Vereador João Cláudio apresenta a obra do piauiense Mestre Dezinho a Ariano Suassuna
O escritor Ariano Suassuna conheceu parte da obra de Mestre Dezinho hoje (02) em visita à Igreja Nossa Senhora das Graças, no Bairro Vermelha, em Teresina. A visita foi feita a convite do vereador João Cláudio (PC do B/ PI) que t
Publicado 03/06/2006 13:44 | Editado 04/03/2020 17:02
‘Ele é como o Alejadinho. Eu fiquei encantado com a obra dele’. Com esta comparação e com palavras simples Ariano descreveu com brilho no olhar sua impressão sobre as esculturas em madeira avistadas por ele pela primeira vez. O elogio do renomado escritor que já foi professor de Geologia da Arte e a comparação com Alejadinho credita o ‘Mestre Piauiense’ para o posto de um dos maiores escultores do país.
Ariano Suassuna explicou que Mestre Dezinho não é somente um artesão, mas sim um ‘grande artista’. “Eu fiquei encantado com a obra de Mestre Dezinho e não gostaria que ele fosse considerado um artesão porque ele não era, ele era um grande artista, a distinção do artesanato para arte é que no artesanato predomina a utilidade sobre a beleza e na arte predomina a beleza sobre a utilidade. Ele é um artista popular, mas antes de ser um artista popular ele é um grande artista’.
Com tantos anos de vida pública e profundo conhecimento artístico-cultural sobre o Brasil e especialmente sobre o Nordeste, Ariano Suassuna, assim como tantos outros brasileiros não conhecem a obra de Mestre Dezinho. O anonimato é culpa de ser ele filho de um Estado que não se faz ver para o mundo?
Suassuna diz que a desvalorização dos artistas e sua obra não é singularidade piauiense e que este tipo de desprezo está presente em todo o mundo. “A humanidade normalmente não dá atenção devida aos seus artistas, principalmente aos artistas de origem popular, isto é uma coisa da própria humanidade”.
Mas o escritor é otimista e diz que ainda há tempo para o Piauí divulgar o seu patrimônio artístico. “Eu acho que se pode fazer alguma coisa, eu acho que os meios de comunicação e as autoridades públicas do Piauí deveriam fazer da obra de Mestre Dezinho uma divulgação nacional”.
Sobre a iniciativa de levar Ariano Suassuna para a Igreja e fazê-lo conhecer parte da obra de Mestre Dezinho, João Cláudio disse que sabia do seu conhecimento sobre estética e sobre arte primitiva, por isso achou que o escritor deveria conhecer o artista piauiense através de sua obra. “Ele conhece profundamente sobre arte primitiva, esta arte do povo pobre, ai tive a idéia de levá-lo lá, sabia que o impacto seria grande, mas o impacto foi maior do que eu imaginava, ele passou duas horas na Igreja e chegou a comparar Mestre Dezinho a Aleijadinho”.
Suassuna não só elogiou a obra mas mostrou caminhos práticos para que a cultura que Mestre Dezinho trazia consigo não morra e que possa evoluir e beneficiar o estado. “Ele me fez uma proposta e disse: ‘João Cláudio estes artistas que esculpem em madeira, podem esculpir em granito, desde que sejam estimulados’. E é isto que devemos fazer: Pegar os discípulos do Mestre Dezinho e fazer com que eles trabalharem em granito”, disse João Cláudio ao descrever as falas do escritor que está em Teresina participando do 4º Salipi.
Ariano Suassuna
Dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, defensor incansável da cultura popular, das raízes brasileiras e, especialmente nordestina, Ariano Suassuna nasceu no Estado da Paraíba. Sua primeira peça de teatro, Uma mulher vestida de sol, baseada no romanceiro popular do Nordeste brasileiro e com ela ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno, em 1948. Lançou o Movimento Armorial, com o concerto Três séculos de música nordestina: do barroco ao armorial, na Igreja de São Pedro dos Clérigos. Foi Secretário de Educação e Cultura do Recife. Doutorou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco.
Entre suas obras: Uma mulher vestida de sol (1947): O desertor de Princesa (1948); Os homens de barro (1949, inédita); Auto de João da Cruz (1949); O arco desabado (1952); Auto da Compadecida (1955); O santo e a porca (1957); O casamento suspeitoso (1957); A pena e a lei (1959); Farsa da boa preguiça (1960); A caseira e a Catarina (1962); Romance d´a pedra do reino e o príncipe de Sangue do Vai-e-Volta (1971, traduzida para o inglês, alemão, francês, espanhol, polonês e holandês).
De Teresina,
Daiane Rufino