Jornalismo cloaca: a Globo contra Vargas e a IstoÉ ao estilo Veja
O velho moralismo dos tempos de Carlos Lacerda está a todo vapor neste agosto que termina. No dia 24 último, quando completavam 55 anos do suicídio de Getúlio Vargas liguei o rádio ao acordar e levei um susto. Um jornalista da CBN bradava indignado contra a compra pelo Palácio do Planalto de toalhas de rosto e de banho de fio egípcio. Imaginei que tinha recuado no tempo ou estava tendo um pesadelo.
Por Mário Augusto Jakobskind*, no Direto da Redação
Publicado 02/09/2009 20:30
Naquela crise de agosto de 1954, a UDN (União Democrática Nacional), que de democrática não tinha nada, pois vivia pregando o golpe, falava em mar de lama no Catete, etc. e tal. Agora, entre outras acusações, a CBN, do sistema Globo de rádio, se indignava contra as toalhas de fio egípcio.
Os políticos da UDN que passaram o tempo todo na porta dos quartéis tentando convencer a oficialidade sobre a necessidade de derrubar Getúlio Vargas, depois Juscelino Kubitschek e em seguida João Goulart, deixaram herdeiros neste 2009. Agora passam o tempo todo denunciando, criando fatos com repercussão na mídia conservadora hegemônica com o visível objetivo de desviar a atenção de temas relevantes relacionados com o futuro de um Brasil soberano.
E o 24 de agosto remete a Era Vargas, que FHC jurou riscar do mapa, à Carta Testamento e ao suicídio de Getúlio, às riquezas petrolíferas nas mãos dos brasileiros, à IV Frota estadunidense rondando as riquezas petrolíferas do pré-sal e assim sucessivamente. Aí surge o tal comentarista da CBN, do sistema Globo de rádio, para “denunciar” os gastos com as toalhas de fio egípcio, numa repetição grotesca da rádio Globo em 1954.
Aí vem o colunista político Merval Pereira (será coincidência?) bradar contra a Era Vargas com um comentário intitulado “filhote do getulismo”, comparando o sindicalismo daquela época com o atual. O objetivo de Pereira é um só: palanque de uma candidatura tucana. O colunista de O Globo é de fato um filhote de um colunista reacionário dos anos 50 — recentemente elogiado pelo próprio Merval — de nome João Neves da Fontoura, que até o fim da vida escreveu contra o seu ex-correligionário Getúlio Vargas e criticava tudo o que passava por perto de nacionalismo.
Enfim, tais reflexões fazem parte da história contemporânea brasileira, que ainda precisa ser contada sem a visão distorcida do conservadorismo. Mas se o leitor imagina que as distorções e manipulações midiáticas se resumem a Era Vargas ou aos veículos de imprensa das Organizações Globo, enganam-se.
Na edição de 26 de agosto último, a revista IstoÉ, no mais puro estilo Veja, editou matéria exemplo típico de manipulação da informação, que pode ser denominada “jornalismo cloaca”. Com o título “O lobista de Chávez”, a matéria de página inteira, assinada por Claudio Dantas Siqueira, mentia de cabo a rabo, exatamente com o objetivo de induzir o leitor a se posicionar contra a Telesul, um importante canal televisivo de integração, e o governo da República Bolivariana da Venezuela.
A raivosa IstoÉ queimava o combativo jornalista Beto Almeida com informações mentirosas, porque ele participa como diretor independente, ou seja, sem representar qualquer país, da diretoria da Telesul. De quebra, a matéria “informava” que o governador Roberto Requião fez um convênio com o canal de integração, apresentando um telejornal da Telesul na TV E do Paraná.
O jornalismo cloaca da IstoÉ ainda por cima selecionou o senador tucano Álvaro Dias para questionar o jornalista Beto Almeida, que também é dos quadros da TV Senado, onde ingressou por concurso. E assim sucessivamente.
Não é à toa que alguns analistas vêem o dedo de algum serviço de inteligência na elaboração de matérias como a apresentada pela IstoÉ. Cabe agora à própria revista responder a tais insinuações e apresentar alguma justificativa para demonstrar que o objetivo da matéria foi apenas jornalístico. Podem crer que vai ser uma tarefa impossível, pois pela forma como foi escrita está na cara a origem da pauta.
Por estas e muitas outras, chegou a hora de os brasileiros tomarem conhecimento da necessidade urgente de abrir a discussão sobre a questão da democratização dos meios de comunicação. O que não pode mais ser permitido é os barões da mídia continuarem manipulando ao bel prazer e toda vez que são questionados responderem com acusações infundadas, misturando alhos com bugalhos, ou seja, liberdade de expressão e de imprensa com liberdade de empresa. A hora é essa!
Em tempo: a briga Globo x Record deveria sensibilizar os parlamentares em Brasília a criarem uma CPI sobre a mídia. Seria a oportunidade de os brasileiros conhecerem com mais detalhes as graves acusações que foram divulgadas de um lado e do outro.
Em tempo II: Reapareceu o cabo Anselmo falando besteira atrás de besteira numa longa entrevista na TV Bandeirantes (Canal Livre). Dedo-duro oficial da história brasileira, Anselmo volta a ser manipulado pela extrema-direita.
Recentemente, quando Urariano Mota, colunista deste DR, lançava o seu importante livro Soledad no Recife, uma personagem assassinada pela repressão comandada pelo famigerado delegado Fleury, graças ao dedodurismo do próprio cabo, Anselmo apareceu em frente ao hotel onde Urariano Mota estava hospedado. A sua presença era um recado do tipo que ele costuma dar para quem se insurge contra a direita.
Agora, a Comissão de Anistia terá de dar um veredicto sobre a pretensão deste deduro, que volta à tona querendo se fazer de vítima, quando todo mundo sabe que ele nunca passou de algoz, que merece o repúdio de todos os brasileiros.
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