Tortura era comum em Abu Ghraib, diz ONG

A tortura de prisioneiros sob custódia dos Estados Unidos no Iraque era autorizada e considerada rotina, mesmo depois do escândalo da prisão de Abu Ghraib, segundo a organização Human Rights Watch.

Para o grupo de defesa dos Direitos Humanos, depoimentos de soldados entre 2003 e 2005 mostram que os detidos enfrentavam espancamentos rotineiros e eram impedidos de dormir, além de sofrerem outros abusos na maior parte do período.


Soldados que tentaram denunciar os abusos eram ignorados ou tinham suas reclamações ignoradas.


Um porta-voz do Pentágono afirmou que 12 análises de casos concluíram que “não havia política de perdão ou encorajamento de abuso”.


“O tratamento padrão para detidos sob custódia (do Departamento de Defesa) é e sempre foi humano”, alegou o tenente-coronel Mark Ballesteros à agência de notícias Reuters.


John Sifton, autor do relatório da Human Rights Watch, afirmou que os depoimentos foram dados por um grupo de ex-soldados americanos, revelando o oposto do que foi afirmado pelo Pentágono.


“Estes depoimentos contradizem as alegações do governo americano de que a tortura e o abuso no Iraque eram ocorrências não autorizadas e excepcionais. Pelo contrário, eram ocorrências perdoadas e usadas”, disse.


Fotografias mostrando soldados americanos humilhando os prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib, perto de Bagdá, chocaram o mundo quando foram divulgadas em 2004.


Até o momento, 11 soldados americanos foram condenados por envolvimento com o abuso. Nenhum oficial mais importante foi condenado.


Outros centros


O relatório da Human Rights Watch relata em depoimentos os abusos em um centro de detenção no aeroporto de Bagdá, chamado Campo Nama, em uma instalação perto do aeroporto de Mosul, e em uma base perto da fronteira com a Síria.


Um interrogador que trabalhava em Mosul em 2004 relatou à Human Rights Watch que o oficial encarregado da unidade havia dito a ele e seus colegas que o uso de técnicas abusivas com alguns detidos estava liberado.


Ele descreveu como cães eram usados para intimidar os detidos, como os detidos eram obrigados a andarem de joelhos em cascalho e permanecerem de pé com os braços esticados segurando garrafas de água por longos períodos.


Um interrogador no Campo Nama afirmou que o uso de técnicas de tortura era comum. Formulários com autorizações poderiam ser facilmente preparados para que oficiais no comando assinassem.


“Nunca vi uma folha que não tivesse uma assinatura”, disse o soldado.


Um guarda da polícia militar na instalação perto de Qaim, que levou suas observações até um oficial superior, teria ouvido como resposta: “você precisa seguir em frente e esquecer isto, sargento”.


Oficiais superiores


Para a Human Rights Watch, as descobertas mostram que as investigações criminais a respeito das torturas precisam se estender para oficiais superiores.


A organização pede que o Congresso americano designe uma comissão independente para investigar a extensão do problema, e que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, nomeie um promotor independente para investigar e processar os responsáveis pelo abuso.


“Está claro que os cabeças foram responsáveis pelos abusos no Iraque. É hora de responsabilizar estes cabeças”, disse Sifton.


O governo Bush foi alvo de críticas internacionais devido ao seu tratamento de prisioneiros no Iraque, no Afeganistão e na base de Guantânamo, em Cuba.