Israel deixa no Líbano carcaças de 130 tanques “invencíveis”

Por Bernardo Joffily


A agressão israelense no Líbano criou e destruiu mitos. Entre as vítimas, está o tanque israelense Merkava (Carruagem, em hebraico), tido como invulnerável e invencível: segundo o Hezbolá, 130 deles foram

O tanque Merkava sempre teve uma reputação invejável. Tel Aviv enaltece seu desempenho e em especial a blkindagem qualificada como a melhor do mundo. Mas a Guerra do Líbano vibrou um golpe mortal nessa imagem, assim como em toda a fama de invencibilidade das forças armadas  de Israel.



Perfil de uma máquina de matar



O engenho de guerra é dotado de uma blindagem reativa espacejada, de um sofisticado sistema anti-incêndio, de um perfil especialmente baixo e elegante. Ao contrário de outros blindados de sua geração, o motor fica na dianteira, o que oferece uma proteção suplementar, além de permitir que a equipagem o abandone por trás.
O exército israelense emprega o Merkava há anos no plano tático, para neutralizar a resistência armada palestina na faixa de Gaza e na Cisjordânia. Ali, os tanque ex-invencíveis penetravam mesmo em bairros populosos, com apoio de helicópteros com os quais se comunicavam direta e permanentemente.



Calcanhar-de-aquiles



No Líbano, porém, parece que não havia helicópteros para dar apoio a todos os Merkava em ação. E revelou-se que a engenhoca possui um calcanhar-de-aquiles: a visibilidade limitada não permite que a tripulação veja o que acontece nos seus flancos, nem na retaguarda.



Os guerreiros do Hezbolá aproveitaram ao máximo esse ponto fraco. Quando o último tanque de um comboio invasor passava, um guerrilheiro “brotava do chão”, de um porão, uma rocha, um escombro, e disparava o seu lança-foguetes individual.
Desde a trégua da segunda-feira passada, os libaneses exibem orgulhosamente para quem os visita os resultados dos disparos: carcaças retorcidas de Merkavas, que pontilham a paisagem em ruínas da parte sul do país.



Há controvérsias sobre o armamento usado pelo Hezbolá. Israel, apanhado no contrapé, passou a dizer que seu tanque foi vítima de um foguete possante, o RPG-29, fabricado na Rússia, e fornecido ao Hezbolá pelo Irã, ou pela Síria. Os  três países negam ter abastecido a guerrilha libanesa.



Ficha técnica mortífera



O Merkava começou a ser produzido em 1979 e o fabrico prossegue desde então, sempre em Israel. Ele estreou em combate na primeira invasão do Líbano, em 1983. Hoje, a quarta geração do tanque, o Merkava 4. ou Mk4, custa US$ 5,1 milhões cada unidade.



O motor diesel do modelo 4 é novo e tem 1.500 hp de potência. Seu canhão de 120 mm, bem recuado, o que dá ao veículo um perfil inconfundível, pode disparar munição pesada como o APFSDS-FS e o novo míssil Lahat. O carregador automático tem capacidade para dez projéteis. Uma cobertura isolante impede que o aquecimento excessivo prejudique a pontaria. O sistema de tiro é aperfeiçoado ainda por um calculador balístico, um sistema de visão noturna e um dispositivo de estabilização rápida do canhão, que permite apontar para veículos, helicópteros e até soldados individualmente.



Plano de exportação em perigo



Todas essas especificações levaram Israel a montar uma campanha para promover a exportação do Merkava em 2007-2010. E os resultados do desastre libanês para os negócios podem ser aquilatados por um texto no site oficial da Câmara de Comércio França-Israel (clique em www.israelvalley.com para ver).



O autor, Daniel Rouach, admite já no título que “as falhas atuais do tanque israelense Merkava estão sendo analizadas pela indústria militar israelense”. E que “muitos acidentes mortíferos e debilidades se produziram”.



Nas entrelinhas, o autor deixa entrever que os foguetes do Hezbolá não vitimaram apenas os superblindadois e suas tripulações, mas também um ambicioso plano de exportação (Israel ocupa o segundo lugar, depois da China, entre os novos exportadores mundiais de armamentos). Informa que o “Programa Merkava” ocupa diretamente 5 mil israelenses no fabrico do tanque, com previsão de outros 2 mil até o ano que vem, e outros 5 mil indiretamente, envolve 220 empresas e US$ 200 milhões de investimento.



O tom defensivo de Rouach chega a ser patético. “Os tanquistas do Tsahal (exército de Israel) têm com frequência fraquezas humanas que 'os melhores tanques high tech do mundo' não chegam a compensar. Aconteceu dos tanquistas terem sido surpreendidos em seu blindado, por ataques de surpresa, no exato momento de sua… sesta!”, explica o articulista. Quem quizer que compre a explicação.



Com agências