Partido de Evo Morales vence eleição Constituinte na Bolívia
O partido do presidente boliviano, Evo Morales, ganhou por pouco mais de 50% a eleição para a Assembléia Constituinte nacional, realizada neste domingo, de acordo com uma contagem rápida do instituto de pesquisa Equipos Mori, divulgad
Publicado 02/07/2006 21:11
Em uma jornada eleitoral que transcorreu com tranqüilidade, os bolivianos escolheram hoje os 255 membros de uma Assembléia Constituinte que será instalada em 6 de agosto e decidiram em quais departamentos (estados) será implementado um regime autônomo.
O Movimento ao Socialismo (MAS), do presidente boliviano Evo Morales, foi o que mais representantes elegeu, segundo uma pesquisa de boca-de-urna.
O MAS elegeu 130 dos 255 constituintes. Já a aliança conservadora Podemos e o partido centrista União Nacional garantiram, respectivamente, 78 e 12 representantes. Os outros lugares foram distribuídos entre os partidos minoritários, segundo a pesquisa divulgada pela rede de televisão "ATB".
Com relação ao referendo sobre as autonomias regionais, cinco departamentos votaram pelo "não" e quatro, pelo "sim".
Depois do fechamento de quase todos as seções eleitorais, que funcionaram durante oito horas, a Corte Nacional Eleitoral (CNE) reportou como único incidente uma manifestação de vários camponeses na cidade de Sucre, capital oficial do país.
Os agricultores ocuparam a praça principal da cidade com um protesto contra todos os partidos políticos, uma vez que não tiveram seus candidatos registrados nas listas eleitorais. Devido ao tumulto, a Polícia precisou usar gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
O chefe da missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), o colombiano Horacio Serpa, destacou o "civismo" e o "entusiasmo" dos bolivianos.
Antes do encerramento da votação, o presidente da Corte Eleitoral, Salvador Romero, disse que era esperada uma alta participação.
Cerca de 3,7 dos 9,4 milhões de bolivianos estavam aptos a votar.
Como em dezembro, quando ganhou as eleições, o presidente boliviano, Evo Morales, votou na cidade de Vila 14 de Setembro, no Chapare, região de plantadores de coca que se constitui como seu reduto político e sindical.
Para Morales eleições apontam par um novo "regime econômico
Morales concedeu uma entrevista coletiva na qual destacou que as duas votações de hoje permitirão uma revolução "pacífica" e a recuperação dos recursos naturais, bem como a fundação de um novo "regime econômico".
O líder aimara já nacionalizou os hidrocarbonetos em 1.º de maio e hoje confirmou que em 2 de agosto fará "uma revolução agrária" com seu plano de distribuição de terras e eliminação dos latifúndios ociosos.
Segundo Morales, as eleições de hoje também permitirão uma "revolução democrática e pacífica" que evitará confrontos armados internos como os que "há em países vizinhos como o Peru e a Colômbia".
Durante o horário de votação, Morales evitou falar sobre o regime de autonomia dos departamentos, mas, durante a campanha, criticou-o duramente, por considerar que se trata de uma reforma encorajada pelas "oligarquias".
Os líderes regionais do departamento de Santa Cruz, a região mais próspera da Bolívia, se mostraram otimistas quanto a uma vitória do "sim" no referendo, após a manifestação de mais de 400 mil pessoas na última quarta-feira.
O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, denunciou que nos departamentos de Santa Cruz, Beni e Pando, funcionários regionais que não identificou distribuíram "antenas parabólicas, refrigeradores, fogões, painéis solares, roupas e alimentos" para influenciar nos votos.
Segundo Quintana, também houve "intimidação, agressões físicas a instalações do Movimento Ao Socialismo (MAS), chantagem e especialmente um grande desdobramento para enfraquecer a liberdade de escolha".
O ex-presidente Jorge Quiroga (2001-2002), líder do conservador e opositor Poder Democrático e Social (Podemos), disse que foi o Governo que "usou e abusou" dos recursos estatais e da ajuda da Venezuela para favorecer os candidatos governistas.
Depois de votar em uma escola de La Paz, Quiroga disse que espera uma Assembléia Constituinte em paz e sem intromissões estrangeiras na elaboração da nova Carta Magna, em alusão ao presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Além da troca de acusações entre o Governo e a oposição, as votações foram marcadas pelo erro do chanceler David Choquehuanca, que depositou na mesma urna votos diferentes para eleger os constituintes e decidir sobre as autonomias.
O ministro de Águas, Abel Mamani, não pôde votar porque, como não participou da última eleição, teve seu nome retirado da lista de eleitores.
Fonte: EFE