Constituinte boliviana inicia trabalhos sob risco de boicote
A Assembléia Constituinte boliviana inicia nesta terça-feira (15/8) seus trabalhos sob a ameaça de ser boicotada por um grupo de oposição, acusado pelo governo de chantagem e de pretender bloquear as profundas transformações na sociedade que se esperam de
Publicado 15/08/2006 09:01
Com apenas 60 dos 255 constituintes, o grupo Poder Democrático Social (Podemos), formado por seguidores do ex-ditador Hugo Banzer, fez a advertência na véspera do início dos trabalhos.
O boicote do Podemos ocorre devido a uma discordância dos trâmites da Assembléia. O grupo conservadora exige que qualquer decisão que venha a ser tomada precise obter ao menos dois terços dos 255 votos.
Os Constituintes do Podemos alegam ainda que existe a probabilidade real de acontecer um boicote. “Esse é o sentimento daqueles que nos escolheram para a Assembléia”, defende Gamal Serham, constituinte do partido conservador.
Interesses escusos
O governo boliviano avalia que por trás da iniciativa do Podemos está o poder de empresas multinacionais e grandes oligarcas do país. Roberto Aguilar, vice-presidente da Assembléia e membro do Movimento Ao Socialismo (MAS), definiu como anti-democrática a atitude do Podemos.
Aguilar lembra que desde antes das eleições para definir os membros da Assembléia já havia sido definido o modo como as decisões seriam tomadas. No entanto, após o resultado negativo das urnas (o Mas obteve a maioria absoluta dos votos), o Podemos vem tentando impedir os andamento da Constituinte.
A lei que convocou as eleições estabelece que apenas o texto final da nova Constituição da Bolívia precisará de dois terços dos votos da Assembléia. Para as outras deliberações, bastará a maioria absoluta.
Garantia do Exército
Para César Navarro, líder do MAS na Câmara dos Deputados, o Podemos tem como único objetivo impedir que o país passe por transformações profundas.
Por sua vez, o chefe do Exército boliviano, general Freddy Bersatti, declarou nesta segunda-feira que as Forças Armadas garantirão o funcionamento da Assembléia. “Qualquer tentativa de conspiração será debelada”, afirmou.
Participação popular
Apesar das dificuldades encontradas, o presidente Evo Morales continua estimulando a participação da população nas discussões da Constituinte.
Desde antes das eleições, ele vem defendendo que o povo exerça o papel de grande fiscal dos trabalhos que serão realizados.
A população atendeu o pedido do presidente e diversas delegações, representando movimentos sociais de todo o país, estão instaladas em Sucre para exercer o papel solicitado por Morales e impedir que seja feita qualquer manobra conspiratória contra a Constituinte e, principalmente, contra os interesses populares.