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Linha do governo para CPI da Petrobras deu certo

O governo conseguiu esvaziar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga denúncias de irregularidades cometidas pela Petrobras. A reunião prevista para esta terça-feira (15) foi adiada para a próxima semana, sem que a oposição esboçasse resistência. Com amplo controle do governo, a CPI não gerou o constrangimento nem a preocupação que o Palácio do Planalto temia.

Nos bastidores, a comissão é conhecida como a CPI do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo e relator da comissão: ele controla as sessões e interfere em todos os depoimentos.

A estratégia do governo de dominar os rumos da CPI deu certo. Até mesmo a oposição tem se ausentado das reuniões. Na terça-feira da semana passada, audiência marcada para debater irregularidades cometidas pela empresa nas obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, começou com mais de meia hora de atraso, por iniciativa do presidente da comissão, senador João Pedro (PT-AM), sem a presença da maioria dos integrantes da comissão. Apenas um senador da oposição estava presente. O mesmo cenário marcou as duas sessões anteriores. Dois meses depois da instalação da CPI, a base governista demonstra que mantém o controle para evitar o desgaste da estatal e do governo.

O esvaziamento político da comissão é percebido não só nas cadeiras vazias da sala de audiências, mas também nos debates e na falta de denúncias apresentadas pelos senadores do PSDB e do DEM contra a estatal. Com ampla maioria na CPI da Petrobras, o governo controlou as seis sessões em que foram investigas supostas irregularidades da estatal e evitou o desgaste da empresa.

Hoje estava prevista a realização da sétima reunião para ouvir depoimentos, mas Jucá (PMDB-RR), adiou o encontro para a próxima semana. O líder do governo passou o dia de ontem em atividades com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Roraima e pediu " a compreensão " dos senadores na semana passada, pois acreditava que não conseguiria chegar em tempo a Brasília para comandar a reunião.

A oposição demonstra desânimo com a comissão. " Temos muita dificuldade em conseguir informações contra a Petrobras " , reclamou o senador Antonio Carlos Magalhães Júnior. (DEM-BA), um dos três titulares da oposição na CPI. " Não temos muitas denúncias concretas contra a Petrobras. Até mesmo o Tribunal de Contas da União ainda está revendo as irregularidades " , comentou ACM Júnior: " Mas ainda não jogamos a toalha " .

Nos bastidores, senadores da oposição creditam ao PSDB a falta de empenho na comissão. " Desde o começo o PSDB estava dividido em relação à CPI. Não queriam " , comentou um oposicionista. " Muitos senadores podem se comprometer ao criticar empresas que financiam campanhas " , explicou outro parlamentar. " Imagina Sérgio Guerra criticar uma refinaria que está sendo construída no Estado dele " , continuou o senador, referindo-se ao presidente do PSDB, eleito por Pernambuco, onde está sendo construída a refinaria Abreu e Lima. Obras de terraplenagem da refinaria são alvo de denúncias de superfaturamento.

Senadores do DEM e do PSDB apostam na próxima fase da comissão, na investigação de patrocínios e contratos com ONGs para retomar as denúncias contra a Petrobras. ´São denúncias que têm mais visibilidade política, apesar de não serem tão graves quanto o superfaturamento na refinaria Abreu e Lima " , explicou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), na semana passada, ao sair da comissão. Na próxima fase, com início no dia 22, deverá ser ouvido o gerente de Comunicação Wilson Santarosa. " Vamos acabar ´mordendo´ alguma coisa nessa fase " , disse ACM Jr. " Os patrocínios são muito pulverizados, o que dificulta o controle da Petrobras, disse. O senador explicou que a oposição contava com a " colaboração da imprensa " , para fazer novas denúncias e que sem isso " fica difícil surgir mais informações contra a estatal " . " Botamos fé na imprensa " , comentou.

Os governistas comemoram o resultado da CPI. " O governo estava preparado e demonstrou que os instrumentos usados até agora foram corretos " , comentou Delcídio Amaral (PT-MS), ex-diretor da Petrobras. A base governista, além de ter maioria, comanda a comissão. O presidente da CPI é o senador João Pedro (PT-AM) e o relator é Romero Jucá. O controle do líder do governo na comissão é tamanho que nos bastidores a comissão chegou a ser conhecida como a " CPI do Jucá " : o pemedebista aprovou seu plano de governo na primeira reunião e rejeitou quase todos os requerimentos da oposição.

Fonte: Valor Econômico Online