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Fidel critica dificuldade dos EUA em aprovar reforma da saúde

O líder cubano Fidel Castro criticou, nesta quarta-feira (19), os Estados Unidos por gastarem milhares de dólares em armas de última geração mas não conseguirem aprovar uma reforma do sistema de saúde para proteger os cidadãos mais pobres. "Que esperança essa sociedade pode oferecer ao mundo?", questionou o ex-presidente da ilha, em um texto publicado quase à meia-noite no site oficial Cuba Debate.

No artigo intitulado "O Império e os Robôs" – mesmo nome de um livro de ficção científica de Isaac Asimov -, Fidel escreveu que enquanto os enormes orçamentos militares são aprovados com facilidade no Congresso dos EUA, o presidente Barack Obama tem encontrado enorme dificuldade para convencer os parlamentares a aprovarem uma lei para "levar os serviços de saúde a 50 milhões de norte-americanos que precisam deles." 

O programa de saúde de Obama, que tenta tornar os serviços médicos mais baratos e acessíveis, tem encontrado resistência no Congresso, principalmente entre os republicanos da oposição, que alegam, entre outra coisas, que seria um passo rumo ao socialismo.

"Enquanto despesas colossais em tecnologias para matar são produzidas nos Estados Unidos, o presidente desse país sua para levar os serviços de saúde a 50 milhões de norte-americanos que carecem deles", diz o cubano.

Fidel afirmou que uma clínica que oferece serviços médicos gratuitos em Los Angeles atendeu recentemente 8 mil pacientes, alguns procedentes de locais a centenas de quilômetros de lá, que disseram não poder pagar por uma consulta médica ou dentista em suas próprias cidades.

O governo de Cuba se orgulha de oferecer serviços médicos gratuitos à população.  "Mesmo um país bloqueado como Cuba conseguiu fazer isso (prestar serviços de saúde à população)", afirmou, referindo-se ao embargo imposto pelos EUA à ilha que o governo comunista afirma ser responsável por muitos de seus problemas econômicos.

Fidel disse que os Estados Unidos gastam enormes somas em aviões de guerra operados por controle remoto, e se referiu a um mundo "inundado" de robôs vendidos por multinacionais.  "Os robôs acabarão substituindo milhões de trabalhadores, e poderiam inclusive substituir o governo dos Estados Unidos. Sem dúvida fariam melhor e mais barato", ironizou Fidel.
 

Leia abaixo a íntegra do artigo:

Reflexões do companheiro Fidel
O Império e os Robôs
Por Fidel Castro

Há pouco, abordei os planos dos Estados Unidos da América para impor a superioridade absoluta de suas forças aéreas como instrumento de dominação sobre o resto do mundo. Mencionei o projeto de contar em 2020 com mais de mil bombardeiros e caças F-22 e F-35 de última geração na sua frota de 2 500 aviões militares. Dentro de 20 anos, a totalidade de seus aviões de guerra serão operados por autômatos.

Os orçamentos militares sempre contam com o apoio da imensa maioria dos legisladores norte-americanos. Quase não há Estados da União onde o emprego não dependa, em parte, da indústria da defesa.

A nível mundial e valor constante, as despesas militares dobraram nos últimos 10 anos como se não existisse perigo algum de crise. Nestes momentos é a indústria mais próspera do planeta.

Em 2008, ao redor de US$ 1,5 trilhão  já era investido nos orçamentos dedicados à defesa. Correspondiam aos Estados Unidos 42% das despesas mundiais nesse domínio, US$ 607 bilhões, sem incluir as despesas de guerra; ao passo que, o número de famintos no mundo atinge a cifra de 1 bilhão de pessoas.

Há dois dias, uma mídia ocidental informou que, em meados de agosto, o exército dos Estados Unidos exibiu um helicóptero tele-dirigido, bem como robôs capazes de realizar trabalhos de sapadores, 2.500 dos quais foram enviados para as zonas de combate.

Uma empresa de comercialização de robôs afirmou que as novas tecnologias irão revolucionar a forma de comandar a guerra. Foi publicado que, em 2003, os Estados Unidos quase não tinham robôs em seu arsenal e “hoje conta ―segundo a AFP― com 10 mil veículos terrestres, bem como 7 mil dispositivos aéreos, desde o pequeno Raven, que podem ser lançados com a mão, até o gigante Global Hawk, um avião espião de 13 metros de cumprimento e 35 de envergadura, capaz de voar a grande altitude durante 35 horas”. Nessa notícia são enumeradas outras armas.

Enquanto essas despesas colossais em tecnologias para matar são produzidas nos Estados Unidos, o presidente desse país sua para levar os serviços de saúde a 50 milhões de norte-americanos que carecem deles. Tal é a confusão, que o novo presidente declarou: “estava mais próximo do que nunca de conseguir a reforma do sistema de saúde, mas a luta está se tornando feroz.”

“A história é clara –acrescentou– cada vez que temos a reforma sanitária no horizonte, os interesses especiais lutam com tudo que têm à mão, usam suas influências, lançam suas campanhas publicitárias e utilizam a seus aliados políticos para assustar o povo estadunidense.”

O fato real é que em Los Angeles 8 mil pessoas ―a grande maioria desempregada, segundo a imprensa― se reuniram num estádio para receber o atendimento de uma clínica gratuita itinerante que presta serviços no Terceiro Mundo. A multidão tinha pernoitado ali. Alguns se deslocaram de centenas de quilômetros de distância.

“‘Não me importa se é socialista ou não. Somos o único país no mundo onde os mais vulneráveis não temos nada’, disse uma mulher de um bairro negro e com educação superior.” Informa-se que “um teste de sangue pode custar 500 dólares e um tratamento dental de rotina mais de 1 000.”

Que esperança pode oferecer essa sociedade ao mundo?

Os lobistas no Congresso passam seu agosto trabalhando contra uma simples lei que pretende oferecer assistência médica a dezenas de milhões de pessoas pobres, negros e latinos na sua grande maioria, que carecem dela. Até um país bloqueado como Cuba o conseguiu fazer, e inclusive cooperar com dezenas de países do Terceiro Mundo.

Se os robôs nas mãos das multinacionais podem substituir os soldados imperiais nas guerras de conquista, quem irá deter as multinacionais na busca de mercado para seus artefatos? Da mesma maneira que têm inundado o mundo com automóveis – que hoje concorrem com o homem pelo consumo de energia não renovável e inclusive pelos alimentos transformados em combustível – também podem inundá-lo de robôs que substituam milhões de trabalhadores de seus postos de trabalho.

Ainda melhor, os cientistas poderiam igualmente desenhar robôs capazes de governar; dessa maneira lhe poupariam esse horrível, contraditório e confuso trabalho ao Governo e ao Congresso dos Estados Unidos da América.

Sem dúvida que o fariam melhor e mais barato.

Fidel Castro Ruz

Agosto 19 de 2009