Globo demite editor de economia do Jornal Nacional
Marco Aurélio Mello, editor há quatro anos do principal jornal da emissora, foi demitido por seu trabalho “não ser mais compatível” com a empresa. Em outubro, ele foi um dos jornalistas que se recusou a subscrever o abaixo-assinado em defesa da cobertu
Publicado 25/03/2007 15:39
A Rede Globo demitiu, nesta sexta-feira (23/3), o jornalista Marco Aurélio Mello. Há quatro anos editor de economia do Jornal Nacional, Mello está há mais de 12 anos na empresa, nove em São Paulo. Antes de integrar a equipe do Jornal Nacional, foi, por três anos, editor de política do Jornal da Globo.
Segundo informações de funcionários da empresa, o editor recebeu a notícia da sua demissão do chefe de jornalismo em São Paulo, Luiz Cláudio Latgé. Ele teria dito a Mello que, após uma avaliação interna de seu trabalho, a conclusão era a de que ele não era mais compatível com a empresa. Latgé teria chegado a dizer que foi feito um esforço para que Mello fosse aproveitado em outros jornais da Globo, mas que as equipes já estariam fechadas.
Em outubro do ano passado, Marco Aurélio Mello foi um dos jornalistas que não subscreveu o abaixo-assinado divulgado por funcionários da Globo em defesa da cobertura feita pela empresa da campanha presidencial.
Ele chegou a assinar o documento, mas depois, ao perceber que o texto seria usado politicamente, pediu a Mariano Boni, da chefia de redação do Jornal da Globo, pra retirar seu nome. Na ocasião, outras quatro pessoas fizeram o mesmo pedido. Boni teria dito “quem não estiver satisfeito com a cobertura da Globo que pegue o chapéu e vá para a Record”.
“Não tenho dúvidas de que ele ficou com essa marca lá dentro”, disse um jornalista à Carta Maior. Logo depois das eleições, Marco Aurélio Mello foi deslocado para a equipe do Bom Dia Brasil. Depois que voltou das férias tiradas no final do ano, retornou ao Jornal Nacional e foi demitido um mês depois.
Colegas contam que não houve nenhum erro cometido pelo editor neste período. A tentativa de desqualificação do trabalho de um jornalista antes de sua demissão, no entanto, parece ser prática da emissora. Em entrevista concedida à revista Caros Amigos no ano passado, o jornalista Franklin Martins descreveu assim o momento em que ficou sabendo de sua demissão:
“Ó, Franklin, nós fizemos uma pesquisa qualitativa muito grande, vários grupos aqui, todos os jornais, todos os telejornais, todos os âncoras, os comentaristas e tivemos uma surpresa: a sua imagem diante do telespectador é fraca”. Eu olhei: “Como é que é?” “É, sua imagem é fraca.” […] me estenderam um papelzinho que tinha uma foto minha e cinco tópicos do que a qualitativa tinha dito a meu respeito. A primeira era assim: “Alguns entrevistados não souberam dizer quem era”. A outra dizia: “Fala sobre as coisas da política, as coisas de Brasília”. Terceiro: “Dá menos opinião e mais informação” – o que considero um extraordinário reconhecimento do que eu quero fazer como profi ssional. Quarto: “Faz comentários muito equilibrados” – a mesma coisa. E eu digo: “Bom, e aí?” “E aí nós pensamos melhor, eu pensei melhor, e decidi não renovar o seu contrato.” Eu digo: “Espera aí, conta outra!” “Não, não, é isso.” “Ó, fulano (pede que não coloquemos o nome), eu saí de férias você dizendo que minha posição é consolidada; agora você diz que saiu numa pesquisa uma coisa assim, todo mundo vai achar evidentemente que tem alguma coisa a ver com o Diogo Mainardi. Tem alguma coisa a ver com isso?” “Eu sou peremptório, não tem nada a ver com isso.” “Mas todo mundo vai achar que tem, e aí?” “Não, não.” Aí eu olhei: “Então não há o que discutir, mas é o seguinte: tenho o Fatos e Versões pra gravar amanhã, como é que faz?” “Não, você não precisa gravar mais nada na TV Globo.” “Está vendo, é alguma coisa diferente de a minha imagem estar fraca, porque, se minha imagem estivesse fraca, talvez você tivesse dito: 'Você não quer ficar na Globo News, fazer alguma coisa?' Não, alguma coisa aconteceu que eu não sei o que é e você não quer me dizer, e acho que devia me dizer.” “Não, não.” “Então está bom.”
“Cabeças vão rolar”
O caso de Marco Aurélio Mello não é o primeiro nem deve ser o último. No dia 19 de dezembro, o repórter Rodrigo Vianna, que havia feito críticas internas à cobertura da Globo das eleições presidenciais, foi informado de que não teria seu contrato de trabalho renovado, depois de cerca de doze anos de casa. Antes da notícia, Vianna foi afastado da cobertura de política e destacado para atuar nos jornais locais.
O mesmo está acontecendo com outros profissionais. Repórteres e editores foram deslocados para funções inferiores ou para jornais de menor prestígio. Outros sumiram do ar sem que seu destino seja conhecido. A imensa maioria deles se recusou a participar do abaixo-assinado do final do ano. Na redação, o clima é o de que novas cabeças vão rolar.
“É claro que eles mapearam as pessoas”, contou um jornalista da Globo.
Procurado pela reportagem da Carta Maior, Marco Aurélio Mello preferiu não dar declarações sobre o assunto. A Central Globo de Comunicação informou que a demissão do editor se deve a mudanças operacionais e remanejamento interno da equipe.