancos centrais — algo como 20 vezes mais importante, dependendo da interpretação", disse Donovan. "Há sinais de que o afastamento do dólar por parte do setor privado se acelerou desde 2000".
Então, qual é exatamente o problema?
O status de superpoder se assenta na fundação mambembe do dólar e o dólar está começando a rachar. Fisk está certo até esse ponto; grandes mudanças estão a caminho. Mas ainda não aconteceram.