Daniel Dantas e a fábrica de dossiês
Em depoimento à Justiça Federal de São Paulo, na terça-feira 30 de maio, o banqueiro D
Publicado 03/06/2006 22:46
Ao juiz Sílvio Luís Ferreira da Rocha, árbitro da ação que o aponta como “chefe de uma quadrilha internacional de espionagem”, o banqueiro se disse vítima de uma conspiração a envolver o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa.
Na mesma semana, a PF e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) receberam 25 caixas com detalhes da investigação realizada pela Kroll a partir de 2002. Os documentos, obtidos com exclusividade por CartaCapital, integram o processo na Justiça de Nova York, no qual o Citibank cobra 300 milhões de dólares (quase 700 milhões de reais) por supostos prejuízos causados por DD à época em que ele administrava os recursos da instituição financeira norte-americana no Brasil. A papelada, composta de dezenas de mensagens eletrônicas e atas de reuniões com a participação do próprio banqueiro, acrescenta mais provas de que o dono do Opportunity, ao contrário das declarações prestadas à Justiça, gerenciava e acompanhava de perto o trabalho dos espiões. Nenhum passo importante era dado sem sua autorização ou sem que ele fosse informado.
Os alvos de Dantas eram variados e incluíam políticos do PT e PSDB, juízes e meios de comunicação, além de empresários e executivos considerados adversários do Opportunity. As investigações ocorreram no Brasil, Canadá, Estados Unidos, Ilhas Cayman, Itália e Espanha. É preciso deixar claro que boa parte dos documentos não passa de diálogos entre aliados de Dantas e espiões da Kroll e trata de especulações sobre supostas irregularidades, sem nenhuma comprovação. Eles estão reproduzidos nas páginas adiante apenas para demonstrar como Dantas, que se diz vítima de um complô e de achaques, é, na verdade, obcecado por bisbilhotar a vida de quem cruza seu caminho.
Além disso, nem todos os investigados são desafetos do banqueiro. O investidor Naji Nahas, por exemplo. Nahas é aliado do Opportunity e foi o responsável por aproximar Dantas do presidente da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera. Os italianos chegaram até a assinar um acordo se comprometendo a pagar cerca de 1 bilhão de reais pelos 10% de participação acionária de DD na Brasil Telecom. O acerto foi desfeito no início de maio.
Apesar de caudalosa, a documentação entregue pela Kroll à Justiça americana pode não conter todas as provas da espionagem ilegal cometida a mando do banqueiro. Há várias razões para se supor isso. E-mails obtidos por CartaCapital e que não integram as caixas entregues à PF e à CVM mostram que Carla Cico, ex-presidente da Brasil Telecom, horas antes de deixar o cargo, solicitou à Kroll que sumisse com papéis da operação. Aparentemente, o pedido não foi atendido.
De qualquer forma, Carla, em parceria com executivos da empresa americana, também traçou uma estratégia de desmoralização do trabalho da Polícia Federal, que, em outubro de 2004, fez apreensões nas sedes do Opportunity e da Brasil Telecom. Não por coincidência, durante o depoimento na terça 30, Dantas atacou o trabalho dos federais e afirmou que as provas do inquérito policial teriam sido forjadas. DD não comprova, porém, as acusações.
O papelório comprometedor pode ter sido extraviado pelo ex-diretor da Kroll e ex-agente da CIA Frank Holder. Em janeiro de 2005, Holder deixou o posto na Kroll, mas foi contratado, em seguida, como consultor. Segundo a revista Veja, o ex-agente, por ordem de Dantas, entregou à revista uma série de documentos sem comprovação, entre eles uma suposta conta bancária do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um paraíso fiscal. Holder mantinha uma base em Buenos Aires.
Ainda assim, a documentação da Kroll em poder das autoridades brasileiras, e em parte reproduzida nas páginas seguintes, tem elementos suficientes para mostrar que o banqueiro comandava uma quadrilha de espionagem, como afirma o inquérito da PF. E que Dantas, além de juntar dinheiro, se dedica com afinco a outra atividade: fabricar dossiês.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br;
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