Jussara debate com um Feijó ''amordaçado''

Havia grande expectativa quanto aos debates entre os candidatos a vice-governador do Rio Grande do Sul, Jussara Cony, vice de Olívio Dutra, da Frente Popular (PT/PCdoB) e Paulo Feijó, vice de Yeda Crusius (PSDB/PFL). A surpresa é que, durante os dois p

 Toda vez que o tema das privatizações esteve em pauta, a resposta foi a mesma: afirmou que não há nada sobre privatizações no programa de governo da sua coligação. Como contraponto, Jussara citou o passado recente dos candidatos, que defenderam abertamente às privatizações e apoiaram os governos de FHC e o governo Britto no Estado. Chegou a citar letra de Paulinho da Viola, na qual o compositor diz ''Quando penso no futuro, não esqueço do passado''. Embora os esforços de Feijó, o tema das privatizações dominou os embates.


 


Desde o início do segundo turno, Paulo Feijó (PFL), estava na ''geladeira''. O motivo: declarações suas em defesa da privatização do Banrisul (algo que defende desde os tempos de presidente da Federasul), que para ele ''pesa'' para o Estado e não passa de um ''cabide de empregos''. Chegou a desferir, em entrevista à Zero Hora (08/10/2006), ataques ao senador Pedro Simon (PMDB), a quem acusou de apadrinhar diretores do banco. As declarações de Feijó abriram grave crise na campanha tucana. Chegou-se, inclusive, a cogitar sua substituição na chapa. Segundo avaliações, Feijó nada mais fez do que expressar o que é realmente o projeto da candidata Yeda Crusius. Ela tem defendido, ao longo de seus programas eleitorais, uma proposta de ''choque de Gestão'', mas não esclarece o que significa na prática.


 


Nos debates, Feijó demonstrou desconhecimento sobre a maioria dos temas tratados. Sua melhor performance foi quanto a necessidade da diminuição dos impostos, embora suas opiniões sobre o tema tenham sido apenas genéricas. Jussara apresentou a proposta de ''choque de empregos'' que prevê a diminuição de impostos de setores que geram empregos, em contraposição à proposta de ''choque de gestão'' apresentada pela chapa tucana.


 



O debate:


 



Projetos distintos


Jussara procurou situar a disputa em curso na eleição. Para ela são dois projetos ''profundamente diferentes''. ''O projeto que defendemos é o do desenvolvimento, sintonizado com o Brasil. O de Yeda-Feijó é o do estado mínimo para o povo, e máximo para os poderosos''.


 



Privatizações


Jussara denunciou que os partidos que compõem a coligação PSDB-PFL sempre defenderam às privatizações e agora, no período de campanha, tentam de tudo para esconder seu passado. Citou como exemplo o fato de o próprio Paulo Feijó ter sido praticamente ''escondido'' durante o segundo turno da eleição, por conta de suas declarações em defesa da privatização do Banrisul.



Citou também declarações de Geraldo Alckmin e FHC em defesa das privatizações. O Candidato a vice na chapa PSDB-PFL limitou-se a responder, mostrando na TV o caderno do programa da coligação, que às privatizações não constam de suas propostas para o governo.


 



Continuidade de Programas Sociais


Feijó questionou Jussara sobre a continuidade de programas de governos anteriores. Jussara ressaltou que é preciso valorizar os bons programas, independentemente de quem os criou. Alfinetou a candidata Yeda que, segundo ela,  não demonstrou lealdade para com o governo de Rigotto, do qual participou até poucos meses antes da eleições e passou a atacar duramente durante o primeiro turno.


 



Congestionamento da BR 116


Há um problema histórico na BR 116. O permanente congestionamento nos horários de pico. Jussara defendeu a parceria com o governo federal para a construção do anel viário, sem a colocação de pedágios e a extensão do Trensurb até Novo Hamburgo. Novamente o tema ''privatizações'' veio à tona. Jussara acusou Yeda e Feijó de apoiarem o projeto do chamado ''Polão'', com a construção de nove pedágios, proposta de um aliado muito próximo de Yeda, o ex-ministro dos transportes do governo FHC, Eliseu Padilha (PMDB).



Feijó ficou confuso e não soube identificar de quem seria a prerrogativa da construção da obra, se do governo federal ou estadual.


 



Tributos


Este é o tema sobre o qual Feijó se sentiu mais a vontade para discorrer, porém limitou-se às generalidades. Afirmou que é preciso diminuir a carga tributária, mas não disse como fazer isso.



Jussara defendeu uma nova matriz tributária mais justa. Denunciou que os partidos que representam a coligação de Feijó estão impedindo a aprovação da Reforma Tributária no Congresso Nacional.



''Defendemos o aumento de receitas sem tarifaço: diminuição das despesas com mais e melhores serviços públicos e a repactuação da dívida do Estado com a União'', disse Jussara.


 


Piso Mínimo Regional


Jussara defendeu o piso mínimo regional como uma conquista dos trabalhadores gaúchos durante o governo Olívio (1998 -2002). Afirmou que o compromisso da Frente Popular é de fazer com que o piso gaúcho seja novamente o maior do país.  Denunciou que o PSDB e o PFL atuaram, na Assembléia e no executivo estadual, para o rebaixamento do piso regional, enquanto que no país, Lula aumentou o valor do salário mínimo nacional.


 



Servidores



Feijó acusou a Frente Popular de ter ''partidarizado'' o serviço público no Estado. Jussara rebateu afirmando que o funcionalismo é estratégico para o desenvolvimento do Rio Grande, e assim foi tratado. Houve, segundo ela, a diminuição do número de cargos de confiança em 20%. Defendeu a capacitação e valorização dos servidores.
Jussara questionou a posição de Yeda e Feijó sobre a proposta de diminuição de défict estrutural do Estado que leva em conta diminuição de gastos com aposentadorias. Afirmou que o governo da Frente Popular não vai tirar os aposentados do caixa único do estado. ''Nós não somos como vocês, neoliberais, que tratam os aposentados como limão. Espreme, espreme e depois joga a casca fora'', ironizou.


 



Caixa Único



Feijó sugeriu que a Frente Popular não conseguiu enfrentar o problema do déficit do Estado. Jussara rebateu dizendo que se trata de um problema histórico que foi agravado pelos acordos realizados por Britto com apoio dos partidos da coligação de Yeda e Feijó. ''O governo Olívio e o Rio Grande receberam como herança do governo Britto, que os senhores apoiaram, uma negociação que ele fez com o governo Fernando Henrique que aumentou o comprometimento da dívida do Estado. Ela era de 6% e passou para 13%; depois 15% no extra-limite e hoje já está nos 18%. Condicionou ainda à privatização do Banrisul. Foi uma negociação predatória''. Salientou que a Frente Popular tem proposta para a renegociação da dívida.
Jussara acusou ainda o partido de Feijó de ter apoiado o ''tarifaço'' do atual governo.


 



Fundações do Estado


Novamente o tema ''privatizações'' teve centralidade no debate. Jussara lembrou que, recentemente, foi enviado um projeto à Assembléia para privatização das Fundações do Estado, e que Feijó teria declarado apoio. O candidato à vice na chapa PSDB-PFL, novamente, reportou-se ao Plano de Governo da sua coligação, no qual não há propostas de privatizações.



Em contraponto, Jussara chamou a atenção para o ''risco Yeda''. ''O povo brasileiro e do Rio Grande sabe que a verdade dita não é a mesma praticada pelos neoliberais. Nós sofremos com Britto, com Fernando Henrique. A candidatura Yeda-Feijó pertence a este campo. A história nos mostra isso''.


 


 


Geração de Empregos


Para Jussara a geração de empregos e o desenvolvimento do Estado passam por investimentos em educação. Defendeu o ensino profissionalizante para qualificar a juventude para o mercado de trabalho. Defendeu também a revalorização da Uergs, cuja existência já foi questionada por Feijó. Enfatizou que para se ter emprego e renda, é preciso um projeto estratégico de desenvolvimento, articulado com o projeto nacional. ''O nosso Estado não tem tido uma política de desenvolvimento sintonizada com o crescimento do país. A nossa economia estagnou''. Para ela o papel do Estado é o de ser o indutor do desenvolvimento. ''O Estado não pode ficar parado, tem que estimular o desenvolvimento. Temos que condicionar a concessão de incentivos à geração de empregos, e usar o Banrisul para isso'', disse. Defendeu ainda um ambiente de cooperação entre o governo e as empresas e a implantação de centros regionais de desenvolvimento.



Feijó se limitou a dizer que ''temos sim que fazer o Rio Grande voltar a crescer''. Reafirmou sua tese de que o Estado é ''pesado'' para o cidadão. Jussara disse que a alternativa ao ''choque de gestão'' defendido pela coligação PSDB-PFL é o ''choque de empregos'' que a Frente Popular pretende realizar com diminuição de impostos de setores produtivos.


 


Considerações Finais


Na sua fala final, Jussara cobrou transparência de Feijó, a quem ela definiu como ''amordaçado'' pela sua candidata ao governo, Yeda Crusius. Para Jussara, a história mostra que eles sempre defenderam às privatizações e o estado mínimo. Ela aproveitou para exaltar a ''alma gaúcha'', altaneira, guerreira. Defendeu que o Rio Grande, a exemplo do Brasil, esteja de cabeça erguida na luta pela retomada do seu desenvolvimento.''Conclamamos a todos os gaúchos e gaúchas para que não percamos esta grande oportunidade de o Rio Grande do Sul crescer sintonizado com o Brasil, com igualdade e desenvolvimento''.


 


Feijó, ao se despedir, defendeu novamente o ''novo jeito de governar'' e exaltou o voto com consciência no dia 29.



Será que este tal novo jeito de governar que tenta esconder o passado combina com consciência? Algo aí não parece novo.







Dois vices com histórias bem diferentes









Jussara Cony (PCdoB) Paulo Feijó (PFL)

Jussara traz de berço a tradição comunista. Em Cacequi, seu pai, Gregório, e seu avô, Carlos, eram comunistas numa época em que essa condição era associada ao ''demônio''. Começou a trabalhar desde cedo. Aos 14 anos, já em Porto Alegre, conseguiu o primeiro emprego, nas Lojas Renner. Cursou Farmácia na UFRGS – hoje é funcionária da faculdade -, filiou-se ao PC do B e iniciou a vida político-partidária e sindical. Em 1979, foi a primeira mulher presidente da Associação dos Farmacêuticos-Químicos do Rio Grande do Sul. Em 1982, elegia-se vereadora. Atualmente termina seu quarto mandato como deputada estadual, com atuação reconhecida em temas como saúde, gênero, desenvolvimento, entre outros. Jussara, militante, carnavalesca, mãe, avó e bisavó, construiu uma história de lutas que a credencia como uma das principais lideranças da esquerda no Rio Grande do Sul.


 


 

Paulo Feijó adentrou à política partidária convidado por Jorge Bornhausen e Onyx Lorenzoni (PFL). Segundo ele, por suas posições à frente da FEDERASUL (Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul), entidade da qual foi presidente por duas gestões (2002/2004 – 2004/2006). Formado em Administração de Empresas pela PUCRS, representa a terceira geração dos Feijó a encabeçar os negócios da família, iniciados por seu avô a partir de um armazém. A Paulo Feijó e Participações, da qual foi diretor e sócio, detinha o controle dos supermercados Econômico. Por isso, chegou à presidência da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), de 1990 a 1994, e da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), de 1995 a 1998. Hoje dedica-se ao ''mercador.com'', site especializado em comércio via Internet entre empresas. Sua principal bandeira é a crítica a atual carga tributária. Tem opiniões polêmicas, sobretudo no que se refere ao papel do estado e às privatizações.

 


 








Para lembrar – Posse da Federasul, 27/05/2004
O descontentamento de Feijó com a manutenção do Banrisul Estatal não é de hoje. Na posse para o segundo mandato à frente da Federasul, o seu discurso gerou constrangimento para o governador Rigotto e o presidente do banco, Fernando Lemos, presentes no ato. Tanto que o presidente do Banrisul, que seria um de seus vice-presidentes na entidade, depois de ouvir a peroração irada do chefe pelo fim do Banco e da CEEE saiu da solenidade e pediu demissão do cargo que passaria a ocupar oficialmente a partir daquela noite. O governador Rigotto, cujo discurso já estava escrito para a ocasião, teve que improvisar sua fala para tentar minimizar o estrago causado.



De Porto Alegre
Clomar Porto