Sem patrocínio, “Carta Maior” atrasa salários desde dezembro

Revelado na semana passada ao público, o drama da Agência Carta Maior continua. O veículo perdeu, em dezembro, um contrato de patrocínio com a Petrobras e, desde então, os profissionais não recebem salário. Mas a redação decidiu manter o site fun

Os problemas tiveram início durante a transição do primeiro para o segundo governo Lula – e as incertezas resultantes do comando dos ministérios e das estatais. Com isso, foram paralisadas as verbas destinadas para publicidade em veículos à margem da grande mídia.


 


O advogado Joaquim Palhares, dono da Carta Maior, está pagando apenas as contas estruturais da redação. Mas a iminência do fechamento de um contrato publicitário com uma “grande empresa” renovou o fôlego dos jornalistas da casa. O contrato publicitário pode se definir nas próximas semanas – e é considerado uma das últimas esperanças para viabilizar o funcionamento da agência.


 


“A redação sempre esteve trabalhando, ainda que de modo precário, com disponibilidade para os profissionais realizarem atividades paralelas no meio tempo”, afirmou o editor-chefe Flávio Aguiar. “Ela ainda está trabalhando assim, mas existem perspectivas positivas para o futuro próximo.”


 


Abril, o mês-limite?


 


Ao que parece, o site só sobreviverá se fechar mesmo acordo com a “grande empresa”, com a qual Palhares tenta negociações publicitárias “há tempos”. Devido a incertezas internas da parceira, a decisão vem sendo postergada. Palhares adianta que, caso o acordo não saia até o final de abril, a Agência Carta Maior vai fechar em definitivo.


 


À crise financeira se somaram mais complicações. Problemas técnicos ocorridos na última sexta-feira (30/03) tiraram o site do ar por quatro dias – a Carta Maior voltou a publicar conteúdo nesta terça. “Fui puro azar e também coincidência com a crise que estamos enfrentando”, disse Flávio Aguiar.


 


Negociações mais fáceis


 


Em editorial publicado no site do veículo, Aguiar convidou os leitores a dar início a uma campanha de cadastramento no boletim da Carta Maior, aumentando assim o poder de negociação da empresa com o mercado publicitário.


 


Como resultado, a média de cadastros diários passou de 20 para cerca de 120. O editor considera que esse incremento, ao lado da visibilidade conseguida com a divulgação da crise, beneficiou as negociações em curso.


 


Auto-elogio


 


Em meio a isso, Palhares investiu mais dinheiro do próprio bolso em seu veículo. A Carta Maior, segundo ele, é uma das poucas empresas que podem ser consideradas imprensa, “dependendo do conceito que se tenha do que é imprensa”.


 


O advogado diz que sua definição pessoal não se aplica aos maiores veículos do país – Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e Rede Globo -, uma vez que todos eles têm um lado. “O drama deles é que não assumem isso”, avaliou.


 


O dono da Carta Maior defende uma discussão nacional sobre a necessidade da implantação de uma política pública de financiamento de mídias alternativas, como rádios comunitárias, TVs e rádios, sites, pequenos jornais e revistas e veículos de bairro, defendendo a diversidade como benéfica para o país.


 


Financiamento


 


Questionado sobre como fazer para que a verba destinada a esses meios não seja utilizada como instrumento político do governo da vez, Palhares apontou que um sistema nos moldes da Lei Rouanet, em vigor para financiamentos de cultura, acabaria com essa possibilidade.


 


Em sua opinião, os projetos financiados seriam aprovados mediante apresentação de documentos detalhados, com princípio, meio e fim definidos, podendo ser cancelados mediante o não-cumprimento dos pressupostos.


 


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