Os efeitos da produtividade para o capital e o trabalho

A valorização do real permitiu uma queda de 35% nos celulares, 17% em computadores e 19% em televisores no acumulado dos 12 meses encerrados em abril, segundo a coleta de preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), vinculada a Universidad

 

Por Osvaldo Bertolino

 

No primeiro trimestre deste ano, a produtividade na indústria cresceu expressivos 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos primeiros três meses deste ano, a indústria brasileira foi capaz de produzir um volume 4,5% superior ao do mesmo período do ano passado, utilizando um número 0,4% menor de horas trabalhadas, segundo dados obtidos pelo cruzamento de duas pesquisas (a de produção industrial e a do emprego e salário na indústria) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Se a conta for feita pelo emprego e não pelas horas trabalhadas, a produtividade cresce ainda mais porque o emprego no setor caiu 1,0% no primeiro trimestre de 2006 em relação a igual período do ano passado. Esse comportamento da produtividade interrompe um período de dois anos (2004 e 2005) no qual emprego e produção cresceram simultaneamente (ainda que em proporções diferentes) na indústria e mostra um retorno ao padrão dos anos anteriores, onde o crescimento da eficiência se ancorava no corte de emprego (menos horas trabalhadas).

 

Câmbio

Em recente evento promovido pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), executivos de grandes empresas exportadoras explicaram que o câmbio que hoje torna rentável suas exportações já é menor do que o necessário há dois anos. Isso ocorre porque a valorização do real provocou uma nova rodada de busca de eficiência. O pacote envolveu troca de fornecedores (nacionais por estrangeiros), rearranjo produtivo, novas ferramentas de gestão, aumento de preços em dólar e também redução de pessoal, ainda que o uso desta alternativa tenha variado muito de indústria para indústria.

 

Em outras palavras, estes empresários explicaram que antes (2004) eles precisavam de um câmbio entre R$ 2,80 e R$ 3,0 para remunerar adequadamente sua produção. Hoje, esse câmbio estaria entre R$ 2,50 e R$ 2,60, dependendo do setor. O ganho de produtividade embutido nas estatísticas do IBGE reflete, justamente, essa adaptação da indústria brasileira ao novo patamar do câmbio. Os mesmos dados do IBGE mostram, ainda, que apesar do menor número de horas trabalhadas e também da queda (quase estabilidade) do emprego na indústria, o salário médio real pago ao operário industrial aumentou 1,45% (acima da inflação) sempre na comparação entre o primeiro trimestre de 2006 e 2005.


 

 

Folha

 

Como este percentual é superior ao aumento da folha real total (que foi de 0,5%), ele indica que, no corte, foram preservados funcionários mais qualificados (melhor remunerados), e portanto, mais aptos a contribuir para o ganho de produtividade das empresas. Para a indústria exportadora, contudo, esse pequeno ganho em reais transferido ao trabalhador representou um aumento expressivo do custo do trabalho em dólar. Internacionalmente os economistas utilizam uma série — o custo unitário do trabalho — para medir a evolução do custo da mão-de-obra para diferentes setores da indústria em diferentes países.

 

O Banco Central faz este cálculo para a média da indústria brasileira e ele mostra que, nos 12 meses encerrados em março passado, esse custo subiu 31,5% para a indústria brasileira. Os ganhos de produtividade permitiram às empresas diminuir muito levemente esse custo e trazer a alta para 27%, na mesma comparação. Essa é a visão do ponto de vista do capital. Para o trabalhador, que recebe em reais, terá, o ponto de vista é outro (pelo menos enquanto seu emprego não for ameaçado). Seu poder de compra está maior, justamente pela ajuda do câmbio.


 

 

Caged

 

A valorização do real permitiu, por exemplo, uma queda de 35% nos celulares, 17% em computadores e 19% em televisores no acumulado dos 12 meses encerrados em abril, segundo a coleta de preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), vinculada a Universidade de São Paulo (USP). Estes produtos utilizam uma parcela expressiva de componentes importados, cujo preço caiu, acompanhando a valorização do real.  Não é de hoje que estatísticas de diferentes institutos e que refletem diferentes formas de investigar um mesmo indicador mostram sinais divergentes.

 

De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) do IBGE, o emprego industrial não cresceu e caiu 1,0% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Já pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o emprego industrial aumentou 1,1% neste ano, em relação ao estoque de empregos existentes no final de dezembro. São pesquisas diferentes, metodologias diferentes (o Caged, na verdade, não é uma pesquisa, mas um registro administrativo cuja regularidade permitiu que ele seja utilizado como um indicador econômico), comparando o momento atual com períodos diferentes.

 

Com informações do
jornal Valor Econômico