200 mil nepaleses manifestam apoio a guerrilheiros maoístas
Dezenas de milhares de rebeldes maoístas e seus simpatizantes saíram às ruas de Katmandu hoje para uma manifestação de apoio aos guerrilheiros. Os participantes empunhavam bandeiras vermelhas e gritavam palavras de ordem contra o rei
Publicado 02/06/2006 16:42
Cerca de 200.000 pessoas reuniram-se no Parque dos Mártires, no centro de Katmandu para a primeira manifestação de apoio aos guerrilheiros ao longo dos últimos anos.
"Livrem-se da monarquia. Queremos uma república", gritavam os participantes no início de cada uma das seis passeatas que culminaram no parque. Maoístas aliados a ativistas pró-democracia reverteram em abril o golpe de estado de fevereiro do ano passado, no qual o rei Gyanendra assumiu poderes totalitários e suprimiu liberdades políticas dos nepaleses.
Um novo governo assumiu e voltou a negociar com a rebeldes maoístas, que declararam cessar-fogo. Os guerrilheiros querem agora a convocação de uma eleição para estabelecer uma Assembléia Constituinte e redigir uma nova Constituição para o Nepal. "Nós continuaremos nossa luta, mas atingiremos nossos objetivos por meios pacíficos", declarou nesta sexta-feira Prasanta, líder dos guerrilheiros cujo nome real é Janardan Sharma.
A polícia acompanhou a manifestação à distância. Voluntários posicionados em esquinas orientavam os participantes e ajudavam a ordenar o trânsito de veículos pela capital.
Omissão do Estado
Na zona rural a presença do Estado limita-se à cobrança de impostos – sem prestação de serviços como contrapartida –, à arbitrariedade de uma polícia corrupta e às cédulas de dinheiro, com a efígie de um rei autoritário e impopular: a de Gyanendra, no poder desde o massacre de junho de 2001. Na cidade de Gorahi, que se encontra sob controle do exército, foi realizada no dia 7 de julho de 2003 uma parada organizada pelo aniversário do monarca: não havia um espectador sequer.
Além do mais, este Estado omisso, incentivado, em 1992, pelas instituições financeiras internacionais, lançou-se num processo neoliberal de privatizações, fazendo desaparecer os raros serviços existentes: água potável e segurança se tornaram oportunidades de mercado. Se uma nova classe de consumidores apareceu, após uma breve bonança econômica, a corrupção provocou a fuga dos primeiros investidores.
"Em tais condições, não surpreende que uma camada da população tenha recorrido à violência para mudar sua condição social", cita Cédric Gouverneur, em artigo publicado no Le Monde Diplomatique. Segundo ele, "desde 1992, citando os guerrilheiros do Sendero Luminoso, observadores vinham prevendo um cenário peruano para o Nepal."
"Pessoas ricas de Katmandu mencionam o terror maoísta, sem se dar conta que a guerrilha dispõe de uma base social substancial", salienta Rita Manchada, membro do South Asian Human Rights Forum (SAHRF) e jornalista da revista britânica Frontline.
Com agências internacionais