A ação anticíclica do Banco do Brasil
A divulgação do crescimento de 1,9% do PIB no segundo trimestre de 2009, com projeção de vigorosos 7,8% em base anualizada, mostrou que o Brasil superou, em tempo recorde, os efeitos nocivos da crise financeira iniciada no mercado bancário norte-americano. O comportamento dos bancos públicos brasileiros é parte dessa história bem-sucedida e precisa ser compreendido corretamente.
Por Aldemir Bendine, na Folha de S.Paulo*
Publicado 27/09/2009 12:21
Reservas internacionais em torno de US$ 220 bilhões, dívida externa líquida em queda, diversificação e expansão das exportações para novos mercados, além da correta administração dos instrumentos de política econômica e fiscal, garantiram suficiente musculatura para o Brasil acionar medidas de política anticíclicas.
Um dos pontos mais sensíveis foi captar, com exatidão, os impactos da crise no mundo real. Vale recorrer, aqui, à analogia do copo com água pela metade. Embora despretensiosa, a metáfora mostra como é complexa a tarefa de interpretar a realidade. Alguns percebem a parte vazia do copo, outros identificam a parte cheia.
Nessa hora, além de refinados instrumentos de projeção de cenários e de riscos, lidar com a economia real faz toda a diferença. Sob esse aspecto, o Banco do Brasil levou em conta as experiências concretas de empreendedores e consumidores, a partir do relacionamento diário com 53,5 milhões de clientes na maior rede de atendimento bancário do país.
Outras variáveis, como o fato de ser banco líder no pagamento de salários, principal financiador do agronegócio e parceiro histórico do comércio exterior, também contribuíram para identificar melhor a turbulência.
Mesmo com o solavanco percebido no ambiente dos negócios, nossos gerentes, nas mais diferentes regiões do Brasil, constatavam que a realidade do país se movia na direção contrária aos prognósticos mais sombrios.
Assim, a partir de uma avaliação mais precisa dos riscos e oportunidades da crise e já acompanhando as ações no âmbito das autoridades econômicas, o Banco do Brasil se preparou para enfrentar o chamado "empoçamento do crédito": reduziu juros, ampliou a oferta de crédito, garantiu recursos a taxas competitivas para os diversos segmentos da economia e deu início ao Fundo Garantidor de Operações, criado para atender empresas com dificuldade de acesso ao crédito por falta de garantias.
Atento ao potencial do mercado interno, o BB destinou R$ 30,7 bilhões para pessoas físicas e R$ 26 bilhões para micro e pequenas empresas, volume assentado largamente em modalidades de baixo risco (crédito consignado e antecipação de recebíveis).
De um lado, o crédito permitiu retomar o ritmo de produção e comercialização das empresas, ajudando na administração do fluxo de caixa. Na outra ponta, contribuiu para as pessoas físicas financiarem a aquisição de automóveis ou de outros bens, mantendo a confiança daqueles sem propensão para adiar sonhos ou necessidades de consumo.
O resultado dessa atuação refletiu nos bons números da economia e diretamente no desempenho da carteira de crédito doméstica do BB, que registrou um crescimento de 26,5% (de setembro de 2008 a junho de 2009), contra uma média de 11% do sistema financeiro nacional.
Além de aumentar em 2% a participação de um mercado de acirrada concorrência, os impactos dessa estratégia alcançaram dimensões relevantes nos negócios. O Banco do Brasil encerrou o semestre como o maior financiador do desenvolvimento econômico do país, reconquistou a liderança do setor bancário e retomou a liderança em repasses do BNDES. Para aqueles que ainda encaram com reservas os resultados orgânicos e sustentáveis do Banco do Brasil, a melhor resposta está na confiança dos investidores, que resultou na valorização de 115% das ações em 2009 -posição até 22 de setembro.
Foi uma das maiores altas do Ibovespa. É uma demonstração clara de percepção da consistência das estratégias e também reconhecimento da nossa capacidade de entregar bons resultados.
Não tenho dúvidas de que a sociedade brasileira deseja empresas públicas eficientes e comprometidas com o país. As duas exigências são perfeitamente conciliáveis quando combinadas com aprimorados controles de governança corporativa e políticas públicas consistentes, como demonstrado no enfrentamento da crise global.
Novos tempos nos esperam. Com a falência de inúmeros prognósticos e profecias, a crise deixa lições preciosas. Uma, com um toque de simplicidade, recomenda: em briga de pessimistas com otimistas, o realista não entra. Prefere acordar mais cedo, dormir mais tarde e trabalhar mais. É o que estamos fazendo.
* Presidente do Banco do Brasil; fonte: Folha de S.Paulo