200 milhões de americanos estão aptos a votar amanhã

Nesta terça-feira, cerca de 200 milhões de eleitores nos Estados Unidos irão às urnas para renovar toda a Câmara dos Representantes (deputados), um terço do Senado e 36 governadores dos 50 Estados do país. O voto nos EUA não é obrigatório.

Pela primeira vez em uma década, os democratas têm a possibilidade de retomar a maioria no Congresso americano. Após quatro décadas de controle do Partido Democrata, atualmente são os republicanos que têm maioria e controlam a Câmara dos Representantes e o Senado. O sistema privilegia um tipo de bipartidarismo financiado por corporações e empresários, tornando a eleição algo extremamente caro.


 


Democracia que pobre não entra


 


Para se eleger, tem que ter dinheiro – ou conhecer quem tem. O Centro para Políticas Responsáveis de Washington, um instituto de estudos independente, estima que só vai para a Câmara quem gastar o equivalente a mais de R$ 2 milhões em propaganda.


 


O instituto fez o cálculo: estas vão ser as eleições legislativas mais caras da história americana. A alegação: a disputa raramente foi tão acirrada. As grandes corporações já apostaram suas fichas.


 


Em 2002, na última eleição para o Congresso, sem disputa presidencial, a campanha custou o equivalente a R$ 4,8 bilhões. Este ano, vai custar R$ 5,7 bilhões. Quem está ganhando não quer que os republicanos saiam do poder. A indústria do petróleo, que no governo Bush teve lucros gigantescos, investe R$ 30 milhões na eleição – 80% para candidatos republicanos.


 


A indústria de medicamentos contribuiu com quase R$ 20 milhões, R$ 5 milhões a mais do que em 2002. Além do crescimento no lucro durante a última legislatura, o setor alega que os democratas, se eleitos, tenderiam a aprovar leis obrigando as empresas a vender remédios mais baratos para o governo.


 


Mas também há grupos apostando alto no outro lado. Os escritórios de advocacia estão gastando quase R$ 200 milhões, a maior parte para os democratas. Uma das estrelas do partido, o ex-senador John Edwards, candidato a vice na chapa democrata na última eleição presidencial, é advogado e ficou rico processando médicos. Os colegas dele querem evitar mudanças nas leis que permitem as indenizações milionárias concedidas pela Justiça americana.


 


O mercado financeiro foi o que mais aumentou as contribuições: de R$ 60 milhões há quatro anos para R$ 100 milhões agora, mas dividiu igualmente. Os investidores americanos têm ganhado dinheiro, não importa qual partido esteja no poder, já que os dois são fatias da mesma burguesia.


 


Entra um, sai outro


 


Os republicanos ocupam 230 das 435 cadeiras para deputados, enquanto os democratas ocupam 201. Já o Senado é composto por 55 republicanos, 44 democratas e um senador que não pertence a nenhum dos dois partidos. Para retomar o controle da Câmara dos Representantes, os democratas precisam ganhar 15 cadeiras a mais do que possuem hoje.


 


No Senado, cada Estado americano é igualmente representado por dois membros, de um total de cem representantes. O partido que obtiver o maior número de assentos no Senado é conhecido como majoritário.


 


Reza a democracia americana que, se o número de cadeiras de dois ou mais partidos for igual, quem decide o partido da maioria é o vice-presidente (Dick Cheney), que também exerce a função de presidente do Senado.


 


Os senadores cumprem um mandato de seis anos. A cada dois anos, são escolhidos os ocupantes de um terço das cadeiras do Senado por meio de eleições.


 


Fraude em 2000 e 2004


 


Mais de 80% dos eleitores usarão urnas eletrônicas. Um terço dos distritos eleitorais utilizará a tecnologia eletrônica pela primeira vez neste ano.


 


As mudanças fazem parte de uma pressão nacional após problemas na apuração nas eleições de 2000, que deram origem à “Help America Vote Act”, lei que destina US$ 3,9 bilhões para a substituição das obsoletas máquinas de votação e programas de educação sobre o direito ao voto.


 


Nas eleições presidenciais de 2004, democratas protestaram por causa de indícios de fraudes no processo eleitoral em Ohio, incluindo questionamentos na apuração dos votos e problemas com máquinas em distritos predominantemente democratas, o que fez a eleição de George W. Bush ficar inscrita, mais uma vez, como “duvidosa”.


 


Os problemas — que colocaram em questionamento 119 mil votos — não eram graves o suficiente para questionar a reeleição de Bush, segundo a mídia americana.


 


Matar Hussein para eleger Bush


 


As pesquisas indicam que o favoritismo democrata nessas eleições se deve à ocupação fracassada do Iraque, que causou queda na popularidade do presidente Bush.


 


Ontem, há apenas dois dias da votação, o fajuta Tribunal Penal Iraquiano condenou o ex-presidente Saddam Hussein à forca pelas mortes de 148 xiitas em Dujail (norte do Iraque), em 1982. O tribunal foi instalado pelas forças anglo-americanas de ocupação.


 


Os advogados e o próprio ex-presidente deposto do Iraque, Hussein, declararam que a condenação é uma tentativa republicana de aumentar a popularidade do partido entre os eleitores.


 


Outras histórias que a mídia apontam como prejudiciais ao Partido Republicano na disputa são as dos sucessivos escândalos de corrupção e outros crimes envolvendo seus legisladores. O caso mais recente foi o do deputado Mark Foley, acusado de trocar e-mails com teor sexual com estagiários do Congresso.


 


Diferença cai


 


Apesar do favoritismo democrata, na véspera da votação, uma pesquisa realizada pelo Instituto Pew indica uma queda na intenção de voto nos democratas, de 50% para 47%. Já a intenção de voto nos republicanos subiu de 39%, há duas semanas, para 43%.


 


De acordo com o diretor do Instituto Pew, Andrew Kohut, a mudança foi causada pela queda do apoio dos independentes aos democratas.


 


Uma segunda pesquisa, realizada pelo jornal “USA Today” em parceria com o Instituto Gallup, apontou que os democratas tem vantagem de 51% das intenções de voto, contra 44% dos republicanos.