Brasil e Argentina já podem fazer transações sem dólares
A base para uma futura integração financeira e monetária do Mercosul foi assentada na noite de quinta-feira, 2, em Buenos Aires, com a formalização do Sistema de Pagamento em Moedas Locais (SML), que elimina o dólar das operações de comércio entre Brasil
Publicado 03/10/2008 09:43
“É um fato histórico, político e cultural, que transcende as fronteiras da economia e das finanças”, disse Cristina a executivos de bancos, empresários e diplomatas dos dois países. A prefeita da Argentina voltou a elogiar o Brasil ao exaltar a “desdolarização” do comércio. “Isto (SML) deve servir como uma autocrítica para nós na Argentina, que sempre pensamos em dólares, ao contrário do Brasil, onde as pessoas pensam em reais (…) e também de forma mais real”, afirmou a presidente.
O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, tratou de reverter as críticas de alguns economistas de que o momento não é oportuno para o SML por causa da volatilidade das moedas. Primeiro, reconheceu que “o início das operações do novo sistema em moedas locais ocorre, por coincidência, num período de forte instabilidade nos mercados financeiros internacionais, e de restrição de liquidez às operações comerciais globais”.
Depois, ele destacou que por causa da turbulência a iniciativa ganha mais importância. “Respeitando as especificidades de nossas economias, inauguramos o sistema num momento em que a cooperação entre bancos centrais se torna fundamental para prover liquidez às transações comerciais entre países e para estreitar seus laços econômicos”, afirmou.
Meirelles ressaltou o tempo que os técnicos levaram, quase três anos, para superar os obstáculos legais e técnicos para implantar o sistema. “Os primeiros obstáculos foram superados”, disse afirmando que “o mecanismo do novo sistema de pagamento em moeda local trará mudanças significativas no modo como as empresas estão acostumadas a exportar e a importar”.
No Brasil, os exportadores poderão agora fazer operações em reais, assim como os da Argentina farão em pesos. Os principais objetivos da iniciativa, segundo o presidente do Bc brasileiro é “o aprofundamento no mercado real-peso; a redução de entraves nas transações comerciais entre os dois países e o acesso de pequenos e médios exportadores”.
Martín Redrado, presidente do BC argentino, enalteceu o SML como o “primeiro pilar fundamental na integração financeira de nossos países”. Redrado afirmou que o sistema é o resultado da “visão estratégica e a visão política dos presidentes” de ambos os países. Também lembrou que, “pela primeira vez, em muitas décadas, a Argentina apresenta um sistema monetário e financeiro com ativos, passivos e empréstimos em pesos”. Redrado e Meirelles vão participar hoje, na capital argentina, de um seminário com empresários brasileiros e argentinos para explicar o funcionamento do novo sistema de pagamentos.
A presidente da Agência Nacional de Desenvolvimento e Investimentos, economista Beatriz Nofal, disse que o SML “é uma das decisões mais importantes em relação ao aprofundamento do mercado no futuro”. O gerente de comércio exterior do Itaú Buen Ayre, Glauber Samino, explicou que a principal vantagem do sistema é o de “simplificar” a operação de exportação porque queima as etapas de conversão das moedas para o dólar e vice-versa, e elimina os intermediários, reduzindo custos. Ele não soube precisar de quanto será a redução, mas calculou a economia entre 1% e 3%.
Fonte: Agência Estado